D. IZABEL DE CASTRO, E ANDRADE filha herdeira de Alvaro Perez de Andrade descendente legitimo dos Condes de Andrade, e Vilhalua em Galiza, Commendador de Torres Vedras, e Senhor do morgado da Annunciada de Lisboa, e Padroeiro da Capella mòr deste Convento; e de D. Guiomar Henriquez filha de D. Manoel Pereira III. Conde da Feira, e de sua segunda mulher D. Francisca Henriques. A graça em competencia da natureza a ornou de espirito sublime, entendimento perspicàz, memoria feliz, natural benevolencia, e discriçaõ summa. Das sciencias severas teve taõ profunda instruçaõ que defendeo Concluzoens de Filosofia, e Theologia em o Convento de Santo Antonio do Varatojo. Na Poesia mereceo lugar destinto entre o Coro das Musas sendo os seus versos conceituosos, cadentes, e elegantes. Foy cazada com D. Fernando de Menezes 4. Senhor do Louriçal Capitaõ General de Tras os montes do Conselho delRey, e Commendador de Santa Christina de Sarzedello na Ordem de Christo, de quem teve quando já contava 54 annos de idade a D. Henrique de Menezes V. Senhor do Louriçal que alcançou naõ pequena gloria na Restauraçaõ da Bahia; e a D. Maria de Castro que cazou com D. Joaõ de Menezes Alferez mòr do Reyno. Falleceo em Lisboa no anno de 1595. e está sepultada na Capella mòr do Convento da Annunciada jazigo da sua illustre Caza. Das suas obras poeticas se podia formar hum volume, dos quais se fizeraõ unicamente publicos dous Sonetos, hum em aplauzo de Alonso de Erzila author do Poema Araucana dedicado ao Conde de Lemos, e Andrada parente de D. Izabel de Castro, e naquelle tempo Embaxador em Portugal, cujo Soneto transcreveo Manoel de Faria, e Souza no Comment. do Sonet. 95. de Camoens. Tom. 1 . p. 181. e tanto o louva que diz parecerlhe produçaõ da penna deste divino Poeta. O outro Soneto sahio impresso na Part. 3. liv. 3. cap. 14. da Hist. Seraf. da Prov. de Portug. escrita por Fr. Fernando da Soledade o qual para se conhecer o espirito poetico desta Heroina se transcreve neste lugar. O argumento do Soneto era estar convertido o forno de cal que servio para as obras do Convento de Varatojo em huma Capella dedicada a Christo Crucificado, e ainda no anno de 1590. se lia sobre o frontispicio gravado.

Cheyo de furiosa flamma ardente,

A dura pedra sendo aqui lançada,

Em pó miudo, e brando transformada

Neste forno jà foy antigamente.

Outra transformaçaõ mais excellente

Por mais suave flamma he já aqui dada,

Antes a duras pedras custumada

Agora a Coraçoens de dura gente.

Edificios na terra entaõ fazia

Edidicios no Ceo levanta agora.

Vede a transformaçaõ daquelle efeito!

Passou de noyte escura a claro dia.

Com taõ grande ventagem se melhora

Que entaõ abrandou pedras, hoje o peito.

O Padre Antonio dos Reys Enthusiasm. Poet. n 277. a aplaude com estas

expressoens metricas.

Elisabeth cujus, vel dum Camonius Orbem

Adse vertebat stupefactum, plectra fuere

Auscultata: dolet Phaebus, Musaeque Sorores Pauca, quod è tantis superessent

Carmina, tempus

Accusantque vorax, nec non oblivia nostra,

Quae rodenda feris tineis tot scripta dederunt.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]