D. ANTONIO ALVARES DA CUNHA, não menos illustre por sangue que esclarecido por seu talento, foi 15.º senhor de Taboa, Ouguella etc., Commendador da Ordem de Christo, Coronel das Ordenanças da Côrte, Guarda mór da Torre do Tombo, um dos fundadores e Secretario da Acad. dos Generosos, etc., etc. – N. em Gôa em 1626, e m. em Lisboa a 26 de Maio de 1690, deixando numerosa descendencia. – E.

400) (C) Campanha dePortugal pela provincia doAlemtejo na primavera do anno de 1663, governando as armas d’aquella provincia D. Sancho Manuel, Conde de Villa Flor. Lisboa, por Henrique Valente de Oliveira 1663, 4.° de 104 pag. – É pouco vulgar esta obra (veja-se o que digo no artigo André de Albuquerque Ribafria) e o seu preço, quando bem conservada, tem sido de 360 até 600 réis. Acha-se porém reproduzida nos Applausos Academicos da batalha do Ameixial, de que foi collector o mesmo D. Antonio Alvares da Cunha (V. Applausos Academicos etc.) e ahi mesmo vem algumas outras obras d’elle.

401) (C) Certamen epithalamico publicado na Academia dos Generosos no felicissimo casamento do sempre augusto e invicto Monarcha D. Affonso VI com a Princeza D. Maria Francisca Isabel. – Pelo Academico Ambicioso e Secretario da Academia. Lisboa, por João da Costa 1666. 4.º de 25 pag. É uma larga silva. Tem um exemplar o sr. Figaniere.

402) (C) Obelisco Portuguez chronologico, genealogico e panegyrico, ao fausto dia do baptismo da serenissima infanta D. Isabel Maria Josepha. Lisboa, por Antonio Craesbeeck de Mello 1669. 4.º de 130 pag. – Preço de 240 até 400 réis. Pouco vulgar. O sr. Figaniere possue um exemplar, e eu tenho outro.

403) (C) Carta a João Nunes da Cunha, Conde de S. Vicente… quando foi eleito Vice-Rei da India. Lisboa, por Antonio Craesbeeck de Mello, sem anno. 4.º – É escripta em tercetos. Edição rara, de que tem um exemplar o dito sr. Figaniere. A obra sahiu reproduzida no tomo II da Fenix Renascida, pag. 263 a 289.

404) (C) Escola de verdades aberta aos Principes na lingua italiana pelo P. Luis Juglaris, da Companhia de Jesus, e patente a todos na portugueza pelo traductor. Lisboa, pelo mesmo 1671. 4.º de LXXII- 499 pag. – D’esta obra que Francisco Xavier de Oliveira nas suas Memorias qualifica de rara, diz o benemerito professor Pedro José da Fonseca: «É uma das boas traducções entre as poucas taes que temos dos livros modernos, escriptos em outro idioma vulgar, e que o nosso póde sem detrimento seu apropriar-se… Nem ainda n’aquelle tempo um tal exercicio (o de traductor) se havia constituido occupação ou da ignorancia futilmente ambiciosa do titulo de escriptor, ou da indigencia assalariada pela cubiça dos livreiros.» – Não obstante corre no mercado pelo preço ordinario de 400 a 600 réis, e o exemplar que d’ella tenho, porque era falto de rosto, só me custou 240 réis.

D. Antonio Alvares da Cunha é tido pelos criticos em conta de auctor culto, e a sua linguagem é correcta, e adequada aos assumptos. Como poeta da eschola castelhana (diz Costa e Silva) nos poucos versos que d’elle nos restam pensa com força, exprime‑se com energia, sabe colorir as suas idéas, metrifica bem, e rima com facilidade.

Algumas poesias suas vem no Compendio panegyrico da Vida do Marquez de Tavora (V. D. Luis de Menezes) e n’uma collecção de versos que se imprimiu por occasião do nascimento do infante D. Pedro (depois rei D. Pedro II) em 1648.

Barbosa attribue-lhe além das obras já citadas outra com o titulo: Rebelião de Ceylão, que diz fora impressa por Antonio Craesbeeck de Mello 1689. 4.º, indicando no modo por que escreve o titulo que ella é em portuguez. Estou hoje plenamente convencido de que tal livro não existe, e que houve inadvertencia em Barbosa, ou informação errada que lhe deram, confundindo aquella obra com a que sob o titulo Rebelion de Ceylan escreveu em castelhano João Rodrigues de Sá e Menezes, e foi impressa pelo dito Craesbeeck, mas em 1681, da qual tenho um exemplar, e vi alguns outros. O que muito confirma a opinião em que estou a este respeito é que o compilador do Catalogo da Academia, que tão cegamente costuma guiar-se por Barbosa, chegando a este ponto, desamparou-o, e não mencionou no Catalogo entre as demais obras de D. Antonio Alvares a tal Rebelião de Ceylão: nem pode demover-me do meu proposito o vel-a mencionada na Bibliothéque Asiatique et Africaine de Mr. Ternaux-Compans como impressa em 1689; pois é sabido que este erudito bibliographo nem sempre poude ver (como elle confessa no prologo) as obras que descreve, e por isso transcreveu muitas vezes os titulos d’ellas, pelo modo que os achou nos auctores de que se serviu para a sua composição.

 

[Diccionario bibliographico portuguez, tomo 1]