ANTONIO D’ABREU, de cujas particularidades só sabemos por Barbosa, que tivera a antonomasia d’Engenhoso, que fora filho de Duarte de Abreu e Castello Branco, senhor da quinta da Charneca, e de Brites Teixeira; e que militara na India juntamente com Luis de Camões, com quem tivera intimo tracto d’amigo. Em seu nome se publicou:

367) Obras ineditas de Antonio de Abreu, amigo e companheiro de Luis de Camões no estado da India. Fielmente extrahidas do seu antigo manuscripto, que possuimos em papel asiatico. Lisboa, na Impr. Regia 1805. 8.º de 51 pag. – Salgado na Bibl. Lusit. Escolhida cita em vez d’esta edição uma com a data de 1807.[1] Existirá ella? Parece‑me que não, e que só por inadvertencia ou erro typographico se escreveria aquella data.

O editor d’estas obras foi o notorio Antonio Lourenço Caminha, cuja consciencia litteraria não era muito apertada, e por isso não sei até que ponto se devam reputar authenticas e genuinas as poesias, que encerra este pequeno volume, e que elle attribue a Antonio d’Abreu. O salvo-conducto de que se acompanha, allegando o seu antigo manuscripto em papel asiatico, é mais um motivo que me induz a suspeitar alguma traficancia n’este negocio. Revendo as taes poesias, diviso n’ellas tal similhança de estylo e modo com outras que o mesmo Caminha publicou como suas em dous volumes no anno de 1786, que estou inclinado a dar-lhe egualmente a paternidade de algumas, senão de todas as que elle pretendeu fazer passar á sombra do nome d’aquelle antigo e desconhecido poeta. É mister porém que d’esta duvida se exclua a ode a D. Hieronymo Osorio, dada a pag. 25 dos taes pretensos ineditos: porque essa não é de Abreu, nem de Antonio Lourenço; é sim evidentemente de Pedro d’Andrade Caminha, e andava como tal impressa desde 1791 nas obras d’este, dadas á luz pela Acad. R. das Sc. No respectivo volume póde vel-a quem o quizer verificar, e é na ordem numeral a VIII, a pag. 205. – O que só me admira é que Antonio Lourenço não tivesse conhecimento e leitura d’esta publicação, affoutando‑se a apresentar em nome de um auctor, e como cousa nova, o que já andava impresso nas obras de outro quatorze annos antes!

 

[1] Vi effectivamente em poder do sr. Figaniere um exemplar d’esta edição de 1807, que havia por duvidosa.

 

[Diccionario bibliographico portuguez, tomo 1]