LEONIZ DE PINA, E MENDOÇA Cavalleiro da Ordem de Christo, e Familiar do Santo Officio, filho de Pedro de Pina Osorio, e de Luiza Osorio da Fonceca sua Prima, Senhores da Casa de Remela naceo em a Cidade da Guarda Solar da sua nobre familia. Ainda contava poucos annos quando se vio orfaõ de seu Pay, e depois de estudar na Patria as letras humanas foy admetido a Collegial do Collegio da Madre de Deos em Evora como parente mais chegado do seu Fundador o Dezembargador Heytor de Pina Olival onde aprendeo Filosofia. Para argumento do seu valor acompanhou aos Governadores das nossas Armas em todas as invazoens que se fizerao em Castella quando se disputava a liberdade da nossa Monarchia, acudindo com igual ardor á Praça de Almeyda, que governava seu Cunhado Braz do Amaral Pimentel. Com a sua direçaõ, e dispendio fortificou os arrabaldes da Cidade da Guarda com grossas trincheiras que como mais expostos podiaõ padecer fataes hostilidades. O grande respeito que conciliara nesta Provincia junto com o parentesco que por si, e sua consorte tinha com alguns Cavalheros Castelhanos foraõ causa de ser pelos seus emulos capitulado de inconfidente, de cuja falsa calumnia sahio taõ purificada a sua innocencia que em premio do zelo, e fidelidade com que em todas as suas açoens se tinha havido declarou ElRey por huma Portaria de 16. de Mayo de 1668. ser hum vassalo da mayor confiança, e satisfaçaõ. Nas Cortes celebradas em 1669. em que foy  jurada herdeira desta Coroa a Serenissima Senhora D. Izabel assistio como Procurador da Guarda, Lugar que ja tinha exercitado nas Cortes de 1645. As grandes despezas que fizera em serviço delRey, e a quantia de sessenta mil cruzados, que pagara como fiador de diversos homens de negocio, o reduziraõ no fim da vida a summa pobreza de que se seguio retirar-se a sua quinta do Pombo junto da Cidade da Guarda onde viveo resignado com as disposiçoens da Divina Providencia até fallecer de hum Tuberculo deixando de suas virtudes louvavel exemplo. Jaz sepultado na Capella de N. Senhora da Conceiçaõ que edificara na sua quinta sem epitafio como tinha ordenado cuja disposiçaõ cumprio fielmente seu filho unico Luiz de Pina Osorio de Proença que teve de sua mulher Catherina de Carvalho filha mais velha de Affonso Fernando de Carvalho, e de sua Prima com Irmaã Izabel Lopes de Carvalho. Conservou continuo comercio com os homens mais eruditos de seu tempo, e foy alumno da sociedade Real de Londres. Em todas as Artes, e Sciencias fallava como professor consumado. A Poesia, e letras humanas foraõ o exercicio da mocidade, a Mathematica aplicaçaõ de toda a vida, e a liçaõ dos Santos Padres ocupaçaõ, e alivio da velhice. O dezengano lhe persuadio extinguir muitas obras suas, e o sequestro que por sua morte se fez em seus bens, ocultou outras dignas de perpetua memoria. De todas ellas sómente se publicou a seguinte.

Amuleto da alma composto dos antidotos, e epithemas, que os Santos Doutores, e outros pios, e doutos varoens recitaraõ ao contagio dos vicios. Lisboa por Joaõ da Costa 1670. 12. Na Dedicatoria a Nossa Senhora diz que premeditava escrever a Cronologia da sua purissima vida.

Das suas obras M. S. se salvaraõ as seguintes que claramente mostraõ como era versado em diversas Sciencias.

Poesias Lyricas. 4.

La divina Salamandra. Comedia

Emericiana. Novella em verso, e prosa

Tratado Cosmografico.

Varios Opusculos pertencentes á Theorica da Musica.

Tres Centurias de Problemas, e Theoremas Geometricos.

Da Quantidade commensuravel pratica. Desta obra a primeira parte que pertence aos numeros estava perfeitamente acabada.

Parafraze ao Officio de nossa Senhora Em verso Portuguez. Estava corrente com todas as licenças para se imprimir.

Enneados. Esta obra constava de Louvores de nossa Senhora na qual tinha aplicado grande estudo.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]