Fr. MANOEL CARDOSO natural da Villa da Fronteira em a Provincia Transtagana, e naõ da Cidade de Beja como escreveo Nicolao Antonio Bib. Hisp. Tom. 1. p. 263. col. 2. Foraõ seus pays Francisco Vaz, e Izabel Cardoza que conhecendo a viveza do seu engenho o mandaraõ estudar a Evora Gramatica, e Musica em cuja Arte sahio taõ insigne assim practica, como especulativamente que chegou a fazer o compasso na Cathedral. Ao tempo que vizitava o Convento de Evora dos Carmelitas Calçados o Provincial Fr. Simaõ Coelho informado do seu inculpavel procedimento o admetio ao habito que vestio no Convento de Lisboa no primeiro de Julho de 1588. quando tinha completos desanove annos de idade, e professou a 5. do dito mez do anno seguinte. Entre os celebres compozitores da Musica que floreceraõ em seu tempo mereceo distinta estimaçaõ subindo a mayor excesso quando levando á Corte de Madrid o livro das Missas que tinha composto e offerecido a Magestade de Filippe IV. lhe gratificou este Monarcha com hum generozo donativo, e lhe ordenou fizesse o compasso na Capella Real aos seus Cantores. Igual favor recebeo do Serenissimo Rey D. Joaõ o IV. que o mandou chamar muitas vezes ao Palacio para conferir com elle algumas duvidas sobre a Arte da Musica, de que era consummado Professor, e tal era o conceito que este Principe fazia da sua pessoa que duas vezes o vizitou no apozento, e lhe mandou collocar o seu Retrato primorosamente pintado na Bibliotheca da Musica. De taõ singulares honras se naõ deixava atrahir o seu coraçaõ, antes triunfante da vaõgloria lhe serviaõ de estimulo para exercitar com mayor disvelo as virtudes religiosas sendo no comer parco, no fallar circunspecto, e no obedecer prompto. Por muitos annos foy Sub-Prior do Convento de Lisboa, e Mestre da Capella devendo-se ao seu zelo a pauza com que perfeitamente se celebravaõ os Officios Divinos. Duas vezes foy Definidor, a primeira no anno de 1628. e a 2. no anno de 1647. e nestes lugares sempre conservou a humildade com que se ornava o seu espirito. Na ultima enfermidade em que tolerou acerbissimas dores pedio os Sacramentos os quaes recebeo com grande ternura recitando o Te Deum Laudamus ao tempo que lhe ministravaõ a Extrema-Unçaõ no fim da qual foy lograr da patria celestial a 24. de Novembro de 1650. quando contava 81. Annos de idade, e 62. de Religiaõ. Foy sepultado no Cemeterio antigo do Convento de Lisboa, e sobre a campa se lhe gravou o seguinte epitafio.
Aqui jaz o Padre Fr. Manoel Cardozo Mestre, e Varaõ insigne na Arte de Musica.
Celebraõ o seu nome Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 1. pag. 263. col. 2. In facultate musica aero suo paucis comparandus. Manoel Rodrigues Coelho no Prolog. das Flor. da Music. Cujo parecer deve só bastar por muitos por sua singular erudição. Carvalho Coreg. Portug. Tom. 3. liv. 2. Trat. 8. cap. 47. pag. 627. insigne Mestre e Compozitor na Arte da Musica. Joan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter. Lit. E. n. 26. Fr. Daniel á Virg. Mar. Specul. Carmelit. 2. Part. Tom. 2. part. 5. pag. 1080. num. 397. Fr. Manoel de Sá Memor. Hist. dos Escrit. Portug. da Ordem do Carm. cap. 71. Faria Fuente de Aganip. Part. 2. Poem. 10. Estanc. 72
Desde el Carmelo altissimo el Cardoso.
Que excede al gran Ruger &c.
e Estanc. 73.
Todo a oir la virtud me desacupo
Con la voz del Cardozo de almas robo
Compoz.
Livro de Magnificas a 4. e 5. vozes. Lisboa por Pedro Crasbeeck 1613. fol. grande.
Missae quaternis, quinis, & sex vocibus. Olyssipone apud Petrum Crasbeeck 1625. fol. grande Dedicado ao Serenissimo Duque de Barcellos D. Joaõ.
Missae quaternis, & sex vocibus liber secundus. ibi apud Laurentium Crasbeeck. 1636. fol. Dedicado ao mesmo Senhor sendo ja Duque de Bragança.
Missae de B. Virgine quaternis, & sex vocibus liber tertius ad S. C. R. Maestatem Philippi IV. Hispaniarum Regis, ac novi orbis Imperatorem. ibi apud eumdem Typographum 1646. fol. grande. Dedicado a Filippe IV.
Livro que comprehende tudo quanto se canta na Semana Santa. Lisboa por Lourenço Crasbeeck 1648. fol. Oferecido a ElRey D. Joaõ IV. Outras obras Musicas dignas da luz publica se conservaõ na Bibliotheca Real da Musica como consta do seu Index impresso em Lisboa 1648. 4. Sendo as principaes cinco Missas, huma Magnificat; dous Hymnos, e huma Antifona de diversas vozes na Estante 35. n. 800. Duas Missas, huma de 8. Vozes, e outra de nove num. 802. Dous Vilhancicos do Natal o 1. a 3. vozes, e o 2. a 6. Estante 28. n. 704. Alêm destas obras compoz Psalmos, Responsorios a diversas vozes; Liçoens do Officio de Defuntos, e os celebres Motetes, que se custumaõ cantar ao correr dos Passos, que o Redemptor do mundo deu com a Cruz ás Costas.
[Bibliotheca Lusitana, vol. III]