IOZÉ DE SOUZA naceo em Lisboa a 19 de Agosto de 1680. sendo filho de Sylvestre de Araujo, e Catherina de Souza. Ainda naõ contava hum anno de nacido quando pelo contagioso mal de bexigas foy privado do mais nobre sentido, qual era o da vista, mas roubando-lhe a luz dos olhos lhe augmentou a do entendimento com que penetrou as sciencias. No Collegio patrio de Santo Antaõ cultivou as letras humanas de que teve por Mestre ao Padre Jeronimo de Castilho insigne professor da lingua Latina, que tanto estimava a habilidade deste discipulo, que para, decisaõ de alguma duvida mandava ao seu Cego, que a resolvesse. Sendo semelhante a Homero na cegueira o excedeo na metrificaçaõ compondo com admiravel enthusiasmo, e natural cadencia nas linguas Latina, materna, e Castelhana quando aquelle celebre Grego unicamente no patrio idioma compoz os seus Versos. Mayores progressos fez a sua aplicaçaõ na Filosofia, e Theologia defendendo publicamente Conclusoens de huma, e outra Faculdade com tal comprehensaõ das duvidas, e promptidaõ de respostas, que era escusado o Mestre para patrocinar estes actos litterarios de que eraõ plausiveis testemunhas innumeraveis assistentes. Para naõ haver Aula no Collegio de Santo Antaõ que se naõ jactasse de taõ grande discipulo frequentou a da Mathematica merecendo-lhe tanto disvelo as demonstraçoens desta insigne Faculdade, que della sustentou Conclusoens publicas donde todo o auditorio sahio admirado considerando, que pudesse profundamente instruir-se em huma sciencia em que para se explicar por figuras lhe eraõ precisos os olhos. Foy versado na Theologia Polemica, que ouvio no Collegio de S. Patricio; como na Historia Ecclesiastica, e Secular, Chronologia, Musica, Oratoria, e Poetica de que teve por theatro a Academia dos Anonymos da qual foy Presidente, e Collega sendo igualmente estimaveis as suas composiçoens serias, e jocosas animadas de espirito sublime, locuçaõ casta, e estilo eloquente. Para se instruir em taõ diversas sciencias ainda que falto dos bens da fortuna sempre adversa aos estudiosos, comprava muitos livros de que formou huma selecta livraria, valendo-se dos olhos de algumas pessoas para aprender pelos ouvidos o que liaõ, para cujo fim naõ receando a inclemencia do inverno, e muito menos o tempo da noute fautora de varios desastres, buscava a alguns amigos ainda, que habitassem muito remotos da sua Caza. Todo este insaciavel desejo de saber se illustrava com a practica de virtudes Catholicas frequentando os Sacramentos na Caza professa de S. Roque, e assistindo quotidianamente ao Sacrificio da Missa com atençaõ devota. Foy cordial devoto de Maria Santissima, e de seu casto Espozo S. Jozè aos quais elegeo por Protectores da ultima hora. Tendo passado a vida com inalteravel animo entre as opressoens da pobreza foy assaltado de hum difluxo, que fazendo-se rebelde aos medicamentos lhe annunciou ter chegado o termo da sua peregrinaçaõ, recebidos devotamente os Sacramentos espirou a 9 de Dezembro de 1744. Quando contava 64 annos de idade, 3 mezes, e 20 dias de idade. Jaz sepultado na Parochial Igreja da Encarnaçaõ devendo gravarse na sepultura para eterna recomendaçaõ do seu nome o eloquente elogio, que à sua memoria dedicou o erudito Francisco Iozè Freyre. Das suas obras em prosa, e verso escritas na lingua Latina, e materna se podia formar hum volume de justa grandeza, e somente se fizeraõ publicas nos Progressos Academ. dos Anonym. de Lisboa &c. Lisboa por Jozè Lopes Ferreira. 1718. 4. as seguintes.
Discurso Academico sobre o que disse Vasco da Gama aos Portugueses, que o acompanhavaõ em hum tremor do mar. a pag. 330.
Soneto a pag. 16. Soneto. pag. 37. Decimas. pag. 52. Soneto. pag. 57. Soneto pag. 107. Romance. pag. 122. Sextilhas. 149. Soneto pag. 154. Soneto p. 162. Romance. pag. 188. Romance. pag. 214. Soneto. pag. 216. Soneto pag. 254.
Romance. pag. 299. Soneto. pag. 311. Soneto. pag. 333. Soneto. pag. 337.
Colleçaõ de algumas obras posthumas em Prosa, e Verso. Lisboa. Na Regia
Officina Sylviana, e da Academia Real. 1746. 8.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]