P. LUIZ ALVARES. Nasceo na Cidade de Lisboa em o anno de 1539. Filho de pays igualmente nobres, que virtuosos chamados Achiles Godinho de Vasconcellos, e Valentina de Calvos que jazem sepultados na casa onde sahio á luz do mundo o Thaumaturgo Portuguez Santo Antonio. Na primeira idade mostrou indole capaz para emprezas grandes, natural inclinaçaõ para exercicios devotos. Das letras amenas passou a cultivar as severas em a Universidade de Coimbra onde ao tempo que ja era Theologo obedecendo a vontade de seu pay recebeo Ordens Sacras e pregou alguns Sermoens em Lisboa com tal energia que pela voz universal dos ouvintes o tinha Deos liberalmente dotado de talento pera taõ sagrado ministerio. Dezejozo de estado mais perfeito elegeo o de Religioso entrando na Companhia de Jesus em o Collegio de Coimbra a 5. de Janeiro de 1560. quando contava 21. Annos de idade, e vinte a Companhia de confirmada. Havendo dictado Filosofia em Coimbra com grande aplauzo, mayor o alcançou no pulpito chegando a tal excesso que fez ecco a sua voz em Roma dizendo S. Pio V. a S. Francisco de Borja Geral da Companhia: Ouço que tendes em Portugal hum S. Paulo. Nao havia coraçaõ taõ duro que se naõ rendesse a vehemente eficacia das suas palavras por cuja cauza o insigne Varaõ Fr. Luiz de Granada immortal credito da Religiaõ Dominicana o comparou aos primeiros promulgadores do Evangelho. A apostolica liberdade com que reprehendia os vicios lhe deu grave materia á sua tolerancia, até que concitando contra si o odio dos sequazes da Sinagoga aos quaes publica, e particularmente arguia de obstinados na sua cegueira, hum delles lhe deu veneno em huma breve porçaõ de vinho que bebeo ao sahir do pulpito em a Villa de Aviz onde tinha feito grande fruto, espirando em o hospital da mesma Villa a 25. De Setembro de 1590. quando contava 51. annos de idade, e 30. da Companhia. Foy conduzido com pompa o seu cadaver para o Collegio de Evora em cujas honras funeraes prégou o Padre Braz Viegas celebre Expozitor do Apocalypse tomando por thema as palavras do cap. 3. do 2. livro dos Reys Nequaquam ut mori solent ignavi, mortuus est Abner. Delle fazem honorifica memoria Ioan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litt. Lit. L. n. 16. Franco Imag. da virt. do Colleg. de Coimb. Tom. 1. liv. 1. cap. 71. até 76. e no Annus glor. S. J. in Lusit. p. 703 e nos Annal. S. J. in Lusit. p. 153. n. 9. e 10. Nadasi Ann. Dier. mem. S. J. Part. 2. p. 290. e Fonceca Evor. glorios. p. 433. Compoz.

Sermoens varios. M. S. 4. Delles se conservaõ alguns Tomos no Cartorio do Collegio de Evora, como afirma o Padre Franco Imag. da virt. do Colleg. de Coimb. pag. 621. col. 1.

 

 [Bibliotheca Lusitana, vol. III]