P. IOZÉ FERREYRA naceo em a maritima Villa de Peniche do Patriarchado de Lisboa a 30 de Março de 1693. sendo filho segundo entre dez Irmãos de Jozè Ferreira Souto, e Maria Quaresma Franca descendente de familia nobre. Aprendeo os primeiros rudimentos na patria com Pedro Martins Pereira taõ perito na lingua Latina como versado no exercicio de virtudes heroicas. Passando com seus Pays a Lisboa continuou o estudo das Humanidades em o Collegio de Santo Antaõ onde atrahido do instituto da Companhia de IESUS se alistou nella a 17 de Mayo de 1708. Acabado o curso da Filosofia em a Universidade de Evora onde recebeo o gráo de Mestre em Artes dictou Humanidades em Lisboa pelo espaço de sinco annos onde deu a conhecer a suavidade da sua Musa em diversos Poemas Latinos. Da amenidade das letras humanas passou a penetrar os mysterios da Theologia que depois ensinou no Collegio de Coimbra havendo lido Moral no Collegio da Ribeira grande. Para o ministerio do pulpito teve particular genio como testemunharaõ as Cidades de Lisboa, Coimbra, Evora, e a Ilha de S. Miguel que foraõ os Theatros das suas Declamaçoens Evangelicas. Inspirado superiormente com o ardente zelo de passar ao Iapaõ para conduzir almas ao gremio da Igreja Catholica suplicou com repetidas instancias ao Padre Geral lhe concedesse faculdade para executar taõ sagrada resoluçaõ; difirio algum tempo o Geral à suplica até que instado condescendeo. Partio de Lisboa a 31 de Mayo de 1741. com sinco Náos de que era Commandante Antonio de Saldanha, e havendo navegado com feliz jornada naõ permitio a divina Providencia que chegasse à dezejada baliza dos seus votos pois acometido de grave doença que se fez rebelde a todos os remedios, recebidos os Sacramentos espirou a 29 de Agosto do dito anno no esparcel do Cabo da Boa Esperança com geral sentimento dos seus companheiros quando contava 48 annos de idade, e 23 de Religiaõ. Dos muitos Sermoens que prègou unicamente se fez publico o seguinte.
Sermaõ da Profissaõ da Reverenda Madre Francisca Quiteria de IESUS, a qual tendo vivido alguns annos em estado de pupilla no Convento da Esperanca da Cidade de Pontedelgada na Ilha de S. Miguel passou para o de S. Ioaõ Evangelista da mesma Cidade. Lisboa por Pedro Ferreira. 1728. 4.
Entre as Obras Latinas que compoz em Verso, e proza se distinguiraõ.
Oratio Sapientiae habita in Collegio Ulysyponensi Magni Antonii cum esset primarius litterarum humaniorum magister. 4. M. S.
Vota D. Pauli juxta illud. Cupio dissolui Ad Philip. I. em Verso elegiaco.
Começa.
Qualis in umbroso nemoru Philomela recessa
Aut canit, aut virides laeta pererrat agros.
Libera numc campis, ripis modo gavdet, et illi
Assurgunt placidi flabra canora Noti
Bellum Tartareum. He huma descripçaõ que comprehende 500 Versos heroicos da conspiraçaõ do inferno contra Santo Antaõ.
Começa.
Infernas acies, Erebi que educta caminis
Audacter vos monstra sequar, medium ire per ignem
Per que tuos Cocyte Lacus, atque ostia Ditis
Irruere, &caecos Barathri penetrare recessus
Pierius mentem calor imperat &c.
Depois do preludio começa a narraçaõ da batalha.
Viderat obscuris Stygiis moderator ab umbris
Thebaidas inter late clarescere sylvas
Ruricolam, qui sponte domos, patriosque Penates
Abjiciens, nemus ignotum, ac spelaea ferarum
Incolere est ausus: totum hinc ad praelia vulgus
Taenarii occlusum adytis, &quidquid Averni
Igne calet, superis que infestum provocat Orcum &c.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]