D. FR. AGOSTINHO DE CASTRO, naceo na Cidade de Lisboa em 16 de Outubro de 1537 e foraõ seus Pays D. Fernando de Castro Governador da Casa do Civel de Lisboa, e D. Maria de Ayala filha do Conde de Monsanto. Em idade muito tenra foy estudar a Coimbra, onde com a doutrina de Antonio Mendes, que depois subio à Cadeira Episcopal de Elvas sendo o seu primeiro Prelado, sahio consumadamente perfeito tanto no estudo da Gramatica, como na practica da virtude. Desprezadas heroicamente as esperanças, que o mundo lhe prometia fundadas na nobreza do nascimento, e autoridade de seu Pay, pedio o penitente habito de S. Francisco no Convento de Coimbra da Provincia de Piedade, porem os Religiosos atendendo para a debilidade da sua compleição como incapaz de tolerar os rigores da Ordem, lhe negarão o ser a ella admitido. Com esta repulsa naõ mudou de intento, antes mais constante nelle buscou a Religiaõ dos Eremitas de Santo Agostinho onde quando contava desesete anos recebeo o habito das mãos do Veneravel Varaõ Fr. Luiz de Montoya mudando-lhe o nome que tinha de Pedro em Agostinho, como feliz presagio de que havia ser fiel imitador desta grande luz da Igreja, cujo instituto professou em 7 de Abril de 1555. Foi incrível o progresso, que fez nos estudos Theologicos, e muito mais no exercício das virtudes sendo as azas com que na florente idade de vinte, e sete anos velozmente voou aos primeiros lugares da Ordem até chegar ao governo de toda a Provincia em que desempenhou com vigilância, e prudencia todas as obrigaçoens de hum perfeito Prelado. Passou a Roma com o lugar de Definidor para o Capitulo geral, e tal foy o conceito, que formaraõ todos os Capitulares do seu talento ilustrado com todo o género de sciencias, que foy uniformemente elito para reformar as Constituiçoens pelas quaes se governa universalmente a família Eremitica. Neste tempo constando à Santidade de Gregorio XIII os gravíssimos danos, que na Alemanha Superior tinhaõ sacrilegamente obrado os hegeres contra os Conventos dos Regulares, e como estes estavaõ nimiamente relaxados, o nomeou Vigário Geral de Alemanha para que visitasse, e reduzisse aquellas Communidades à sua primitiva observância, cuja empresa executou com tanta prudencia, que por ella mereceo as estimaçoens do Emperador Rodolpho II e da Emperatriz D. Maria Irmaã de Filippe Prudente elegendo-o por seu Prégador. Este Principe confiando da sua madura capacidade o mandou pacificar as discórdias que havia entre os Eremitas da Provincia de Aragaõ dividindo-a em duas para se conservar inteira a observância regular. Os merecimentos taõ notórios da sua pessoa obrigaraõ ao mesmo Monarcha para que os premiasse com huma digna remuneração nomeando-o Arcebispo de Braga em cuja dignidade Primacial foy sagrado em o Mosteiro de N. Senhora da Graça pelo Arcebispo de Lisboa D. Miguel de Castro em 3 de Janeiro de 1589. Tanto que entrou na sua Diocese todo o cuidado aplicou ao pasto das suas ovelhas excedendo nesta vigilância a muitos dos seus Predecessores. Evitou muitos escândalos mais com a bravura, e dissimulação, que com a severidade, e o castigo. Por duas vezes congregou Synodo, em que fez Constituiçoens para o bom governo do Arcebispado emendando nellas muitos abusos que se tinhaõ introduzido no Sanctuario de Christo. Foy excessivamente compassivo para os pobres assinando rendas certas para os enfermos se curarem nos Hospitaes, dotando em cada anno grande numero de donzelas, e dispendendo largas esmolas para sustento das Religiosas. Fundou em Braga hum Convento da sua Ordem no qual lançou a primeira pedra em 3 de Julho de 1596 e o dotou com seis centos mil reis de renda. Mandou pintar em quadros a todos os seus Predecessores, e com eles ornou huma Sala do Palacio Arcebispal para que aquellas mudas copias despertassem nos seus suessores as virtudes, que religiosamente observaraõ os Originaes. Foy perito nas Ceremonias Ecclesiasticas, e destríssimo na Cantoria do Choro emendando muitas vezes algum erro, que ou por descuido, ou ignorância se cometia. Com plausível pompa sagrou em 28 de Julho de 1592 a sua Cathedral colocando no altar preciosas reliquias, das quaes o cathalogo está gravado em huma pedra no frontispício deste Templo. Venerou com singular affecto o diviníssimo Sacramento deixando para eterno testemunho da sua devoção renda capaz para sustentar quatro luzes que perpetuamente ardessem em obséquio de taõ amoroso Mysterio. Zelou com tanto ardor a pureza da Fé, que acompanhado de D. Theotonio de Bragança Arcebispo de Evora, e D. Miguel de Castro Arcebispo de Lisboa passou a Madrid para impedir o perdaõ geral que pertendiaõ os Sequazes da Sinagoga. Foy ornado de coraçaõ taõ benevolo, que sempre correspondeo a agravos com benefícios. Chegado o termo da sua exemplar vida recebeo os Sacramentos com piedade catholica, e repetindo os suavíssimos nomes de JESUS, e MARIA, espirou placidamente a 25 de Novembro de 1609 quando contava 72 annos de idade, e 21 de Arcebispo. Foy sepultado no Convento antigo dos Eremitas, até que passados desenove anos se trasladou para o novo, onde o agradecido animo do Senado Bracharense lhe mandou gravar no Mausoleo este Epitafio: Illustrissimo Domino D. Augustino de Castro Augustinensi, Archirpiscopo, ac Domino Bracharensi, Hispaniarum Primati, olim in Superiori Germania jussu Caesaris Rodolpho II. Eremiticae familiae reformatori, hujus Monasterij Fundatori Viro pietate, & prudencia nsigni, Magistratus Bracharae Augustae Pastori suo clementíssimo ob innumera beneficia libenti animo fieri curavir anno Domini 1628. Illustrissimo, & Reverendissimo Domino D. Roderico de Acunha Archipraesule Obiit Bracharae 25 Novembro 1609 annos natus 72. Compoz: Epitome rerum ad Statum Ecclesiae Bracharensis pertinentium quas ad Sanctissimum Dominum Clementem VIII referendas censuit D. Augustinus de Castro, ubi late de Vera Primatum Bracharensium successione, fol. M. S. Conservase na Bib. que foy do Cardial de Souza. Desta obra affirma ter huma copia o Licenciado Jorge Cardoso Agiol. Lusit., tom 1, pag. 119, no Commentario de 25 de Fevereiro, e no tom 3, pag. 519 no Commentario de 3 de Junho, letra A. Antiguidades da Ordem dos Eremitas, as quaes levou do Convento de Braga para Castella Fr. Agostinho de S. Nicoláo para se compor a Chronica da Ordem, como escreve Fr. Antonio da Purificaçaõ na Chron. da Provincia de Portug., part. 1, cap. 8, fol. 20, 4. Na livraria do Convento da Graça de Lisboa Cabeça da Provincia dos Eremitas em Portugal se conserva hum grande volume intitulado Registro da Provincia onde compilou as memorias pertencentes a esta Provincia, cujo trabalho descobrio a sua incansável deligencia em Roma revolvendo os Registros Geraes da Ordem, e copiando os instrumentos mais antigos da mesma Provincia. Poderá ser que este livro seja o mesmo, que as Antiguidades da Ordem dos Eremitas, das quaes acima fizemos menção. Constituiçoens do Arcebispado de Braga as quaes impedido pela morte naõ imprimio, e as conservava em seu poder o Illustrissimo D. Rodrigo da Cunha como affirma na Hist. Eccles. de Braga, part. 2, cap. 93 n 6. Cathalogo dos Arcebispos de Braga, onde notou a vida que tiveraõ (saõ palavras do Illustrissimo Cunha Hist. Eccles. de Brag., part. 2, cap. 94 n 5) os anos, que governáraõ, e o dia em que morreraõ, de que nós grandemente nos aproveitamos por todo o discurso desta Historia. Noticia dos Progressos que fez na visita das Provincias de Alemanha in 4. Conservase escrito da sua própria maõ no Convento da Graça de Lisboa. Como foy muito perito na arte da Musica compoz hum livro de Missas para se imprimir, e outras excelentes obras desta profissão. Escreveo a vida deste Illustrissimo Prelado seu dignissimo sucessor na dignidade Primacial D. Rodrigo da Cunha na Historia assima alegada desde o cap. 93 até 95. Fr. Bernard. de Brito Mon. Lusit., part. 2, liv. 5, cap. 7 dizendo grande zelador da honra de Deos, e de sua Igreja, e que em apurar as antiguidades della tem feito muitas despezas, e deligencias exquisitas. D. Mauro Castel. Ferrer. Hist. de S. Tiago liv. 1, cap. 16 tan religioso, sabio, y curioso, como noble, e no prolog. da dita Hist. o intitula insigne: Joaõ Soar. de Brito in Theatr. Lusit. Litter., let. A n 141. Nulli ex tot insignibus heroibus pietate, vigilantia, vel magnificentia post habendus. Crusen. in Monast. Augustin., part. 3, cap. 47. Praeclarum illud Lusitaniae Lumen in Metropilitanae Bracharensis Ecclesiae candelabro elevatum. O D. Fr. Leaõ de Santo Thom. Bened. Lusit., part. 2, trat. 2, cap. 20, pag. 367 insigne Arcebispo, e pag. 368 grande Arcebispo. Fr. Luiz dos Anjos Jardim de Portug., cap. 5. Insigne Prelado, e meritíssimo Arcebispo de Braga. Fr. Ant. à Purif. de Vir. illustrib. Prov. Lusit. Erem. D. August., lib. 1, cap. 24. Herrer in Alphab. August. ad an. 1609. Fr. Manoel de S. Damas. Verd. Elucid. desde pag. 277 até 300.

 

[Bibliotheca Lusitana, Historica, Critica e Chronologica, vol. 1]