Fr. LUIZ DE SOUZA chamado no seculo Manoel de Souza Coutinho augmentou com o seu nacimento os honorificos brazoens com que se nobilitava a celebre Villa de Santarem. Foy quarta producçaõ do thalamo de Lopo de Souza Coutinho Governador do Castello da Mina, e Capitaõ mór da Armada da Costa igualmente versado na palestra de Marte, que na Aula de Minerva de quem se fez merecida memoria em seu lugar, e de Dona Maria de Noronha filha de D. Fernando de Noronha Capitaõ de Azamor, Commendador de S. Salvador de Villa-Cova da Ordem de Christo, e de sua mulher Dona Anna da Costa filha de D. Alvaro da Costa Camareiro, e Armeiro mór delRey D. Manoel. A progenitura que injustamente lhe negou a natureza lhe compensou a graça ornando-o de juizo penetrante, genio docil, memoria feliz, e talento maduro de cujos sublimes dotes teve por primeiro theatro a Athenas Conimbricense onde com admiraçaõ dos Cathedraticos, e enveja dos condicipulos cultivou as sciencias amenas, e severas. Ao tempo que em taõ famosa Universidade lograva as aclamaçoens merecidas á sua erudiçaõ se resolveo mudando de theatro illustrar o seu nome com as armas como o tinha ennobrecido com as letras. Para fim taõ glorioso se alistou na esclarecida Religiaõ de Malta em cuja belicosa palestra se habilitaõ os seus alumnos para Heroes. Ao sahir do porto de Sardenha embarcado em huma Galé Malteza, foy prizionado pelos Mouros, e condusido a Argel achou entre os Cativos ao   celebre Miguel de Cervantes, e Saavedra que no estilo jovial excedia os mayores talentos da sua idade, o qual contrahio taõ estreita amizade com Manoel de Souza Coutinho, que o introduzio por Episodio no liv. 1. cap. 19. dos Trabajos de Persilis y Sigismundo, eternisando com esta memoria o afecto que lhe professava nacido da sua erudita conversaçaõ. Restituido á sua liberdade passou a Catalunha onde experimentou segundo infortunio sendo despojado pelos Bandoleiros que infestavaõ aquelle Principado. Voltando ao Reyno se despozou com Dona Magdalena de Vilhena filha de Francisco de Souza Tavares em a Villa de Almada de cujo territorio era Coronel de setecentos Infantes, e cem Cavalos, onde para naõ passar o tempo em culpavel ocio instituhio em sua casa huma Academia frequentada de alguns seus amigos que cultivavaõ as letras humanas. Obrigados os Governadores do Reyno do contagio que no anno de 1599. devastava grande parte dos moradores de Lisboa passaraõ para Almada, e valendo-se da sua authoridade tomaraõ por apozentadoria as casas em que morava. Com repetidas suplicas reprezentou a violencia que com elle se praticava pois o expulsavaõ da habitaçaõ propria, e como naõ podesse suspender esta violenta execuçaõ, lhe mandou lançar fogo que brevemente as reduzia a cinzas. Para evadir do furor que se podia fulminar contra a sua pessoa se ausentou para Madrid celebrando a sua sublime Musa este successo com varios versos entre os quaes mereceo distinta memoria o seguinte Epigrama.

Invide quid nostris insultas aedibus! aut quid

Exilio causas nectis, alisque moras!

Molire, exporte, implora, minitare, reposce

Vindictam, laqueos, jura, pericla necem.

Conjrent tecum fortuna, occasio, leges;

Longe aliò nobis lis derimenda foro est.

Quos flãma absupsit redolet mihi fama Penates;

Ponet, & aeternam non moritura domum.

Para lhe ser menos penoso o Voluntario desterro da sua Patria se deliberou collegir os versos Latinos do celebre Poeta Jayme Falcaõ em agradecida memoria da cordial amizade que com elle tivera no anno de 1577. em Valença sua patria, e de lhe ter explicadõ a Arte Poetica de Horacio. Publicou estas obras Poeticas em Madrid no anno de 1600. ornadas e Dedicatoria a Felippe III. de Castella e de Prologo aos Leitores estudiosos admirandose em huma, e outra produçaõ da sua penna a pureza e elegancia da Latinidade. Instado dos importunos rogos de seu irmaõ Ioaõ Rodriguez Coutinho morador em Panamà Cidade da America Meridional convidando-o a conseguir copiosos lucros procedidos do comercio, se resolveo a esta jornada, que descreveo em versos elegantissimos, e como experimentasse que os efeitos naõ correspondiaõ ás esperanças e recebece a infausta noticia da morte de huma filha unica se restituhio a Portugal onde sendo certamente informado por hum peregrino que voltava de Jerusalem de naõ estar legitimamente casado com Dona Magdalena de Vilhena por ser vivo seu primeiro espozo D. Ioaõ de Portugal que com seu pay D. Manoel de Portugal fora cativo na lamentavel batalha de Alcazar, se devorciaraõ com prompta resoluçaõ recebendo o habito de S. Domingos Dona Magdalena em o Convento do Sacramento piedosa fundaçaõ dos Condes de Vimioso mudando com o novo estado o apellido de Vilhena em Chagas, e Manoel de Sousa Coutinho professou o mesmo instituto no reformado Convento de Bemfica a 8. de Setembro de 1614. nas maõs de Fr. Ioaõ de Portugal que depois com as suas profundas letras, e heroicas virtudes authorizou a Mitra de Vizeu. Em obsequio da amisade fielmente conservada com D. Luiz de Portugal terceiro Conde do Vimioso, que voluntariamente fugitivo para os Claustros Dominicanos augmentou com virtudes religiosas os herdados esplendores da sua coroada ascendencia mudou o nome de Manoel em Luiz, e advertindo judiciosamente que fora chamado nos ultimos annos pelo celeste agricultor para cultivar a vinha da Religiaõ, se empenhou a competir, e a exceder aquelles que desde a idade juvenil com mayor disvelo a cultiváraõ. Taõ profundas raizes tinha lançado no seu coraçaõ a humildade que com injuria do seu nacimento, e abatimento da sua capacidade resistio por muito tempo receber o Sacerdocio. Amou com excesso a pobreza de que eraõ publicos pregoeiros o habito que Vestia, e o apozento em que morava. Observava inviolavelmente o jejum prolongado pelo espaço de sete mezes e para ser mais austero admetia no prato por companheiro a hum pobre. Na charidade para com os emfermos foy insigne aos quaes assistia compassivo, ministrava prompto, socorria liberal. Com religioso culto, e cordeal afecto venerava a Maria Santissima coroando-a quotidianamente com as mysticas Rosas do seu Rosario, que devotamente postrado recitava. O intenso ardor com que adorava a Christo Sacramentado se fazia patente pelos olhos quando celebrava o incruento Sacrificio do Altar. Entre tantas virtudes naõ merece menor elogio a obediencia com que cegamente sojeitava a Vontade propria ás ordens dos Superiores, e como estes conhecessem o profundo talento, a Vasta liçaõ, e o sublime engenho de que era ornado lhe cometeraõ a laboriosa empreza de escrever a Chronica da Provincia de Portugal de cuja obra tinha disposto informemente os primeiros aliceses Fr. Luiz de Cacegas. Obedeceo prompto, ainda que constrangido a este preceito, pois custumava dizer que naõ viera á Religiaõ para conciliar fama pela penna, mas merecer o premio eterno. Antes de levantar taõ soberba fabrica lhe formou o Atrio na Vida do insigne exemplar de Prelados o V. Fr. Bartholameo dos Martyres, merecendo pela elegancia do estilo a primazia entre os Escritores da Espanha, como a lograva em a dignidade entre todos os Prelados o Heroe que elegeo para assumpto da Historia. O aplauzo que lhe adquerio esta obra se dilatou mais extensamente na Chronica da Provincia Portugueza em que a sua penna transformada em sinzel lhe lavrou a mais honorifica estatua para se colocar no Templo da immortalidade. Toda a pureza do idioma Portuguez, toda a elegancia do estilo Romano, e toda a pompa do artificio Rhetorico se lem religiosamente observados nesta Historia em cujo theatro apparecem diversas figuras mais ornadas, quando mais despidas de pomposos epitectos, explicando altos conceitos com termos humildes. Empunhando a palma entre os Historiadores cingio a Coroa entre os Poetas merecida pelas metricas produçoens com que voou ao Cume do Parnasso. Foy insigne cultor da lingua Latina em que seguio como exemplares na oraçaõ solta aos Tullios, e Livios, e na ligada aos Virgilios, e Claudianos. Da liçaõ da Historia Sagrada, e profana teve profunda instruçaõ observando judiciosamente os estilos de cada Escritor. Entre tantos dotes scientificos se distinguia a viveza do seu talento nos votos em que por muitas vezes era consultado pelo Serenissimo Duque de Bragança D. Ioaõ antes de subir ao Trono, como se conhece claramente de muitas Cartas conservadas no Real Convento de Bemfica, em que aquelle Principe o honrava com o nome de amigo, e lhe agradecia a sincera liberdade com que o tratava. Attenuado com a aplicaçaõ do estudo, e juntamente com o numero dos annos cahio emfermo, e como se tinha ensayado com tantos actos virtuosos para a ultima hora, a esperou com sereno aspecto. Recebidos os Sacramentos pedio perdaõ á Comunidade dos escandalos, que lhe causara na observancia menos exacta do seu Instituto, cujas palavras produziraõ nos circustantes tal compunçaõ que a testemunharaõ pelos olhos. Faleceo no mez de Mayo de 1632. e foy sepultado no Antecoro servindo-lhe de honorifico epitafio os eruditos partos da sua penna em que fielmente deixou copiado o seu espirito. Para elogiar a sua memoria competem entre si os Historiadores lendo os principaes Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 2. pag. 52. col. 1. ingenium elegans, excultumque etiam Rhetoricis, atque Humanitatis artibus, judicium in paucis maturum, miraque ac exquesita Lusitani sermonis facundia. Aug. Barbos. de Potest. Episcop. Part. 1. lib. 3. cap. 8. n. 82. Religiosissimum, & Doctissimum Patrem. Faria, e Souza. Juizo das Rim. de Cam. no principio do 1. Tom. Dos Comment. das Rim. Fuè un Cavallero de mucho ingenio, y tan instruido en las letras humanas que bien pudo jusgar de ingenios superiormente ornados dellas… Escritor nò menos cuerdo, que elegante. Cunha de Primat. Brachar. cap. 27. §. 4. Vir erusditissimus, egregiusque scriptor. Severim Disc. Var. p. 130. vers. Taõ illustre no sangue como nas letras humanas Joan. Soar. de Brit. Theatr. Lusit. Litt. Lit. L. n. 47. praeclarum Lusitanae eloquentiae specimen. D. Franc. Manoel Cart. I. da 4. cent. escrita ao Doutor Themudo; podiamos crer animava nelle a alma do famoso Ioaõ de Barros Fr. Jozé de Santo Antonio. Flos. SS. August. Part. 3. p. 701. insigne. Monteiro Claustr. Dom. Tom. 1. p. 206, e Tom. 3. p. 268. Franc. de Santa Maria Chron. dos Coneg. Sec. liv. 1. cap. 40. excellente Chronista e no Diar. Portug. Tom. 2. p. 268. Soar. Silva Mem. delRey D. Joaõ o I. liv. 30. Author famigerado, e benemerito naõ só da sua Religiaõ, mas de Portugal todo. Jacinto Cordeiro Elog. dos Poet. Portug. Estanc. 36.

Para Manoel de Sosa se apresura

Daphne gozosa a coronarle altivo:

Depuesta ingratitud buelve hermosura

Lo que desprecio fuè de un pecho esquivo:

Y amorosa previene com igual cordura

Con dulce aplauso coraçon festivo:

Bien que a un Sosa Coutiño nò es grãdeza

Quando meritos son de tal nobreza.

As obras que cõmpoz antes de ser Religioso saõ as seguintes.

Carmen Heroicum in Laudem Fr. Bernardi de Brito. Sahio no principio da 1. Part. da Mon. Lusit. Alcobaça 1597. fol. Começa.

Discute lutifica squallentem fronte capillum. Operum Poeticorum Jacobi Falconis Valentini Montesianae militiae Equitis, ejusdem que Ordinis Praefecti loco, ac nomine Philippi II. Regis Hispaniae Poetae, & Geometrae clarissmi libri quinque ab Emmanuele Sousa Coutigno Lusitano amici famae studioso collecti in volumenque redacti, atque ejusdem curà, & impensa typis mandati. Mantuae Carpentanorum apud Petrum Madrigalem 1600. 8. A Dedicatoria a Filippe III., e o Prologo saõ compostos pelo Collector.

Inscripçaõ Latina em aplauso do insigne Theologo, e grande Escriturario Fr. Luiz de Sottomayor aberta debaixo do Retrato que mandou abrir por Monsiur Parret no anno de 1602. Manoel de Souza Coutinho. Principia

Divae Aeternitati Sacrum.

Sahio reimpressa na Vida de Fr. Bartholomeo dos Martyres liv. 2. cap. 17.

Cumanae Sybillae oraculum quod Astrologorum vanitas in deterius mutaverat Epigramma. He o ultimo com que acaba a Relaçaõ do solemne recebimento que se fez em Lisboa ás Santas Reliquias que se levaraõ á Igreja de S. Roque. Lisboa por Antonio Ribeiro 1588. 8. Consta de 7. Distichos. 147

Epigramma in Laudem Ludovici Camonij Epicae Poeseos Principis clarissimi. Começa

Quod Maro sublimi, quod suavi Pindarus alto Quod Sophocles tristi naso, quod ore canis. Consta de 8. Distichos. Sahio impresso nos Disc. Var. de Manoel Severim de Faria p. 132. e na Vida de Camoens escrita por Manoel de Faria, e Sousa no principio do Coment. das Lusiad. pag. 55.

Soneto em louvor da Gigantomachia escrita por Manoel de Galhegos. Sahio ao principio desta obra. Lisboa por Pedro Crasbeeck 1628. 4.

Navigatio Antartica ad Doctorem Franciscum Guidum Civem Panamensem. M. S. He escrita em verso heroico elegantissimo. Começava.

Lusimus haec olim fateor cum prima juventus

Vestiret nucas dubia lanugine malas;

Lusimus, ut puerim puerilis cura decebat;

Sed mea jam cygnos facies imitata nivales

Corporis, atque animi properat mutare vigorem,

Quin & curarum fluctu contundor acerbo

Dum procul á patria toto jam dividor orbe,

Et subeunt conjux, & natae dulcis imago.

Todas estas obras foraõ publicadas com o nome de Manoel de Sousa Coutinho que conservava no seculo, e como deixasse este pelo Claustro da Religiaõ de S. Domingos publicou as seguintes com o de Fr. Luiz de Sousa sendo compostas quando ja era Religioso.

Vida de D. Fr. Bartholameo dos Martyres da Ordem dos Prégadores Arcebispo, e Senhor de Braga, Primaz das Hespanhas repartida em seis livros com a solemnidade da sua Tresladaçaõ. Viana por Nicolao Carvalho 1619. fol. Grande parte desta obra transcreveo na lingua Castelhana Luiz Munoz em a Vida do mesmo V. Arcebispo. Madrid en la Imprenta Real 1645. 4. e tambem sahio Vertida em a lingua Franceza na Vida deste insigne Prelado que se escreveo em França. Pariz chez Pierre Petit 1664. 4.

Primeira parte da Historia de S. Domingos particular do Reyno, e Conquistas de Portugal. Bemfica por Giraldo da Vinha 1623. fol. Na Censura que a esta obra faz o Mestre Fr. Agostinho de Sousa da Ordem dos Prégadores em 16. de Setembro de 1622. diz ser o estilo grave, elegante, sentencioso com brevidade, e clareza juntamente que em poucos se acha: Linguagem natural corrente, e cortezaã com termos taõ proprios, significativos, e eficaces, e longe de afeites, e artifcios viciosos, que sem encarecimento podemos afirmar, que dos livros que até o presente saõ escritos em Portuguez, nenhum se achará de mais policia, e perfeiçaõ. Este mesmo conceito formaraõ dous insignes Chronistas, sendo o primeiro Fr. Antonio Brandaõ Mon. Lusit. Part. 4. liv. 12. cap. 33. dizendo ser escrita com pureza, e elegancia; e o segundo o Padre Francisco de Santa Maria Chron. dos Coneg. Secul. liv. 3. cap. 1. elegante na fórma, como illustre na materia.

Segunda Parte da Historia de S. Domingos particular do Reyno de Portugal, e suas conquistas. Lisboa por Henrique Valente de Oliveira. 1626. fol. Sahio por deligencia de Fr. Antonio da Encarnaçaõ Dominico Deputado do Santo Officio que no principio escreveo elegantemente a vida do Author.

Terceira Parte da Historia de S. Domingos particular do Reyno de Portugal, e suas Conquistas. Lisboa por Domingos Carneiro 1678. fol. Coroa todos os elogios consagrados á memoria de Fr. Luiz de Sousa a Censura que a esta Terceira Parte fez o celebre Padre Antonio Vieyra Oraculo de Rhetorica Ecclesiastica onde em obsequio de taõ insigne Escritor, e de sua Chronica a julga pela mais perfeita Historia na verdade da narraçaõ, na ordem dos sucessos, na pontualidade dos tempos, dos lugares, das pessoas e na noticia, e ponderaçaõ dos motivos, e cauzas de tudo, o que se obrou, ou omitio: louvando sem ambiçaõ, nem lizonja o que he digno de louvor que he quazi tudo) e castigando sem sangue alguns defeitos. O estilo he claro com brevidade, e discreto sem afectaçaõ, copioso sem redundancia, e taõ corrente, facil, e notavel que enriquecendo a memoria, e afeiçoando a vontade naõ cança o entendimento… dizendo o commum com singularidade, o semelhante sem repetiçaõ o sobido, e vulgar com novidade, e mostrando as couzas (como faz a 1uz) cada huma como he, e todas como lustre. A linguagem tanto nas palarras como na fraze he puramente da lingua em que professou escrever sem mistura, ou corrupçaõ de vocabulos estrangeiros. A propriedade com que falla em todas as materias he como de quem a aprendeo na escola dos olhos &c.

Consideraçoens das lagrimas, que a Virgem Nossa Senhora derramou na Sagrada Paixaõ repartidas em dez Passos para a devoçaõ dos dez Sabados. Lisboa Por Antonio Alvres 1645. 12. & ibi por Miguel Manescal. 1711. 16. e em muitas outras partes.

Vida do B. Henrique Suso Dominico traduzida de Alemaõ em latim por Fr. Lourenço Surio, e de latim em Portuguez por D. Manoel de Souza Coutinho depois Fr. Luiz de Souza. Lisboa por Lourenço de Anvers 1642. 8. & ibi por Joaõ da Costa 1672. 8.

Vida do Patriarca S. Domingos dividida em 17. Dystichos Latinos servindo cada hum de epigrafe a outras tantas pinturas que reprezentavaõ as principaes acçoens do mesmo Santo dibuxadas em asulejo que cobriaõ as paredes do Claustro do Convento de S. Domingos de Lisboa os quaes modernamente se mudáraõ para as paredes das varandas, que descançaõ sobre os arcos do mesmo Claustro. Estes Dystichos de que faz memoria o Padre Ignacio da Piedade e Vasconcelos Conego secular da Congregaçaõ do Evangelista Amado. Hist. de Santar. Edificad. liv. 2. cap. 33. imprimio o Padre Fr. Lucas de Santa Catherina na 4. Part. da Hist. de S. Domingos da Provincia de Portug. desde pag. 12. até 15. A elegancia, e argucia com que foraõ compostos exalta com as seguintes vozes metricas o Padre Antonio

dos Reys Enthusiasm. Poet. n. 93.

Vidimus excelsã Cathedrã te, Souza tenetem

Tepora succinctu frõdetis germine Daphnes

Quã tibi pro meritis dat Cynthius ipse corollã;

Ut pote, qui memori servat sub pectore pulsu

Se procul à Lysia te domu urgente, reductum

Esse, choruque simul Musaru in ardua montis,

Quem super incumbens Almadia celsa potetis

Urbis Ulysseae despectat maenia, fulvis

Quae Tagus, in pontu du voluitur, alluit undis:

Maestus & ipse dolet Phaebus, Musaeque sorores,

Nostratesque dolent quod non cõpacta sub unu

Omnia quae dederas, sint carmina culta, volumen,

Sed dispersa volent rudibus ludibria ventis,

Persolunt que simul grates pictoribus illis

Qui tua perspicuo, sed paucula dysticha vitro

Commisère, forent ut Lusis tempore longo

Ingenii speculum nascentis ad omnia Sousae.

Chronica delRey D. Joaõ III. de Portugal. fol. M. S. Esta obra foy escrita por ordem dos Governadores do Reyno para se reparar a grande falta cometida por Francisco de Andrade na Chronica do mesmo Rey ocultando tantos sucessos acontecidos na Europa, Africa, e America dos quaes foy fecundo o Reynado daquelle Principe. Para suavizar esta laboriosa empreza a Fr. Luiz de Souza que já contava muitos annos deraõ os Governadores huma Tença de cem mil reis a seu sobrinho Francisco de Souza Coutinho que depois foy Embaxador a França, Suecia, e Dinamarca com grande credito do seu nome. Foy o ultimo parto da sua elegante penna merecendo entte todas as suas obras a primeira pela eloquencia do estilo e investigaçaõ de noticias adqueridas com incansavel disvelo, comprehendendo neste volume 18 annos do Reynado de D. Joaõ o III. Informado Filippe IV. desta obra a mandou pedir a Fr. Luiz de Souza pelo seu Secretario Francisco de Lucena como consta do original que Vimos no Cartorio do Convento de S. Domingos de Bemfica, e he o seguinte. Senhor Fr. Luiz de Souza. Por carta de 17 do mez passado manda Sua Magestade em reposta de huma consulta que o Senhor D. Diogo de Castro estando no governo destes Reynos lhe fez sobre V. Paternidade, que se peça a V. Paternidade o volume da primeira Parte da Chronica delRey D. Joaõ o III. que tem composto para se fazer com ella certa deligencia, aviso a V. Paternidade mo remeta. Deos guarde a V. Paternidade em Lisboa a 9. De Janeiro de 1632. Francisco de Lucena.

Desta Carta se manifesta o engano, e equivocaçaõ com que muitos authores affirmaraõ ser esta Chronica dividida em dous volumes, e escrita por ordem de Filippe IV., quando consta que lhe mandou pedir este Monarca da qual sómente estava completa a primeira Parte. Depois de ser remetido a Castella o Original viveo sinco mezes seu Author, e com a sua morte se sepultou a memoria do lugar onde certamente existe.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]