D. IOZÉ DE MELLO filho illegitimo de D. Francisco de Mello II. Marquez de Ferreira, e Conde de Tentugal naceo em a Cidade de Evora, que depois illustrou com virtudes heroicas, e açoens insignes sentado na sua Cadeira Archiepiscopal. Foy criado incognitamente na Villa de Moura donde com o affectado nome de Jozè Pimenta passou à Universidade de Coimbra, e entre a familia de seu Irmaõ D. Joaõ de Bragança Bispo, que foy de Vizeu aplicado ao estudo dos Sagrados Canones mereceo pela capacidade do seu talento laurear-se Doutor em taõ sagrada Faculdade. Tanto, que foy conhecido por filho do Marquez de Ferreira passou à Corte de Madrid para que o Monarcha, que dominava esta Coroa atendesse ao seu merecimento, que se augmentava com a alta ascendencia dos seus Mayores. Passados quatro annos de assistencia em Madrid o nomeou Filippe III. Agente de Portugal na Curia Romana, e posto, que esta incumbencia era indecorosa á sua pessoa a aceitou por naõ incorrer no desagrado daquelle Principe, que esperava propicio à sua fortuna. Partio a 28 de Junho de 1604. e logo, que chegou à Curia foy benevolamente hospedado por D. Joaõ Fernandes Pacheco V. Marquez de Vilhena, e Duque de Escalona Embaxador delRey Catholico cazado com a Senhora D. Serafina filha do Duque de Bragança D. Joaõ o I. com quem D. Jozè de Mello tinha parentesco, e o levou à presença de Clemente VIII. do qual foy recebido com grandes distinçoens ainda mais pela authoridade da pessoa, que pelo caracter do ministerio. No espaço de quatro annos, que assistio na Curia concluio graves negociaçoens em obsequio da Coroa Portugueza valendo-se do seu profundo talento, e natural actividade para vencer todos os obstaculos maquinados pela sagacidade Romana. Restituido ao Reyno em o primeiro de Outubro de 1608. com a gloria de deixar celebrado o seu nome na primeira Corte do Mundo se recolheo a Evora donde foy promovido a Bispo de Miranda. Nesta Diocese se ensayou para brilhar em mayor theatro a sua vigilancia pastoral qual foy o Arcebispado de Evora onde fez a primeira entrada a 4 de Novembro de 1611. De todas as virtudes Episcopaes foy animado compendio zelando a honestidade das donzellas, socorrendo a miseria das viuvas, e amparando a Orfandade dos pupillos. Para ministros do Altar elegia aquelles que tinhaõ a integridade dos custumes com a practica das sciencias. Dispendeo grande copia de dinheiro na fundaçaõ, e reedificaçaõ de muitos Templos para culto da Divina Magestade sendo o principal o Convento dos Remedios da Reformada familia do Carmelo onde descansaõ as suas  illustrissimas cinzas. Reduzio a elegante symetria o Palacio Archiepiscopal para digna habitaçaõ de seus sucessores, como tambem a Caza de Campo no sitio de Valverde, que de inculto bosque o converteo em delicioso Jardim. Augmentou com generosa maõ os dotes das Donzellas, que habitavaõ no Collegio de S. Manços, que principiara seu Tio o Veneravel D. Theotonio de Bragança, e seu antecessor na Mitra, e lhes deu Estatutos para seu governo a 20 de Setembro de 1625. Enfermando gravemente como conhecesse ser chegado o termo da sua perigrinaçaõ se preparou com todos os Sacramentos para a ultima hora em que piamente espirou a 2 de Fevereiro 1633. com geral sentimento das suas ovelhas. Jaz sepultado na Igreja do Convento dos Religiosos da Cidade de Evora com o seguinte Epitafio.

Sepultura de D. Jozè de Mello filho do Marquez de Ferreira D. Francisco I. deste nome, Bispo, que foy de Miranda, Arcebispo de Evora, Fundador do Padroado deste Convento com seis Missas Quotidianas, e tres Oficios cada anno por sua alma, de seus Pays, Irmãos, Padroeiros, sucessores, e parentes. Falleceo a 2 de Fevereiro de 1633.

Fazem delle honorifica mençaõ Fr. Joaõ do Sacramento Chron. dos Carm. Descals da Prov. de Portug. Tom. 2. liv. 5. cap. 19. até 24. Souza Hist. Gen. da Caz. Real Portug. Tom. 10. liv. 9. cap. 8. Fonceca Evor. Glorios. p. 306. Publicou.

Constituiçoens do Arcebispado de Evora. Madrid. 1622. fol. Estas Constituiçoens, que fizera o Infante Cardial D. Affonso reformou no Synodo celebrado em 1565. D. Joaõ de Mello, as quais innovou, e reformou D. Jozè de Mello como escreve Fr. Joaõ do Sacramento no lugar assima allegado liv. 5. cap. 22. §. 526.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]