D. FERNANDO quarto filho dos Serenissimos Reys D. Manoel, e D. Maria sua segunda mulher, sahio à luz do mundo em a Villa de Abrantes a 5. de Junho de 1507. Foy ornado daquelles dotes, que fazem aos Principes venerados na posteridade, pois alèm de ter o aspecto gentil, e a simetria do corpo bem organizada, era muito applicado ao estudo, principalmente da Historia, em que achava estimulos, e documentos para emprender, e conseguir acçoens heroicas. Do amor, que professava às sciencias, se originou ordenar a Damiaõ de Goes, que naquelle tempo assistia em Flandes, com graves incumbencias desta Coroa, que lhe fizesse huma selecta colleçaõ de livros, assim impressos, como M. S. na qual dispendeo copioso dinheiro. Em todos os negocios em que se interessava a gloria do Reyno, era consultado por seu Irmaõ Dom Joaõ o III. de cujo Concelho como dictado pela prudencia do seu juizo, e liberdade do seu animo se seguiaõ utilissimas consequencias. Foy Duque da Guarda, e Trancoso, e Senhor da Villa de Abrantes. A sua Caza competia com a Real, assim em o numero, como na qualidade dos criados, sendo seu Mordomo mór, Christovaõ de Tavora, Senhor de Ranhados, e do Morgado de Caparica, Comendador da Conceiçaõ de Leyria, e seu Camareiro mór Vasco da Sylveira, Alcaide mór de Castellobranco. Cazou em o anno de 1530. com D. Guiomar Coutinho, filha herdeira de D. Francisco Coutinho quarto Conde de Marialva, e Meirinho mór do Reyno, Senhor de Castello Rodrigo, dos Morgados de Leomil, e Medello, Alcaide mór de Lamego, Guarda, e Villa de Trancoso, e de D. Brites de Menezes, Condeza de Loulè, filha herdeira de D. Henrique de Menezes primeiro Conde de Loulè, e de Valença, Alferes mór de Affonso o V. Senhor de Caminha, Capitaõ Donatario de Alcacer Seguer, e Arzilla, e da Condeza D. Guiomar, terceira filha de D. Fernãdo I. do nome Duque de Bragança, e da Duqueza D. Joanna de Castro. Deste augusto matrimonio naceraõ dous filhos, que no breve espaço de cinco mezes passaraõ a melhor vida acabando em o mesmo tempo a de seus Pays, pois o Infante D. Fernando morreo na Villa de Abrantes a 7. de Novembro, quando contava a florente idade de 27. annos, e sua Consorte a 9. De Dezembro de 1534. e jaz sepultada na Capella mór do Convento dos Religiosos Dominicos desta Villa donde foy trãsferido o Infante D. Fernando, em o anno de 1582. para o Real Convento de Belem, e sobre a sepultura se lhe gravou o seguinte epitafio
Hìc necis imperio Fernandus subjacet Infans
Mecaenas doctis, praesidium quae viris.
D. Jeronymo Ozorio de reb. Emman. Reg. lib. 5. pag. mihi 778. lhe faz o seguinte elogio. Fuit in antiquitate pervestiganda valde curiosus; maximarum rerum studio flagrabat, multisque virtutibus illo loco dignis praeditus erat. Caram. Philip. Prud. pag. 165. Fuit litterarum Mecaenas optimus. Faria Europ. Portug. Tom. 2. part. 4. cap. 1. §. 113. Principe de rostro hermoso, y animo sincero. Mariz Dial. de var. Hist. Dial. 4. cap. 21. Foy muito inclinado ás letras, e dado ao estudo das Historias verdadeiras, e inimigo das fabulosas, e principalmente nas de seus progenitores trabalhou muito por saber sua origem. Compoz
Arvore Genealogica deduzida do tempo de Noè, atè ElRey seu Pay. A qual mandou a Damiaõ de Goes (como escreve na Chronica de ElRey D. Manoel part. 2. cap. 191. que entaõ assistia em Flandes, para lha mandar illuminar por artifice insigne, cuja ordem promptamete executou. Desta obra do Infante fazem mençaõ Faria Europ. Portug. Tom. 2. pag. 512. Caram. Philip. Prud. folhas 165. e Souzano Apparat. à Histor. Gen. da Caza Real Portug. pag. 30. §. 10. onde o numera entre os Authores Genealogicos, escrevendo mais difuzamente deste Principe no Tom. 3. da dita Historia livro 4. cap. 9.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]