D. FERNANDO DE NORONHA nono Conde de Monsanto, Senhor da Villa de Castro Dayre, Alcayde mor de Guimaraens, e Cõmendador de S. Martinho de Baldreu na Ordem de Christo, sexto filho de D. Luiz Alvares de Castro Attayde, Noronha, e Sousa, segundo Marquez de Cascaes, setimo Conde de Monsanto, Conselheiro de Estado, e de Dona Maria Joanna Coutinho, filha de D. Antonio Luiz de Menezes, primeiro Marquez de Marialva, e de Dona Maria Coutinho. Nasceo em Lisboa a 7. De Outubro de 1677. onde instruido com as letras humanas passou a Coimbra, e no Collegio de S. Pedro foy admitido por Porcionista a 31. de Julho de 1694. Acompanhou a seu Pay, quando partio para França com o Caracter de Embaixador extraordinario à Magestade Christianissima de Luiz XIV. e na grande Corte de Pariz depois de fallar com perfeiçaõ a lingua Franceza se instruio com as maximas de huma Naçaõ taõ polida, como bellicosa para serviço do seu Principe, e honra da sua Patria. Restituido a ella assentou praça de Soldado, e no posto de Capitaõ de Infantaria fez algumas Campanhas, em q mostrou igual disciplina, que valor. Atendendo o Marquez seu Pay à falta de successaõ da sua caza o retirou da Campanha, para que na sua pessoa se estabelecesse, e ainda que constrangido cedeo ao preceito, em que fez mais benemerita a sua obediencia. Foy creado Conde de Monsanto pela Magestade d’ElRey D. Joaõ o V. a 20. de Outubro de 1714. Tempo em que o Marquez seu irmaõ se achava sem esperanças de successaõ. Para naõ passar o tempo em torpe ocio se applicou ao estudo das Mathematicas, em que teve por Mestre ao insigne Manoel Pimentel, Cosmografo mòr do Reyno, e de tal modo comprehendeo as suas mayores dificuldades, que era superfluo o aprendellas, debuxando com delicadeza, e perfeiçaõ varias plantas de Architectura militar, e civil. Foy ornado de summa modestia, natural affabilidade, gentil prezença, e corteza urbanidade, cujos dotes o faziaõ a todo o genero de pessoas summamente amavel. Entre os primeiros cincoenta Academicos, de que se formou o corpo litterario da Academia Real foy eleito para escrever as Memorias Ecclesiasticas do Bispado de Portalegre, cujo argumento principiou a desempenhar como do seu talento se esperava. Falleceo infaustamente pela equivocaçaõ de huma bebida, que imaginando ser remedio, nella tragou a morte. Certificado do perigo, a que naõ podia resistir a natureza se resignou em a divina vontade com actos religiosos, ate que rendeo o espirito a 13. de Dezembro de 1722. quando contava 45. annos de idade. Estava contratado a cazar com sua sobrinha Dona Maria Jozefa da Gama, oitava Condessa da Vidigueira. O seu elogio funebre recitou com igual elegancia, e discriçaõ na Academia Real Jozè da Cunha Brochado do Conselho de S. Mag. e de sua Fazenda, Chanceller mòr das Ordens Militares, Enviado extraordinário às Cortes de França, e Inglaterra, e Plenipotenciario à Corte de Madrid. Compoz
Cathalogo dos Bispos da Igreja de Portalegre. Lisboa por Paschoal da Sylva Impressor de S. Magestade, e da Academia Real. 1721. fol. Sahio no 1. Tom. Da Colleçaõ dos Documentos da Academia Real.
Conta dos seus estudos Academicos em 7. de Setembro de 1722. recitada no Paço. Sahio no 2. Tom. dos Documentos da Acad. Real. Lisboa pelo dito Impressor. 1722. fol.
Delle faz larga memoria o P. D. Ant. Caet. de Sous. Hist. Gen. da Caza Real Portug. Tom. 2. liv. 3. pag. 545. e no Apparat. a esta Hist. pag. 159. §. 194.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]