IORGE DE MONTE MAYOR naceo em a Villa do seu appellido distante quatro legoas de Coimbra situada nas margens do saudoso Mondego menos illustre pela antiguidade da sua Fundaçaõ que por ser berço de Varaõ taõ insigne como o congratula Francisco de Sà, e Miranda Cart. 8.

Vicino à quel tu monte dò has nacido

Cogi el ayre de vida, y del Mondego

La clara y tan sabrosa agua hè bevido.

Nos seus primeiros annos foy dos celebres Cantores da Cappella Real de Castella naõ somente pela melodia da voz, mas pela singularidade do estilo. Do Coro passou para a Campanha em que militou por algum tempo com credito do seu valor atè que preferindo o ocio de Apollo ao rumor de Marte buscou para habitaçaõ o Parnasso, já que outro monte lhe dera o berço, bebendo com taõ larga afluencia os influxos do furor poetico que sahio hum dos mais famosos alumnos desta divina Arte sendo a fermosura de huma honesta Dama, que venerou com o nome de Diana assim como Petrarcha a Laura, e Camoens a Natercia o argumento das suas elegantes, e amorosas expressoens. Com igual facilidade escrevia em proza, como em verso por ser ornado de penetrante, e fecunda discriçaõ. Os mayores eruditos de Italia, e Espanha contemplando em as suas obras a feliz uniaõ de agudos conceitos, e ternissimos afectos, com louvavel emulaçaõ as traduziraõ em os seus idiomas adoptandoo por este modo seu Patricio. Merecendo pelos singulares dotes de que o ornou a natureza mais larga vida a perdeo violentamente no Piemonte a 26 de Fevereiro de 1561. Para honorifico epitafio da sua sepultura se lhe grave o seguinte Soneto composto por Manoel de Faria, e Souza Fuent. de Aganip. Part. 1. Cent. 6. Sonet. 76.

Naceste Iorge no Venusto monte,

Que o mouro quiz fazer sua Colonia,

Adonde te entregou Musa Meonia

O numeroso Pay de Faetonte.

Na Iberia viveste da alta Fonte

Que outro Monte mais preza em Tracia Aonia;

E noutro monte da soberba Ausonia,

Passaste irrevocavel Acheronte.

Pequeno em mayor Monte em fim naceste

Mayor viveste em Monte mais ufano

E em Piemonte naõ pio feneceste:

De Monte em Monte andou teu paço humano;

Ó feliz tu seo espirito puzeste

Là no Monte do Olympo Soberano.

Com semelhantes elogios correspondem Lourenço Gracian Art. de Ingen. disc. 67. ingenuosamente afectuoso. Disc. 40. subtilissimo. Disc. 42. tan ingenioso como afectuoso Maced. Flor. de Espan. cap. 8. excel. 9. Ingenioso e na Eva, e Ave Part. 1. cap. 26. n. 7. foy dos primeyros, que cultivaraõ a lingua Castelhana. Faria Fuente. de Aganip. Part. 2. Advert. n. 10. naturalmente en la exposicion de los afectos amorosos ninguno le excede, y pocos le igualan Joan. Soar. de Brit. Theatr. Lusit. Liter. lit. G. n. 43. Vir ingenii celebratissimi, & amaenissimi. Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 1 . pag. 413. col. 1 . Exteris nemo alius quidem notior, aut propter stylum perspicuum, suave que laudatior. Sà, e Miranda Cart. 8. Monte mayor que al alto del Parnaso

Subsiste porque al nuestro Lusitano

Truxiesses dulces aguas del Pegaso.

Diogo Rarnires Pagan Poeta celebre no tempo de Carlos V. Rim. Var.

Nuestro Monte mayor dó sue nacido?

En la Ciudad del hijo de Laerte.

Y que parte en la humana instable suerte?

Cortezano, discreto, y entendido.

Su trato como fue? como há vivido.

Serviendo; y no acertó ni ay quien acierte.

Quien tan presto le dió taõ cruda muerte?

Imbidia, y Marte, y Venus lo hà movido.

Sus huessos onde estan? en Piemonte.

Porque? por nó los dar a patria ingrata.

Que le deve su patria? Immortal nombre.

De que? de larga vena dulce, y grata.

Y en pago que le dan? Talar el monte.

Y haurà quien le cultive? no ay tal hombre.

Ieronimo Sampere o aplaude com a seguinte Prosopopeya do Parnaso expressada neste Soneto.

Parnaso monte sacro, y celebrado,

Museo de Poetas deleytoso,

Venido al paragon con el famoso

Pareceme que estàs desconsolado.

Estoylo con razon, pues se han passado

Las Musas y su coro glorioso

A esse que es mayor Monte dichoso,

En quien mi fama y gloria se há mudado.

Dichosa fue en estremo su Diana,

Pues para ser del orbe más mirada

Mostró en el Monte excelso su grandeza

Alli vive con gloria soberana,

Por todo el Universo celebrada

Gozando celsitud, que es mas que alteza.

Lopo da Vega Carpio Laurel de Apollo Sylva 3.

Quando Montemayor con su Diana

Ennoblecio la lengua Castelhana

Lugar noble tuviera

Mas ya pasó la edad en que pudiera

Llamarse el mayor Monte de Parthenio. Compoz

La Diana primera, y segunda Parte. Consta de Verso. e Proza. Pamplona 1578.8. Antuerpia por la Viuda de Iuan Helsio 1580. 8. Valença 1602. Madrid por Iuan Flamengo 1602. 12. Barcelona 1614. 8. Lisboa por Pedro Crasbeeck. 1624.8. Madrid por Alonso Martin 1622. 8. Affonso Perez natural de Salamanca, e professor de Medecina compoz a 2. parte da Diana muito inferior no artificio, e estilo á de Montemayor, porem Gaspar Gil Polo escreveo a 3 Parte que mereceo geral estimaçaõ a qual verteo na lingua Latina Gaspar Barthio celebre Filologo, e sahio Valentiae apud Ioannem Mey 1574. 8. onde promete traduzir a primeira, e segunda Parte de Iorge de Montemayor cuja primeira parte sahio traduzida na lingua Franceza por Nicolao Colin. Rhemis na Officina de Ioaõ Toigny 1578. 8. A 2 e 3 Parte na mesma lingua por Gabriel Chapuiz. Lyon apres Lovis Cloquemin 1582. 12. e na lingua Alemáa por Harsdorfer. Norimberga. 1646.

Cancionero. Dedicado pelo Author a Iorge Fernandes de Cordova Duque de Sessa. Saragoça por la Viuda de Bartholameo de Naxara 1561. 12. Salamanca por Domingo de Portonariis 1571. & ibi por Iuan Perier 1572. 12. Consta de 4 Partes a 1 de Cartas; a 2. de Sonetos, Cançoens &c. a 3 de Eglogas. a 4 de Obras jocosas. Madrid por la Viuda de Alonso Gomez 1588. 8.

Traduzio na lingua Castelhana.

Las obras do Excellentissimo Poeta Ausias March Cavallèro Valenciano de la lengua Lemosina. Saragoça por Pedro de Naxara 1562. 8. Madrid por Francisco Sanches 1579. 8. et ibi por la Viuda de Alonso Gomes. 1588. 8.

Tres Sonetos, duas Elegias, e quatro Cançoens de Monte mayor estaõ no Cancioneiro do Padre Pedro Ribeiro escrito no anno de 1577. que se conserva na Livraria do Excellentissimo Duque de Lafoens.

Fabula de Piramo y Tisbe a qual chama Manoel de Faria, e Souza Comment. das Lusiad. de Cam. Cant. 7. Estanc. 52. dulcissimo Poema. Esta obra opinou com erro crasissimo Lope da Vega Carpio Laurel de Apollo Sylv. 3. que fora traduzida, ou furtada pelo nosso Montemayor de Ioaõ Baptista Marino celebre Poeta do Parnaso Italiano quando este tresladou no Poema que compoz do mesmo assumpto quanto delle tinha escrito Montemayor como afirma o referido Souza Comment. das Lusiad. Cant. 5. Estanc. 15. e tambem o deixou confirmado Iacinto Cordeiro Elog. dos Poet. Lusit. Est. 5.

Honrar la patria en mi nò es desatino

Que es ley y obligacion y esta lo es mia:

Mucho antes escriviò y nò el Marino

Monte Mayor, y assi como podia

Hurtarle a Tisbe ingenio tan divino!

Muchos produze nuestro Tajo y cria

Cuyas armas y letras las historias

Son clarin de la fama de sus glorias.

Corroborase com evidencia Chronologica, que naõ podia o nosso Montemayor aproveitar-se do Poema de Piramo, composto por Marino quando este naceo 8 annos depois da morte de Montemayor; pois fallecendo Marino a 26 de Março de 1625. quando contava 56 annos de idade como consta do seu Epitafio, que está na Igreja de Napoles dos PP. Theatinos, e Montemayor a 26 de Fevereiro de 1561. claramente se colhe, que eraõ passados 8 annos de morto quando sahio à luz do mundo Marino, e que este foy o que extrahio do nosso Monte mayor os melhores conceitos com que ornou ao seu Piramo, contra a asseveraçaõ de Lope da Vega, que miseravelmente se enganou quando escreveo no Laurel de Apollo Sylv. 3.

Con que escriviò su Piramo divino

Hurtado, ó traduzido de Marino.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]