D. IOZÉ PEREYRA DE LACERDA naceo em a Villa de Moura da Provincia Transtagana a 7 de Iunho de 1661. sendo seus Progenitores Francisco Pereira de Lacerda, e D. Antonia de Brito Fidalgos de conhecida nobreza, que se augmentou com a produçaõ deste filho a quem a natureza dotou de engenho perspicaz, entendimento agudo, e feliz memoria para comprehender, e ensinar as sciencias amenas, e severas de que teve por theatro a Universidade de Coimbra onde recebidas as insignias doutoraes na Faculdade dos Sagrados Canones foy Oppositor às Cadeiras, e substituhio a liçaõ de muitas com aplauzo geral daquella famoza Athenas. A integridade da vida com a profundidade da literatura o habilitaraõ para ocupar os lugares da Jerarchia Ecclesiastica sendo Promotor, Deputado, e Inquisidor da Inquisiçaõ de Evora provido em 2 de Setembro de 1692. Donde passou a Prior da Igreja de S. Lourenço de Lisboa da qual fora seu antecessor o Emminentissimo Patriarcha D. Thomaz de Almeyda. Crecendo com os annos os seus merecimentos foy nomeado Prior mòr da Ordem militar de San Tiago de cuja dignidade tomou posse no Real Convento de Palmella a 4 de Novembro de 1709. Subio à Cathedral do Algarve sendo sagrado em o Convento da Santissima Trindade de Lisboa a 30 de Agosto de 1716. Foy Executor da Bulla Aurea para a ereçaõ do Patriarchado de Lisboa concedida pela Santidade de Clemente XI. que o creou Presbitero Cardial da Igreja Romana no Consistorio de 19 de Novembro de 1719. e o nosso Monarcha reynante o nomeou em 1721. Conselheiro de Estado. Em 9 de Mayo deste anno sahio juntamente com o Cardial da Cunha da Barra de Lisboa para votar no Conclave pela morte de Clemente XI. e tanto, que chegou à Curia foy conduzido pelo Cardial Piazza ao Consistorio onde lhe deu Innocencio XIII. que já achou eleito, o chapeo, e anel Cardinalicio, e o titulo de S. Suzana, e o nomeou para as Congregaçoens do Concilio Tridentino, Immunidade Ecclesiastica, Indice, e Indulgencias, em que mostrou a profunda noticia de huma, e outra Jurisprudencia, como tambem a madura ponderaçaõ com que observava, e a prompta facilidade com que resolvia os negocios mais graves. Em obsequio da sua natural eloquencia, e vasta erudiçaõ o elegeo a Academia dos Arcades seu Collega com o nome de Retinio, e denominaçaõ de Sidiato dos Campos vizinhos à Cidade de Sida na Laconia. Os Porcionistas do Collegio Clementino, que saõ todos Fidalgos da primeira Nobreza de Italia lhe dedicáraõ huma Festa Academica assistida de vinte, e duas Purpuras Romanas retribuindo este obsequioso aplauzo com hum conto de reis, que se entregou aos Directores do Collegio precedendo huma magnifica meza de iguarias, e licores. Por morte de Innocencio XIII. entrou no Conclave sendo elle hum dos primeiros votos para a prudentissima eleyçaõ de Benedicto XIII. a 29 de Mayo de 1724. No anno seguinte que era Santo fez no seu Palacio hum Hospicio para doze Clerigos pobres, que de Hespanha partissem a ganhar as indulgencias de taõ grande Jubileo. Instado das suas ovelhas para que declarasse de guarda na Cidade de Faro, e seu termo o dia 4 de Dezembro dedicado à Virgem, e Martyr Santa Barbara a qual tinhaõ eleito por Protectora contra os Terramotos, e tempestades, difirio benevolamente a suplica taõ justificada. Voltando para Portugal no anno de 1728. depois de assistir algum tempo na Corte partio para o seu Bispado a satisfazer às obrigaçoens do Officio pastoral. Na Vizita, que começou a 26 de Abril de 1738. se sentio taõ gravemente molestado, que se recolheo ao Palacio de Faro a 24 de Junho onde continuando a gravidade da doença recebeo o Santissimo por Viatico, que acompanhou o Cabbido de quem com grande ternura se despedio, e chegando 29 de Setembro espirou às 10 horas da noute quando contava 77 annos tres mezes, e vinte, e dous dias de idade. Jaz sepultado na Cathedral onde a 20 de Outubro se lhe fizeraõ sumptuozas Exequias recitando a Oraçaõ funebre o Mestre Fr. Jozé Lobo Mercenario Descalso natural do Algarve. Fazem illustre memoria da sua Emminentissima pessoa o Padre D. Manoel Caetano de Souza Cathalog. Hist. dos Card. Portug. pag. 41. Sá Memor. Hist. dos Escrit. Do Carm. da Prov. de Portug. pag. 307. §. 451. e pag. 317. §. 464. e 465. D. Ant. Caet. de Souza Hist. Gen. da Caz. Real Portug. Tom. 10. pag. 901. D. Jozè Barbosa Addiçoens às Not. de Portug. compostas por Manoel Severim de Faria pag. 275. E Marangoni Thesaur. Paroch. Tom. 1. pag. 187. Compoz.
Memoriale Santissimo Domino Nostro D. Papae Benedicto XIII. Oblatum circa visitationem omnium Ecclesiarum etiam Cardinalium Titulorum hujus almae urbis Sanctitatis suae jussu per Delegatos suos facienda. Romae Typis Reverendae Camarae Apostolicae. 1725. 4.
Discursos circa Protectoriam, quam gerit, Ven. Monasterii S. Susanae hujus almae Urbis. Ibi per eamdem Officinam. 1726. 4.
Dezempenho Civil da Verdade Canonica, e Moral contra os que a pertencem escurecer. Feita em Faro a 15 de Dezembro de 1732. Consta de 92 §. fol. Nao tem lugar, nem anno da Impressaõ mas do caracter se conhece ser estampada em Castella. O argumento deste papel he contra os Monges Bernardos naõ quererem, que as Patentes dadas pelos seus Prelados para confessarem as Freyras da sua Ordem fossem approvadas pelo Bispo da Diocese em que ellas assistem.
Carta para o Reverendissimo Padre Henrique de Carvalho Provincial, que foy da Sagrada Companhia de IESUS, e Confessor do Principe Nosso Senhor escrita de Faro a 6 de Janeiro de 1734. fol.
Verdadeira copia de huma Carta para o Reverendissimo Padre Henrique de Carvalho da Sagrada Companhia de IESUS. Faro 28. De Fevereiro de 1734. fol. Huma, e outra he sobre a controversia precedente sem anno nem lugar da impressaõ.
Sermoens Varios prègados por todo o discurso da sua vida achandose em varios lugares, e empregos de que o fez digno o seu justo merecimento. Na Officina de Iozé de Almeyda 1738. 4. No fim está Carta escrita a hum amigo seo quando tomou o Estado Ecclesiastico.
Controversia movida na Corte de Lisboa em Iulho de 1729. Defende naõ poderem ser citados os Cardiaes para nenhum genero de letigio. Naõ tem lugar nem anno da Impressaõ. fol.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]