MANOEL DE AZEVEDO FORTES Caualleiro da Ordem militar de Christo, Sargento mór de Batalha dos Exercitos de Sua Magestade, e Engenheiro mór no Reyno naceo em Lisboa no anno de 1660. e na tenra idade de dez annos passando a Madrid aprendeo no Collegio Imperial as letras humanas com tal aplicaçaõ como se as houvera de ensinar. Para se instruir nas sciencias severas frequentou a Universidade de Alcala de Henares onde com admiraçaõ dos Mestres, e neveja dos condiscipulos defendeo problematicamente toda a Filozofia. De Espanha passou a França, e no Collegio du Plessis novamente se aplicou a estudar o sistema da Filozofia moderna, como tambem Theologia, e as disciplinas Mathematicas naõ se podendo facilmente distinguir em qualquer destas Faculdades sahira mais eminente. Vagando a Cadeira de Filozofia na Universidade de Sena se oppoz a ella juntamente com hum Navarro, e hum Francez e como por votos uniformes lhes preferisse, a regentou por espaço de tres annos com o Salario annual de duzentos cruzados que lhe assinou Francisco Maria de Medicis Governador da Cidade de Sena, e irmaõ do Graõ Duque de Toscana. Tanta foy a opiniaõ que conciliou da sua litteratura neste triennio que foy rogado a continuar outro de cuja incumbencia igualmente honorifica, que laboriosa se naõ pode escuzar. Voltando á Patria, da qual naõ tinha individual conhecimento com tençaõ de se habilitar para hum beneficio opulento que lhe prometera Francisco Maria de Medicis, naõ permetio a Magestade delRey D. Pedro II. que se auzentasse do Reyno para cujo efeito sem que elle o pertendesse, lhe mandou passar patente de Capitaõ de Infantaria com soldo dobrado, e de substituto da Cadeira da Mathematica na aula da Ribeira das Naos. Sendo Tenente do Mestre de Campo General passou a ocupar os postos de Coronel, e Governador da Praça do Castello de Vide, e de Engenheiro mór do Reyno por patente de 23. de Setembro de 1719. Nunca esteve ocioso o seu talento em beneficio do Reyno, reedificando no anno de 1734. as ruínas que hum rayo fizera na Praça de Campo mayor; construindo no anno de 1735. quando ja era Sargento mór de Batalha, com incrivel brevidade quatro armazens de polvora nas Praças de Elvas, Campo mayor, Olivença, e Estremoz, reparando os terraplenos das Praças de Jurumenha, e Arronches, e ultimamente delineando por ordem soberana huma nova Praça na Villa da Zibreira situada na Beyra baixa, cuja planta por ser regular se fazia impenetravel a toda a invasaõ inimiga. Entre os primeiros cincoenta Academicos de que se formou a Academia Real da Historia Portugueza foy nomeado para resolver os pontos Geograficos. Foy cazado com D. Maria Henriques de Azevedo de quem naõ teve sucessaõ. Para indelevel testemunho da sua piedade christaã instituio hum legado annual de que he administradora a Irmandade da Casa da Misericordia de Lisboa para na Vespora da Annunciaçaõ de Nossa Senhora prover de roupa branca as Enfermarias do Hospital Real de todos os Santos. Falleceo piamente em Lisboa a 28. de Março de 1749. quando contava a provecta idade de 89. annos. Do seu profundo talento foraõ felices produçoens as obras seguintes.
Representaçaõ feita a Sua Magestade que Deos guarde sobre a fórma e direçaõ que devem ter os Engenheiros para milhor servirem ao dito Senhor neste Reyno, e suas Conquistas. Lisboa por Mathias Pereira da Silva, e Joaõ Antunes Pedrozo 1720. 4.
Tratado do modo mais facil, e o mais exacto de fazer as Cartas Geograficas assim da terra, como do mar, e tirar as plantas das Praças Cidades, e edificios com instrumentos, e sem instrumentos para servir de instruçaõ à fabrica das Cartas Geograficas da Historia Ecclesiastica, e Secular de Portugal. Lisboa por Paschoal da Silva Impressor delRey 1722. 8.
O Engenheiro Portuguez dividido em dous Tratados, que comprehende a Geometria practica sobre o papel, e sobre o terreno; o uzo dos instrumentos mais necessarios aos Engenheiros, o modo de desenhar, e dar aguadas nas plantas militares; e no appendice a Trigonometria rectilinea. Tom. 1. Lisboa por Manoel Fernandes da Costa Impressor do Santo Officio 1728. 4. com estampas.
Tomo 2. que comprehende a Fortificaçaõ regular, e irregular; o ataque, e defensa das Praças, e o uzo das armas de guerra. ibi pelo dito Impressor 1729. 4. com estampas.
Conta dos seus estudos Academicos recitada no Paço a 22. de Outubro de 1722. fol. Sahio no Tom. 2. da Collec. dos Docum. da Acad. Lisboa por Paschoal da Silva 1722. fol.
Conta dos seus estudos Academicos recitada no Paço a 22. de Outubro de 1725. Sahio no Tom. 5. da Collec. dos Docum. da Acad. ibi pelo dito Impressor 1725. fol.
Oraçaõ Academica pronunciada na presença de Suas Magestades hindo a Academia Real ao Paço em 22. de Outubro de 1739. 4. Naõ tem lugar da Impressaõ.
Logica racional, Geometrica, e Analitica obra utilissima, e absolutamente necessaria para entrar em qualquer sciencia, e ainda para todos os homens, que em qualquer particular quizerem fazer uzo do seu entendimento, e explicar as suas ideas por termos claros, proprios, e intelligiveis. Lisboa por Jozé Antonio Plates 1744. fol.
Breve discurso sobre o segredo do famoso Medico Monisiur de Revel de huns poz simpaticos, que excitaõ o suor. Lisboa por Miguel Rodrigues 1729. 8.
Evidencia Apologetica, e critica sobre o primeiro, e 2. Tomo das Memorias militares pelos Practicantes da Academia militar desta Corte. Lisboa por Miguel Rodrigues 1733. 4. He huma apologia pelo seu livro Engenheiro Portuguez contra as Notas de Antonio do Couto de Castellobranco author das Memorias Militares. Estas duas obras sahiraõ sem o seu nome.
[Bibliotheca Lusitana, vol. III]