D. MANOEL DE ALMADA naceo em Lisboa sendo filho de Gil Alvarez, e Izabel de Almada igualmente illustres que virtuosos, e sobrinho de D. Ayres da Silva Bispo do Porto de quem foraõ progenitores Ruy Pereyra da Silva Guarda mór do Principe D. Joaõ, e de D. Izabel da Silva. Instruido nas letras humanas estudou Direito Pontificio, e nelle fez taõ grandes progressos que passando da especulaçaõ á practica exercitou o lugar de Dezembargador dos aggravos na Casa da Supplicaçaõ com grande credito da sua rectidaõ, e litteratura, de cujo ministerio se lembra com merecido louvor o insigne Jurisconsulto Antonio da Gama nas suas Decisoens Decis. 30 n. 3. Ao tempo que era Chantre da Cathedral de Lisboa, Deputado do Santo Officio, e Conservador das Ordens militares o nomeou ElRey D. Sebastiaõ Bispo da Cidade de Angra Capital da Ilha Terceira em o anno de 1561. por Vacatura de D. Fr. Jorge de Santiago da Ordem dos Prégadores, que fallecera a 26. de Outubro do dito anno. Assistio com todos os Prelados do Reyno em as prirneiras Cortes celebradas em Lisboa a 13. de Dezembro de 1562. Entre as Pessoas que acompanháraõ a Senhora D. Maria quando no anno de 1565. Partio desta Corte a despozar-se com o famoso Alexandre Farneze Principe de Parma, e Placencia, se distinguio pela sua natural afabilidade, e grave prudencia assistindo como testemunha a estes augustos despozorios de que foy Ministro o Arcebispo de Cambray em a Cidade de Brusselas. Voltando para a Patria, como se sentisse oprimido de achaques dimitio o Bispado no anno de 1567. sucedendo-lhe D. Nuno Alvares Pereira Doutor em os sagrados Canones, e neste anno a 18. de Mayo foy provido por seu Tio D. Ayres da Silva Bispo do Porto no Beneficio de Medellos do Mosteiro de Ferreira. Nos annos que lhe restaraõ de vida se preparou para a morte com actos religiosos até que falleceo a 2. de Outubro de 1580. Jaz sepultado na Cathedral de Lisboa. Quando assistio em Flandes lhe chegou as mãos o libello infamatorio de Gualter Haddon Secretario da Rainha de Inglaterra D. Izabel contra o insigne Varaõ D. Jeronimo Ozorio por ter com huma douta invectiva arguido aquella impia Iezabel da sua apostazia. Para defender o credito de hum taõ grande Prelado e confundir a cega petulancia daquelle antigonista pegou da penna e como se fora rayo aniquilou todos os seus sofisticos fundamentos, cuja obra publicou com o titulo seguinte.
Adversus Epistolam Gualteri Haddoni Serenissimae Reginae Angliae á supplicum libellis contra Reverendi P. Hyeronimi Osorii Lusitani Episcopi Silvensis epistolam nuper editam. Antuerpiae per Guilielmum Silvium 1566. 4. Dedicada a Serenissima Senhora D. Maria Princeza de Parma. No Prologo escreve ser Deputado do Santo Officio contra a heretica pravidade, e com taõ manifesta expressaõ se naõ póde duvidar que exercitasse este ministerio, suposto que Fr. Pedro Monteiro nos Cathalogos que imprimio de todos os Deputados das Inquisiçoens deste Reyno, naõ faça delle mençaõ. Celebraõ o seu nome Spener. Opus Herald. Part. 1. lib. 1. cap. 22. pag. 287. Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 1. p. 262. col. 1. Illustris. Cunha Hist. Eccles. de Braga Part. 2. cap. 78. e no Cathal. dos Bisp. de Port. Part. 2. cap. 37. Joan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter. Lit. E. n. 17. D. Fr. Thom. de Faria Decad. 1. lib. 9. n. 4. Magn. Bib. Eccles. p. 337. col. 2. Draudius Bib. Classic. Sousa Cathal. dos Bisp. de Funchal n. 4. e na Hist. Geneal. da Cas. Real Portug. Tom. 3. p. 445, Barbosa Mem. Hist. delRey D. Sebast. Part. liv. 1. cap. 12. e liv. 2. cap. 13.
[Bibliotheca Lusitana, vol. III]