IULIO DE MELLO DE CASTRO. Naceo em a Cidade de Goa Cabeça do Imperio Oriental Portuguez em Setembro de 1658. sendo filho de Antonio de Mello de Castro que pela qualidade do nacimento, e valor de animo mereceo o governo daquelle estado, e D. Anna Moniz filha de Julio Moniz da Sylva cujo nome se lhe impoz em obsequio de seu Avó materno. Dezejando nos primeiros annos seguir os militares vestigios de seus Mayores voltou para o Reyno em companhia de seu Pay, e passando a Villaviçosa foy Tenente da Tropa do General seu Tio Diniz de Mello de Castro primeiro Conde das Galveas Conselheiro de Estado, e Guerra, e Governador das Armas da Provincia do Alentejo o qual pelo espaço de 28 annos foy heroica testemunha dos mais celebres sucessos em que no Tribunal da Campanha se disputava a liberdade desta Monarchia. Restituido à Corte se embarcou com grande parte da nobreza na famoza Armada que se expedio no anno de 1682. a Villa Franca de Niza para conduzir ao Duque de Saboya cujo efeito se frustrou por disposiçaõ de mais alta providencia. A delicadeza do juizo, e a afabilidade do genio de que prodigamente o ornou a natureza lhe conciliaraõ as estimaçoens das primeiras Pessoas assim na qualidade como na erudiçaõ. Naõ houve Academia do seu tempo que com ambiciosa emulaçaõ o naõ pertendesse para seu Collega. Na Instantanea instituida em Caza do Bispo do Porto Fernaõ Correa de Lacerda onde se propunhaõ materias sem escudo antecedente, discorria taõ solidamente como se fora por muito tempo meditado o seu discurso. Em a dos Generosos renacida no anno de 1684. em Caza de D. Antonio Alvares da Cunha, e renovada por seus filhos, D. Pedro, e D. Luiz da Cunha em 1693. foy ouvido com geral aplauzo principalmente quando ocupou o lugar de Presidente. Naõ adquirio menor aclamaçaõ sendo Mestre, e Lente na Academia Portugueza renovada em o anno de 1717. em o Palacio do Excellentissimo Conde da Ericeira D. Francisco Xavier de Menezes onde com elegante fraze, e agudos pensamentos escrevia os Elogios dos Varoens Portuguezes. Em a dos Anonymos, e Illustrados collocou o seu nome entre os Principes da Oratoria, e Poetica até ser numerado entre os sincoenta Academicos da Academia Real Portugueza. no anno de 1720. para escrever as Memorias Historicas dos Monarchas Sancho 1. e Affonso 2. dos quais era decimo sexto neto. Na poezia Castelhana, e Portugueza excedeo aos mais celebres cultores do Parnazo; com prodigiosa fecundidade produzia a sua Musa conceitos agudos, pensamentos discretos, ideas novas em cuja metrificaçaõ eraõ taõ cadentes as vozes que mostrava ter por Mestra a natureza, e naõ a Arte. Igual foy o seu talento para a Historia escrevendo a de seu grande Tio o primeiro Conde das Galveas com tanta elegancia que igualou a valentia da sua penna à da espada daquelle Heroe. Como Varaõ constante tolerou por todo o espaço da sua vida a falta dos bens da fortuna sendo taõ abundante dos dotes da graça até que provada a sua paciencia com huma dilatada, e penosa infermidade falleceo a 19 de Fevereiro de 1721. quando contava 63 annos de idade. Á sua saudosa memoria se dedicaraõ dous Elogios sendo o primeiro recitado a 20 de Fevereiro na Academia Portugueza pelo Excellentissimo Conde da Ericeira D. Francisco Xavier de Menezes; e o segundo a 4 de Março na Academia Real por meu Irmaõ D. Iozè Barboza Clerigo Regular Academico do numero, e Chronista da Serenissima Caza de Bragança. Compoz

Romance à imagem de Santo Thomas de vulto que veyo de Valença com a Santa Reliquia. Começa Tan vivo estàs, que parece Sahio nos Acroamas Panegyricos com que a Santa Cathedral Igreja de Coimbra recebeo, venerou, e aplaudio a Sagrada Reliquia de Santo Thomaz de Villanova. Coimbra por Iozè Ferreira Impressor da Universidade 1690. 4. a pag. 134.

Romance Endecasyllabo em aplauzo de Manoel de Souza Moreira author do Theatro Geneal. da Caza de Souza. Sahio ao principio desta obra.

Vida de Luiz do Couto Felix Guarda mór da Torre do Tombo. Sahio ao principio do Tacito Portuguez do mesmo Luiz de Couto. Lisboa na Officina Deslandesiana 1715. 4.

Romance Endecasyllabo sendo Assumpto Martim de Freytas fallando com o Cadaver delRey D. Sancho II. de Portugal. Sahio a pag. 231. dos Progressos Academicos dos Anonymos de Lisboa. Lisboa por Iozè Lopes Ferreira 1718. 4.

Historia Panegyrica da Vida de Diniz de Mello primeiro Conde das Galveas do Conselho de Estado, e guerra dos Serenissimos Reys D. Pedro II. e D. Joaõ V. Lisboa por Iozè Manescal Impressor da Serenissima Caza de Bragança 1721. fol. & ibi por Antonio Duarte Pimenta 1745. 4.

Romance Heroico em que se descreve em dous mil Versos a vida de Maria Santissima. M. S.

Elogios, e Discursos Varios recitados em diversas Academias, como grande copia de Versos Lyricos, e heroicos. M. S.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]