D. FERNANDO MARTINS MASCARENHAS naceo em a Villa de Monte mór o novo situada em a Provincia do Alentejo, e foy filho segundo de D. Vasco Mascarenhas Reposteiro mór do Princepe D. Joaõ filho d’ElRey D. Joaõ o III. e de Dona Maria de Mendoça filha de Antonio de Mendoça. Em a Universidade de Evora em cuja Cathedral obteve hum Canonicato, lançou os primeiros fundamentos dos seus estudos ouvindo Filosofla, em que recebeo o gráo de Mestre em Artes, e parte da Theologia, laureando-se Doutor em taõ sublime Faculdade em a Academia Conimbricense, sendo admitido por Porcionista do Collegio Real de S. Paulo a 20. de Novembro de 1575. Por Provisaõ de Felipe II. passada em 15. de Mayo de 1586. foy nomeado Reitor da Universidade de Coimbra, cujo lugar administrou com tanta prudencia, e affabilidade pelo espaço de oito annos, que delle subio à Cadeira Episcopal do Algarve a 3. de Janeiro de 1594. e se Sagrou na Cathedral de Lisboa a 5. de Fevereiro de 1595. Entre todas as virtudes Episcopaes, de que foy observantissimo cultor, se distinguio em a charidade para com as suas ovelhas, pois no tempo que se vio fulminado o Algarve com o horrivel flagelo da peste, assistio com summo disvelo aos feridos do contagio; naõ sendo menos ardente o seu zelo quando Villa-nova de Portimaõ padeceo os lastimosos effeitos de huma terrivel fome, socorrendo-a promptamente com todo o trigo que estava no seu celeiro. Desta charitativa beneficencia naõ sómente participavam os domesticos mas os estranhos, como experimentaraõ tres Galés Castelhanas, que de Mamora aportaraõ em Faro taõ destruidas pelas tempestades, como cheyas de enfermos, mandando dar sustento aos vivos, e sepultura aos mortos, cuja compassiva acçaõ lhe agradeceo com honorificas expressoens a Magestade de Felipe II. Para impedir os insultos, que cõmetiaõ os Mouros nas Costas do Algarve, mandou fabricar huma Galeota guarnecida de valerosa Soldadesca, de que se seguio respirarem aquelles moradores dos estragos com que infestavaõ os Barbaros aquelles mares, pagando com as vidas os roubos cometidos. Com generosa usura retribuia beneficios por aggravos, principalmente àquellas pessoas, que lhe eraõ mais devedoras aos seus favores. Atendendo pela utilidade do seu rebanho fundou em Villa-nova de Portimaõ o Collegio dos Padres Jesuitas para ensinarem as letras humanas, e concorreo com largos donativos para a nova fabrica do Convento de Santo Antonio dos Capuchos da Provincia da Piedade situado na Cidade de Tavira. Todas estas acçoens cheyas de Catholica piedade o habilitaraõ, para que fosse nomeado Inquisidor Geral destes Reynos, de cujo lugar lhe passou Bulla Paulo V. a 4. de Julho de 1616. Ondemostrou o fervoroso zelo que lhe animava o peito contra os Sequazes da Sinagoga. Foy Conselheiro de Estado, D. Prior mór de Guimaraens, a cujas dignidades pudera juntar a de Bispo de Coimbra, e Arcebispo de Lisboa, quando vagou em o anno de 1585. por morte de D. Jorge de Almeyda, se as naõ regeitára com o mesmo empenho, como outros as pertendiaõ. Foy hum dos mayores Theologos do seu tempo, de que foraõ testemunhas os Cathedraticos de Coimbra, quando argumentava em os altos Academicos em que se admiravaõ felizmente unidas a agudeza com a profundidade. Cheyo mais de virtudes, que de annos que chegavaõ ao numero de 80. espirou piissimamente em Lisboa a 20. de Janeiro de 1628. Jaz sepultado no Cruzeiro da Igreja da Caza Professa de S. Roque em sepultura reza, e nella está gravado o seguinte epitafio, que à sua memoria dedicaraõ os Religiosos daquella Caza.

H. S. E.

Illustrissimus, & Reverendissmus D. D. Ferdinandus Martins Mascaregnas Quaestor Fidei maximus, à Consiliis Regiae Maiestatis; olim Rector Academiae Conimbricenss, nec non Episcopus Algarbiensis. Nihilo tamen hisce honoribus acceptis, quam relictis Episcopatus Conimbricenss, & Archiepiscopatus Ulyssiponensis thiaris clarior. Sacris litteris apprimè eruditus: in Deum, Superosque egregie pius: ingenio mitissimo, animo celsissimo, donis munificentissimus, & in pauperes largissimus. Lusitani populi deliciae quondam, nunc desiderium.

Obiit 20. Januarii 1628.

Qui quoniam non Mausolaeo, sed humili sepulchro, ut unus ex nostris o6 eximium in Societatem JESU, & singularem in quatuor fratres germanos quos in ea habet, amorem, condi voluit, eadem Societas JESU gratiae, & amoris ergo.

H. ei M. P.

Graves Escritores celebráraõ o seu nome como foraõ Agostinho Barbos. Trat. de Potest. Episcop. Part. 2. Allegat. 40. n. 30. vir, & gentilitia nobilitate, &litteris insgnis. Telles Chron. da Comp. de Jes. da Prov. de Portug. Part. 2. liv. 4. cap. 47. n. 7. taõ conhecido no mundo por suas letras de Theologo excellentissimo, e taõ amado por sua condiçaõ de Principe magnifico, e de Prelado benignissimo. P. Sebastiaõ Barradas na Dedicat. do Tom. 2. Concord. Evangelicae. Armata illi est prudentia, justitia, temperantia, vigilantia charitate, beneficentia, caeterisque virtutibus, ut omnibus honoribus, omnibusque titulis par esse videaris. Possevin. Appar. Sacer. Tom. 1. pag. 568. vir nobilitate maiorum, sua ipsus illustrissimus, virtutibus autem, ac interioribus Theologiae studiis praecellens. Nicol. Anton. Bib. Hisp. Tom. 1. pag. 289. col. 2. foruit integritatis, & doctrinae nomine. Franc. de Sant. Mar. Diar. Portug. Tom. 1. pag. 99. vigilante Prelado, amoroso Pay dos pobres, e liberalissimo Principe. Sachin. Hist. Societ. Part. 4. lib. 7. n. 223. Vir moribus, & virtute praeclarus, & cum disciplinarum omnium, tum Theologiae praesertim excellenti scientia toto regno laudatitimus. Paul. Scherlog. Respons. Pro Scient. Med. Part. 3. Sect. 10. n. 48. Illustrissimus & antiquae, & honorificae antiquitatis. Nicol. Godinho de rebus Abyssin. na Dedicat. In quo summa sunt omnia generis amplitudo, rerum scientia, animi magnitudo, comitas in officiis, ad benefaciendum propensio. Fr. Seraph. de Freitas Addit. ad Trad. Illustris. Rod. da Cunha de sollicitantib. Quaest. 22. n. 37. multis mihi nominibus  suspiciendus in quo an nobilitas an ingenium principem ibi locum vendicet in duóium revocari potest; vere interim in eo Praelati ideam omnibns numeris absolutam, fideique facem suspicias, & admireris. O Doutor Belchior de Abreu Cisterciense na censura à Oraçaõ Funebre, que fez a este Prelado o Padre Diogo de Areda da Companhia de JESUS. Cuja esclarecida memoria, zelo Christianissimo, rara Santidade, e todas as mais excellencias duráraõ por muy largos annos, naõ se perdendo nunca seu nome de Prelado integerrimo, e defensor vigilantissimo da da Fé Catholica. Joan. Soares de Brit. Theatr. Lusit. Litterat. lit. F. num. 13. Soares de Gratia Prolog. 2. cap. 1. n. 7. Isambert. Comment. Theolog. Tom. 2. quaest. 111. disp. 9. art. 4. n. 8. Draud. Bib. Classic. Hallevard. Bib. Curios. pag. 75. col. 2. Fonsec. Evor. Glorios. pag. 333. Sabio por eminencia em todas as Sciencias. Franco Annal. S. J. in Lusit. pag. 250. n. 1. Heros dignus monumentis aere perennioribus. D. Joseph Barbos. Mem. do Colleg. de S. Paul. pag. 259. Foy benemerito da fama que ainda hoje tem, e no Archiat. Lusit. pag. 75.

Vertice mitrato, qui regna Algarbica rexit,

Judicis eximio fulgebit honore supremi,

Ut sacrata fides tuto potiatur asylo.

Inconcussa dabit servandae dogmata legis,

Atque cavenda piae quamplura volumina menti Indice signabit, ne mens errore vacillet.

Non illum fastus, non gloria punget inanis;

Cerne recusantem Collimbrica jura Sacrata,

Urbis & antiquae cui maenia vallat Ulysses;

Displicet ambitio terrestria calce terenti.

Corporis exuvias ponet Ferrandus, abibit

Ad superos felix meritorum pondere clarus.

Compoz

Tractatus de auxiliis divinae gratiae ad actus supernaturales in tres partes divisus. Prima agit de variis divinae gratiae divisonibus. Secunda de grafia efficaci, & ejus distinctione à non efficaci. Tertia de efficacia gratiae. Ulyssipone apud Petrum Craesbeck 1604. fol. & Lugduni apud Horatium Cardon. 1615. 4.

Pro defensone Immaculatae Conceptionis Epistola. Sahio impressa com outras deste assumpto Hispali 1616. fol. como escreve Fr. Pedro de Alva, y Astorga in Milit. Concept.

Officium S. Antonii Ulyssiponensis, qui vulgò dicitur de Padua, quod edendum curavit Illustrissimus Dominus D. Ferdinandus Martins Mascarenhas D. Antonio addictissimus ad usum privatum devotorum ipsius. Ulyssipone typis Gerardi à Vinea 1623. 12. Desta obra faz mençaõ Cardoso Agiol. Lusit. Tom. 3. A 30. de Mayo no Comment. letr. A.

Tratado sobre varios meyos, que se offereceraõ a S. Mag. Catholica para remedio do Judaismo neste Reyno de Portugal no anno de 1625. 4. Naõ tem lugar da impressaõ, nem o nome do Author.

Por sua ordem sahio composto pelo P. Balthezar Alvares da Companhia de JESUS.

Index Auctorum damnatae memoriae. Tum etiam librorum, qui vel smpliciter, vel ad expurgationem usque prohibentur, vel denique expurgati permittuntur. Ulyssipone apud Petrum Craesbeck 1624. fol.

In 1. 2. D. Thomae Commentarii M. S. aos quaes intitula praeclaros o P. Sebastiaõ Barradas na Dedicatoria, que a seu Illustrissimo Author lhe faz no Tom. 2. Concord. Evangel. lastimando-se da perda de taõ grande obra, quando foy levada com a numerosa livraria defte Prelado pelos Piratas, que invadiraõ a Cidade de Faro.

Commentaria in Proverbia Salomonis. M. S. Esta obra louvaõ Dom Francisco Manoel Cart. dos AA. Portug. escrita ao Doutor Themudo, e Jacob. Le Long. Bib. Sacr. pag. mihi 850. col. 1. a qual affirma Lipenio Bib. Real. Theol. Tom. 2. p. 5 69. sahira impressa Lugduni 1615.

Tractatus de Legibus. M. S. Estava em o anno de 1606. prompto para se imprimir.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]