FILIPPE DE BRITO NICOTE celebre Capitaõ em o Reyno de Pegù, teve por berço a Cidade de Lisboa, e por Pays a Julio Nicote de naçaõ Francez, e a Marqueza de Brito, filha de Filippe de Brito, Porteiro da Camara do Infante D. Duarte, e da Princeza Dona Maria, que depois se despozou com Filippe Prudente. Em a tenra idade de dez annos passou à India, onde ajudado da capacidade do talento, e da affabilidade do genio, naõ sómente juntou grande copia de dinheiro, que liberalmente dispendeo em beneficio do Estado, mas conciliou a amizade d’ElRey de Arracaõ, o qual nada emprendia, sem primeiro o consultar, devendo ao valor da sua espada ser duas vezes este Principe livre das mãos de seus inimigos. Em agradecida remuneraçaõ de quanto lhe era devedor, o nomeou Capitaõ mòr de Pegú, lugar que exercitou pelo largo espaço de doze annos, em os quaes alcançou o seu heroico braço assinaladas victorias de diversos Principes, igualmente inimigos da Religiaõ, que da Coroa Portugueza, obrigando a huns a abraçar a Fè do Crucificado, e a outros a serem feudatarios da nossa Monarchia. Quando parecia, que jà naõ podia coroarse com mayores triunfos, lhe destinou o Ceo para complemento das suas felicidades a palma mais gloriosa. Acommetida a Fortaleza de Pegù por ElRey de Bramà com cento, e cincoenta mil combatentes de pè, e quinze mil cavallos por terra, e com tres mil embarcaçoens por mar; havendo sustentado com incrivel resistencia o impulso de tantos barbaros pelo espaço de quarenta e oito dias, em que morreraõ sessenta mil, foy entrada, e entre os seus prizioneiros se aprezentou Filippe de Brito a ElRey, que com abominavel cegueira, mandou que lançado por terra o adorasse, cujo preceito desprezando o heroico Capitaõ como injurioso à Fè que professava, o mandou o barbaro atravessar com hum páo pela parte inferior do corpo, atè a cabeça, em cujo tormento durou vivo hum dia, atè que rendeo o espirito em obsequio de Christo a 30. de Março de 1613. Foy cazado com Dona Luiza de Saldanha, filha natural do Vice-Rey Ayres de Saldanha, de quem teve a Marcos de Brito, que estando por ordem de seu Pay reformando a Christandade de Bengala, morreo em Pegù pela violenta atrocidade d’ElRey de Arracaõ. Fazem illustre memoria de Filippe de Brito o Licenciado Cardoso Agiol. Lusit. Tom. 2. pag. 369. e no Comment. de 30. de Março letr. G. Fr. Marcos de Guadalax. Hist. Pontif. Part. 5. liv. 3. cap. 8. Barbud. Empres. Milit. de Lusit. liv. 17. e Manoel de Abreu Conquist. de Pegù cap. ultim.

Escreveo

Relaçaõ do sitio, que os Reys de Arracaõ, e Tangu puzeraõ por mar, e terra á Fortaleza de Seriaõ na India no anno de 1607. sendo Filippe de Brito Governador della. M. S. fol. Conserva-se na Bibliotheca d’ElRey Catholico, como affirma o moderno addicionador da Bib. Orient. de Antonio de Leaõ. Tom. 1. Tit. 3. col. 75.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]