D. FERNANDO COUTINHO filho terceiro de Joaõ da Sylva IV. Senhor de Vagos, Alcaide mór de Monte mór, General em Ampurdaõ, e Camareiro mór d’ElRey Dom Joaõ o II. e de Dona Branca Coutinho sua prima, segunda filha de Fernaõ Coutinho Senhor de Penaguiaõ, Armamar, e Fontes, e de Dona Maria da Cunha Senhora proprietaria de Celorico de Basto, illustrou com acçoens heroicas a qualificada origem da sua Pessoa. Anhelando a fazer celebre o seu nome pelas Sciencias, que lhe facilitavaõ a perspicacia do engenho, e promptidaõ de memoria, e vendo que o militar tumulto de Marte tinha desterrado de Espanha o pacifico comercio de Minerva passou a Florença onde cultivando huma, e outra Jurisprudencia mereceo com applauso dos mayores Mestres receber as insignias Doutoraes em ambas as Faculdades. Restituido ao Reyno como conhecesse o prudente juizo d’ElRey D. Joaõ o II. a sua grande capacidade o nomeou Bispo de Lamego, e Embaixador extraordinario à Santidade de Alexandre VI. cujo ministerio desempenhou com geral admiraçaõ da Curia Romana. Da Cathedral de Lamego foy transferido em o anno de 1502. por ElRey D. Manoel para o Bispado de Sylves Capital cio Reino do Algarve, e como o seu talento se extendia para o governo Ecclesiastico, e Secular foy Regedor da Casa da Supplicaçaõ cujo lugar depois administrou seu irmaõ mais velho Ayres da Sylva. Com piedosa generosidade precedendo confirmaçaõ Real doou aos Religiosos da Serafica, e austera Provincia da Piedade os Conventos do Cabo de Saõ Vicente; Santa MARIA do Loreto em a Cidade de Lagos, e de Nossa Senhora do Paraizo em Sylves, e fundou o Convento das Religiosas Cistercienses da Cidade de Tavira. Instituhio o Morgado de Santo Antonio da Serra de Monchique para sua filha Dona Izabel da Sylva, que nos annos da adolescencia tivera de Izabel Villarinho filha de Fernando Caldeira de nobre geraçaõ, a qual se despozou com Ruy Pereira da Sylva Alcaide mór de Sylves, e Guarda mòr do Principe Dom Joaõ, cujo Morgado possuem hoje os Condes de S. Lourenço. Cumulado de obras virtuosas que lhe adquiriraõ saudosa memoria na posteridade, falleceo na Cidade de Sylves, e jaz sepultado junto dos degráos da Capella mór da parte do Evangelho igual com a sepultura em que esteve o Real Cadaver de D. Joaõ o II. sobre a campa tem as suas Armas, e por epitafio estas unicas palavras estando as seguintes consumidas

Aqui jàs D. Fernando Coutinho.

De taõ illustre Prelado fazem honorifica memoria Fr. Francisco Brandaõ Monarch. Lust. Part. 5. liv. 17. cap. 12. Prelado de grande exemplo, e authoridade. Salazar Histor. de la Caz. de Sylv. liv. 8. cap. 5. Fuè tan señalado Cavallero, y tan illustre Prelado como correspondia a su nacimiento. Monforte Chron. da Prov. da Pied. liv. 2. cap. 12. e 26. e o Cathalogo dos Bispos do Algarve impresso no fim das suas Constituiçoens. A Oraçaõ obediencial que recitou na presença do Pontifice Alexandre VI. e do Sagrado Collegio dos Cardeaes, sahio com este titulo Oratio de obedientia in Consistorio publico Romae per me Ferdinandum Coutigno praesulem Lamasensem Juris utriusque D. habenda in Pontificatu Alex. VI. Pont. Max. pro Christianissimo, & invictissimo Domino nostro Joanne Rege Portugalliae. Começa. Magno excellenti munere ab immortali Deo hodierna die me affectum esse video. Roma 1493. 4. He impressa em elegante caracter, e hum exemplar em pergaminho conserva o Doutor Nicolao Francisco Xavier da Sylva Academico da Academia Real, que benevolamente me comunicou.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]