IOZÉ BENTO DOS SANTOS filho de Ioaõ Francisco, e Antonia dos Santos naceo em a Freguezia dos Santos Reys do Campo grande suburbio da Cidade de Lisboa a I9 de Março de 1718. Tendo estudado Gramatica, e Rhetorica no Collegio de Santo Antaõ impellido do dezejo de ver paizes estranhos partio fugitivo da Casa de seus Pays a 18 de Ianeiro de 1735. e depois de haver discorrido por toda a Italia, e vizitado os mais celebres Santuarios de Roma vindo pelo Reyno de França foy roubado em a Cidade de Arles por quatro dezertores Espanhoes. Reduzido ao ultimo dezemparo continuou a jornada até Pamplona antiga Corte do Reyno de Navarra, e por falta de passaporte sendo julgado dezertor o obrigaraõ a servir nos exercitos delRey de Espanha com cominaçaõ de ser lançado a Galés, se naõ obedecesse. Para evitar mayor calamidade abraçou a vida militar, e nella pelo espaço de dous annos, e quatro mezes ocupou os lugares de Furriel, Caravineiro, Sargento, e tendo patente de Alferes da Companhia do Coronel D. Fernando Caxigal illustre morgado do Principado das Asturias, a naõ aceitou procurando com todo o empenho faculdade para se restitubir à sua patria, porem para que nunca voltasse a ella foy mandado para o Presidio de Fuente Rabia na Provincia de Biscaya. Considerando que se lhe fazia impossivel a liberdade escreveo a soa Mãy para que logo lhe mandasse huma declaraçaõ pela qual constasse ser elle adicto á sua Parochia, e juntamente excomunhaõ fulminada pelo coadjutor do Emminentissimo Patriarcha de Lisboa D. Valerio da Costa de Gouvea Arcebispo de Lacedemonia. Intimada a excomunhaõ ao Coronel por hum Conego da Cathedral de Pamplona promptamente lhe concedeo licença para se restituir á sua patria, e vindo embarcado em navio Inglez foy prizioneiro por hum Corsario Castelhano no Cabo da Roca de Cintra, e julgando os Espanhoes que era lingua dos Inglezes foy levado a Curunha donde amparado da noute se ocultou até chegar a Lisboa no mez de Março de 1740. No anno seguinte recebeo as Ordens Sacras, e no de 1743. as de Presbitero. Teve natural inclinaçaõ para a Poezia Latina da qual produzio diversas obras sendo a seguinte a que mereceo a luz publica.
Praestantissimo Heroi praeconiis satis numquam commendando, praeclarissimo Ecclesiae Principi ubique gentium veneratione magna colendissimo Excelentissimo ac Reverendissimo D. D. Valerio Costio Gouvea in Lacedemonensem Archiepiscopum maximo totius Lusitaniae plausu feliciter inaugurato. Ulyssipone ex Typog. Pinheiriensi Musices. 1741. 4. Consta de dous Epigrammas latinos, e hum Poema Encomiastico.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]