D.  AGOSTINHO MANOEL DE VASCONCELLOS, chamado antigamente Agostinho de Mello. Naceo na Cidade de Evora no anno de 1584 de pays ilustres, quaes foraõ Ruy Mendes de Vasconcellos, e D. Anna de Noronha. Na primeira idade manifestou os dotes do grande engenho, com que a natureza liberalmente o ornára, os quaes se foraõ augmentando com tal excesso, que era admirado pelos mais doutos homens do seu tempo. Depois de estudar Direito Civil em Salamanca preferido a este estudo, em que tem mais parte a memoria, que o entendimento, a liçaõ da historia, em a qual produzio sazonados frutos o seu agudo talento, escrevendo com pura fraze, juízo prudente, e discreta elegância. Naõ foy menos a sua capacidade para a Historia que para a Poesia, sendo hum dos mais insignes cultores desta divina Arte, como o manifestaõ varias obras a diversos assumptos, em que se unio a pompa das vozes com a fineza dos conceitos. Foy Cavalleiro professo da Ordem militar de Christo. Arrebatado de huma paixaõ indecorosa ao seu nacimento se conjurou com o Marquez de Villa Real, Duque de Caminha, e Conde de Armamar contra a Serenissima Casa de Bragança novamente exaltada ao trono, da qual antes tinha sido grande venerador, e sendo convencido de taõ feyo crime, foy degolado no Rocio de Lisboa a 29 de Lisboa de 1641 quando contava 57 annos de idade. Escreveo:

Vida de D. Duarte de Menezes terceiro Conde de Viana, e sucessos notables de Portugal en su tiempo. Lisboa por Pedro Crasbeeck 1627, 4. Cuja obra (diz Rodrigo mend. Sylv. no Cathal. Real de Espan. na Vida delRey D. Duarte pag. 99) es tan estimada como se nuestra en el aplauso com que todos la veneran y solemnizan. Anton. de Souza de Macedo Flor. de Espan., cap. 12, Excel. 7 insigne Chronista de D. Duarte de Menezes. Nicol. Anton. na Bib. Hisp., tom 1, pag. 136 diz que escrevera esta vida diserte, & cum judicio e Gerald. Ernesto de Francken in Bib. Hisp. Hist. Gen., pag. 50 a intitula Elegans opus.

Sucession del Señor Rey D. Filippe el Segundo en la Corona de Portugal. Madrid por Pedro Tasso, 1639, 8.

Vida, y acciones delRey D. Juan el segundo decimo terceiro Rey de Portugal. Madrid por Maria de Quiñónes, 1639, 4. Sahio vertida em Francez. Pariz, 1641, 8. Desta obra diz D. Francisco Manoel na Carta escrita a Manoel Themudo da Fonseca, em que trata dos Authores Portuguezes, que fora taõ feliz ella, como infeliz seu author; e Lourenço Gracian Criticon part. 3, Cris. 2 introduzindo o Merito diz Será eterna la vida de D. Juan segundo de Portugal escrita por D. Agustin Manoel digno de mejor fortuna. Della faz menção a Bib. Orient. de Antonio de Leaõ, modernamente acrescentada Tom 1, Titul. 3, col. 63.

Compoz sem o seu nome hum Manifesto na Aclamaçaõ delRey D. Joaõ o IV que compreende duas folhas de pape impresso em Lisboa por Manoel da Sylva 1641, fol. Começa No ay entre los mortalles. Está elegantemente escrito.

Na Vida de D. Duarte de Menezes liv. 1 n 18 promete hum Livro intitulado:

Africa conquistada pelos Portuguezes.

Discurso sobre a Casa de Bragança na occazião da vinda da Princesa Margarida a Portugal. Nelle faz hum elogio ao Duque D. Theodosio; descreve a varia fortuna que esta Casa experimentou com os Reys mostrando que ElRey D. Joaõ o III lhe tirara o Estado de Guimaraens, e ElRey D. SEbastiaõ lhe fora pouco affecto por lhe envejar a Tapada de Villaviçosa; que os Infantes eraõ inimigos dos Duques porque os excediaõ na riqueza, e competiaõ na qualidade, e outras particularidades, que observou o Excelentissimo Conde de Ericeira Censor da Academia Real, quando por odem della examinou os M. S. da selecta Livraria do Conde de Vimieiro, onde está este Discurso, do qual dá individual noticia em a Colleçaõ dos Documentos, e Memorias da Academia Real do anno de 1724 impressa no mesmo anno.

Cancion a los túmulos del Monasterio de Belen. M.S. Conserva-se na mesma livraria. He escrita com excelente estilo.

Memorial da Geneologia, e Privilegios da Casa de Bragança. Desta obra dá noticia o Padre D. Antonio Caetano de Souza no Appar. à Hist. Gen. da Casa Real de Portug., pag. 81 & 67 dizendo que se conserva na Livraria do Conde de Vimieyro, e creyo que he o Discurso de que fizemos menção. Manoel de Galhegos no Templo da Memor., liv. 4, Estanc. 195 lhe canta em seu aplauso:

Sabe cantar com tanta melodia

D. Agostinho Manoel de Mello

Que esquecerme seu cântico feria

Fazer agravo ao Helicon, e ao Delo;

E pois dos Versos tanto imperio alcança

Ouça seus doces números Bragança.

Joan. Soar. de Brit. in Theatr. Lusit. Litter. letr. A n 141. Eruditione, & eloquentia plurimum valuit. Franckenau in Bib. Hisp. Hist. Gen., pag. 50 n 93. Eques sago, togaque inclytus. Nicol. Ant. in Bib. Vet., liv. 10, cap. 12 n 698. Vir disertus, atque infelici fato ad posteros clarus. Fonsec. Evor. Glorios., pag. 409. Dotado de singular engenho, e agudo juízo. Van Espen de Jure Canon. Tract. de Promulgat. Leg. Eccles., part. 2, cap. 1.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. I]