V. P. IOZÉ VAZ. Naceo na Aldeya de Sacoàle na Provincia de Salcete da India Oriental a 21 de Abril de 1651. onde teve por Progenitores a Christovaõ Vaz, e Maria de Miranda de geraçaõ Bracmanes, taõ morigerados nos custumes, como abundantes dos bens da fortuna. Nos primeiros annos deu claros sinaes de Deos o ter destinado para Varaõ Apostolico exercitando açoens na idade pueril, que cauzavaõ admiraçaõ a todo o genero de pessoas. Estudadas as letras amenas no Collegio de Goa dos Padres Jesuitas aprendeo as severas no Collegio de Santo Thomaz de Aquino onde por informaçaõ dos Mestres sahio consumado Philosofo, e Theologo. Conferio-lhe as Ordens de Presbitero em o anno de 1676. o Illustrissimo Arcebispo Primas D. Fr. Antonio Brandaõ dandolhe faculdade para confessar, e prègar em cujos ministerios mostrou o sublime talento de que o ornara a natureza, sendo ouvido com aplauzo no pulpito, e ouvindo com frequencia os penitentes em o Confesionario entre os quais se quiz numerar o Governador do Estado D. Rodrigo da Costa, que o venerava com summo respeito. O primeiro Theatro das suas fadigas apostolicas foy o Reyno de Canará que tem de extensaõ trinta legoas e quasi noventa de circuito onde instruindo com saudaveis documentos a infinitas almas erigio huma Igreja em Barcelor, e outra em Gongalym dedicadas a Maria Santissima, e fabricou varias Ermidas para nellas fomentar a piedade dos Fieis. Restituido a Goa se deliberou a preferir o Claustro ao seculo elegendo a Congregaçaõ do Oratorio onde recebeo a roupeta a 25 de Setembro de 1685. e nella introduzio os Institutos compostos para a Congregaçaõ de Lisboa pelo V. Padre Bartholameo do Quental de quem humildemente alcançou que lhos remetesse, os quais confirmados pela Santidade de Clemente XI. a 26 de Novembro de 1706. observa exactamente a Congregaçaõ de Goa. Naõ podia descansar por algum tempo o seu espirito para beneficio do proximo, e sahindo segunda vez de Goa derigio a jornada ao Reyno do Canará para consolar aquellas almas que foraõ primicias do seu zelo, e em 3 de Ianeiro de 1687. partio para o Malabar buscando a Ilha de Ceylaõ anciosa baliza de seus apostolicos disvelos. Depois de padecer com summa paciencia neste caminho gravissimas molestias chegou a Jafana Peninsula ao Norte de Ceylaõ onde pela grossaria do sustento que como era mendigado o comia frio, e duro se lhe descompoz de tal forte o estomago que quasi se sentio reduzido a exahalar o espirito, de cujo perigo escapou milagrosamente sem embargo da opposiçaõ de Henrique Wanrey Comissario Geral da Ilha de Ceylaõ que como acerrimo sequaz da feita Lutherana perseguia ferosmente aos professores da Fè Catholica Romana, fazendo, que entre os espinhos da heretica pravidade frutificasse a semente evangelica. Semelhante fruto colheo na Ilha de Potulaõ em que confirmou na Fè a mil Christaõs que o eraõ em o nome pela perversa, e abominavel communicaçaõ dos Hereges, donde passou à Corte delRey de Candea, e sendo acuzado por espia o prenderaõ em hum tenebrozo carcere atè que justificada a sua innocencia edificou huma Igreja com o titulo de Nossa Senhora da Conversaõ dos Fieis pelos que tinha o seu zelo agregado ao rebanho do divino Pastor. Na Cidade de Columbo reduzio muitos hereges, compoz animos discordes, celebrou varios matrimonios, e em Candea assistio com ardente charidade a huma epidemia gerada do mal de bexigas de que livrou a innumeraveis infermos. Havendo como fiel Operario cultivado taõ agrestes vinhas contra a infernal confederaçaõ de hereges e Gentios chegou o tempo de alcançar premio merecido. Provada a sua tolerancia com huma larga doença em que naõ tinha membro izento de molestia recebeo os Sacramentos com grande ternura, cantou o Terço, orou meya hora, e pedio a Unçaõ cujas preces ajudou a recitar com voz intelligivel, e abraçado com hum Crucifixo a que tinha aplicado indulgencia plenaria o Cardial de Tournon Nuncio, e Vizitador Geral Apostolico da India, e China, placidamente espirou a 16 de Ianeiro de 1711. quando contava 60 annos de idade, e 26 de Congregado. Tanto que na Corte de Candia se divulgou a morte do V. Padre concorreo innumeravel povo a venerar o seu Cadaver, naõ havendo pessoa alguma que pelos olhos naõ declarasse o sentimento da falta deste universal Bemfeitor. Tres dias esteve exposto para satisfazer aos dezejos dos Christaõs, que de diversas Aldeyas, e outros lugares distantes tres, e quatro dias de caminho concorreraõ. No terceiro dia antes de se entregar à terra lhe recitou huma Oraçaõ funebre, e Panegyrica o P. Jacome Gonzalves da mesma Congregaçaõ de quem se fez larga memoria em seu lugar, em que elegantemente narrou as virtudes deste insigne Varaõ as quais se podem ler, e admirar na sua Vida escrita pelo Padre Sebastiaõ do Rego que publicou no anno de 1744. Escreveo
Carta escrita em Candia a 17 de Agosto de 1708. a seu sobrinho Iozé Vaz Diacono da Congregaçaõ do Oratorio de Goa. Sahio Impressa na sua Vida desde p. 124. até 156.
Cartas escritas de Candia a 15 de Janeiro de 1711. ao Padre Jozè de Menezes da Congregaçaõ do Oratorio. Na mesma Vida desde pag. 262. até 265.
Vocabulario da lingua Chingala. M. S.
Obras Espirituaes para instrução dos Missionarios na lingua Tamul. M. S.
Destas duas obras faz mençaõ o Padre Rego na Vida do Servo de Deos a primeira a pag. 69. e a 2. a pag. 193.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]