D. MANOEL DA CUNHA naceo na Cidade de Lisboa sendo filho de Simaõ da Cunha Trinchante mòr de Filippe III. e IV. Sargento mòr de batalha, e D. Luiza de Almeida. Estudadas as letras humanas na patria em que sahio eminentemente instruido frequentou a Universidade de Coimbra aplicado á Jurisprudencia Pontificia na qual fez a sua grande comprehensaõ taõ distintos progressos que recebendo o grao de Licenciado foy admetido a Collegial do Collegio de S. Pedro em 20. de Outubro de 1616. A nobreza do nacimento, a integridade da vida, e a capacidade do talento felizmente conspiraraõ para subir aos lugares que dignamente ocupou, pois havendo sido Deputado das Inquisiçoens de Coimbra, e Lisboa, e Inquizidor nesta Cidade foy Deputado do Conselho Geral de que tomou posse a 12. de Novembro de 1632. e Commissario Apostolico da Bulla da Cruzada. Assumpto de Bispo de Elvas á Mitra Primacial de Braga D. Sebastiaõ de Matos de Noronha lhe sucedeo no Bispado em cuja Diocese entrou a 8. de Mayo de 1634. Exaltado ao Trono Portuguez o Serenissimo Rey D. Joaõ IV. como conhecesse a prudencia, e fidelidade de taõ insigne varaõ o nomeou seu Capellaõ mór orando elegantemente nas Cortes celebradas em Lisboa a 28. e 29. de Janeiro de 1641. em que foy jurado este Monarcha, e seu filho o Principe D. Theodozio, como tambem em as Cortes celebradas em 12. de Outubro de 1653. em que o Reyno fez a mesma cerimonia politica ao Serenissimo Principe D. Affonso. Em ambos estes plausiveis actos foy ouvido cõ geral aclamaçaõ pela vehemente energia, e copiosa facundia com que ornava os seus Discursos. Ultimamente sendo eleito Arcebispo de Lisboa a 2. de Outubro de 1646. falleceo piamente em Lisboa a 30. de Novembro de 1658. quando contava 64. annos dous mezes e meyo de idade. Jaz sepultado no Convento de Nossa Senhora da Encarnaçaõ do lugar de Odolhalvo pouco distante da Villa de Alanquer do Patriarchado de Lisboa habitado de Carmelitas Descalços, e no lado do Evangelho está gravado em hum marmore a seguinte inscripçaõ.
Debaixo do Altar mór aos pés da Senhora que nelle está se mandou sepultar D. Manoel da Cunha Bispo de Elvas, que fundou á sua custa esta Igreja, e Mosteiro filho de Simaõ da Cunha, e de sua mulher D. Luiza de Almeida Copeiro mór dos Reys deste Reyno D. Sebastiaõ, e D. Henrique, e depois Trinchante mòr dos Reys deste Reyno. Foy Bispo, do Conselho Geral do Santo Officio, Commissario da Cruzada, Capellaõ mór dos Reys D. Joaõ o IV. e D. Affonso VI. nomeado por elles Arcebispo de Evora, e Lisboa e Inquizidor Geral. Tudo o que teve conheceo ser mercè da Virgem Maria Mãy de Deos de quem foy devotissimo tomando-a sempre por Advogada em tudo; e assim tudo lhe veyo em dias dedicados á Senhora, que deixou por herdeira neste Mosteiro, e Igreja de tudo o que podia: No dia do Nacimento da Senhora disse a ultima Missa, morreo em Sabbado aos 30. De Novembro de 1658. de idade de 64. annos dous mezes, e meyo.
No lado da Epistola se lê gravado em outro marmore a seguinte inscripçaõ.
Pelo exemplo, e Religiaõ dos Padres Carmelitas Descalços, e devoçaõ, que o Bispo lhes tinha lhes dotou este Mosteiro, e Igreja com obrigaçaõ de quatro Missas Quotedianas perpetuas, e exequias cada anno como consta das Escrituras, que estaõ em poder do herdeiro, e sucessor do Morgado, que instituiraõ seus pays; ao qual deixou por Padroeiro perpetuo do Mosteiro, e Igreja, para que a familia dos Cunhas que nelle por varonia legitima se conserva, na vida, e na morte estivesse debaixo da proteçaõ da Senhora. Poz na Capella mór as sepulturas de seus pays, e avòs. No Carneiro, que està debaixo dellas se naõ póde enterrar se naõ os descendentes dos mesmos seus pays. D. Marianna de Mendoça sua irmaã, e Testamenteira Condessa de Villar-Mayor mandou abrir em pedra esta memoria para que sempre dure, porque o Bispo por sua modestia e singulares virtudes o naõ quiz fazer em sua vida. Fazem honorifica lembrança deste Prelado Souza Lusit.Liber. Proem. 2. §. 2. n. 17. D. Nicol. de S. Mar. Chron. dos Coneg. Reg. liv. 10. cap. 19. n. 1 3. Fr. Ant. de Souza De Orig. Inquisit. §. 4. n. 45. D. Franc. Manoel Carta 1. da centr. 4 das suas Cartas. Pereira Leal. Cathal. dos Colleg. de S. Pedro §. 5 3. Carvalho Cathal. dos Bisp. de Elvas. n. 6. Fr. Pedro Monteiro Cathalog. Dos Deput. de Coimb. n. 13. dos Deput. de Lisboa n. 59. e dos Deputad. do Conc. Geral. n. 39. Joan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter. lit. E. n. 3.
Compoz.
Lusitania Vindicata. 24. Naõ tem anno nem lugar da impressaõ, e nome do Impressor. He hum Manifesto da Justiça com que Portugal aclamou por seu Soberano a ElRey D. Joaõ IV. escrito com summa pureza da latinidade de que era observantissimo cultor seu illustre author como elegantemente o publicaõ Nicolao Monteiro Vox Turturis. Art. 4. cap. 11. Non me tamen contineam (dum in eo inexhaustam dicendi copiam, elegantiam verborum, ac gravitatem sententiarum comtemplor) quin dicam unum cui Pieridum cohors reverenter assurgat: sapientium caetus fasces submittat; orbisque primas eloquentiae tribuat mirabundus. Testor libellum (ut sit ab unguibus agnoscatis Leonem) cui Lusitania Vindicata titulus, quem per tot exteras nationes vagantem tacito authore, quotquot attendunt ad ipsius acumen putarant Taciti, si ad huc viveret, cum tantus praesul illi verus sit author. E Fr. Franc. á D. August. Macedo Propug. Lusit. Gallic. pag. 207. aureum de Lusitania Vindicata libellum, quo nullus politius hac aetate scriptus in lucem prodiit: tam est ob acumen acer, ob judicium gravis, tam dictione floridus, tam stylo nitidus, tam densus sententiis, tam stipatus argumentis, tam munitus jure, tam plenus affectibus, ut mirum sit in tam breri opusculo omnes pene tum juris nervos tum eloquentiae flores inveniri. Cujus author, & si nomen subtrahere modestiae causa, quam proferre maluerit, Ego non sinam in occulto manere, non tam ut ei famam conciliem, quam ut ejus nomine monumentum rei patratae, & justitiae, & authoritatis adjiciam. Is est Illustrissimus D. D. Emmanuel a Cunha Sacris Regiis Praefectus, Eluensis Episcopus, nunc Archiepiscopus Ulyssiponensis designatus, quo nomine audito monemur quantus sit ille tum splendore natalium, tum magnitudine scientiae, tum ornamentis virtutum. O mesmo Padre Macedo fez reimprimir esta obra conforme á que fora impressa em Portugal dizendo no fim desta ediçaõ que tambem he em 24. Historiae scriptor si adposite ad delectationem, ad fidem, ad vitam dicat, implesse munus suum videtur. Lusitanus vero (Illustrissimus Cunha) in vera Lusitania sua haec tria ita miscet, ac temperat ut adlegi inter Historicorum Principes á prudenti Censore possit, & quamquam abhinc saecula permulta non eadem latinae linguae puritas, tamen sic a disertissimis Romanorum modos castissime loquendi curiosa faelicitate mutuatur, tantaque in iis elegantia fulget, ut vocare illos ipsos in certamen dignitatis queat. Sahio vertido em a lingua Castelhana pelo insigne Jacinto Freire de Andrade com o titulo de Portugal Restaurado. Dedicado á Serenissima Rainha D. Luiza Francisca de Gusmaõ. 24. sem anno nem lugar de Impressaõ.
Practica no Juramento, que os tres Estados destes Reynos fizeraõ a ElRey Nosso Senhor D. Joaõ o IV. deste nome, e do juramento, preito, e omenagem, que os mesmos tres Estados fizeraõ ao Serenissimo Principe D. Theodozio nosso Senhor em a Cidade de Lisboa a 28. de Janeiro de 1641. Lisboa por Antonio Alvares 1641. fol.
Practica no Auto das Cortes, que fez aos tres Estados do Reyno ElRey D. Joaõ o IV. deste nome Nosso Senhor na Cidade de Lisboa a 29. de Janeiro de 1641. Lisboa pelo dito Impressor 1641. fol.
Proposta, que fez em Cortes, que se celebraraõ na Cidade de Lisboa em 18. de Janeiro de 1642. Lisboa por Manoel da Silva 1742. 4. He louvada por Antonio de Sousa de Macedo Lusit. Liber. lib. 3. cap. 3. n. 38. e Birago Histor. di Portug. a pag. 236. até 239. a transcreve.
Proposiçaõ das Cortes, que se celebraraõ em Lisboa em 28. de Dezembro de 1645. diante da Magestade delRey D. Joaõ o IV. nosso Senhor estando prezente os tres Estados do Reyno. Lisboa por Paulo Crasbeeck. 1645. 4.
Practica que fez no Juramento do Serenissimo Principe D. Affonso, que Deos guarde nas Cortes, que se celebraraõ em Lisboa em 12. de Outubro de 1653. diante da Magestade delRey D. Joaõ o IV. estando prezentes os tres Estados do Reyno. Lisboa pelo dito Impressor 1653. 4.
Proposiçaõ nas mesmas Cortes celebradas em 23. de Outubro de 1653. diante da Magestade delRey D. Joaõ o I V. estando prezentes os tres estados do Reyno. ibi pelo dito Impressor 1653. 4.
Epistola ad Summum Pontificem nomine Cleri Lusitani. Começa Cum primum Serenissimus Rex Joannes &c. Nicolao Monteiro a transcreveo no seu livro intitulado Vox Turturis art. 4. cap. 19.
Oratio Paranetica ad Parochos Lusitaniae pro commendatione Bullae Cruciatae, atque illius usu. Compoz esta obra quando exercitava o lugar de Comissario Geral da Bulla da Cruzada.
[Bibliotheca Lusitana, vol. III]