D. MANOEL DE PORTUGAL, naceo em a Cidade de Evora para augmento dos gloriosos tymbres com que se ornava, sendo filho terceiro de D. Francisco de Portugal I. Conde do Vimioso, e de sua segunda mulher D. Joanna de Vilhena sua prima segunda filha do Senhor D. Alvaro, e de Dona Filippa de Mello senhora do Condado de Olivença, e de Ferreira de Aves. Aos herdados esplendores do seu claro nacimento corresponderaõ os sublimes dotes do seu grande espirito, sendo insigne cultor das Musas, profundo investigador das dificuldades Filosophicas, na conversaçaõ erudito, no trato afavel, e nas acçoens generoso. Certificado ElRey D. Joaõ III. da sua prudente capacidade lhe concedeo a entrada livre no Gabinete de seu filho o Principe D. Joaõ. Naõ foy menor o conceito, que fez da sua Pessoa ElRey D. Sebastiaõ mandando-o com o Caracter de Embaxador a Castella. Para naõ degenerar da fidelidade de seus Mayores para com os Principes nacionaes seguio as partes do Senhor D. Antonio quando pertencia o Trono de Portugal, e posto que depois obedeceo a Filippe Prudente nunca foy grato a este Principe por conhecer a aversaõ, que sempre tivera ao dominio Castelhano. Foy Commendador de Vimioso, e de Santa Maria em o Bispado do Porto, e Provedor mór das Terças do Reyno. Em o anno de 1556 fundou para padraõ da sua piedade o Convento de JESUS em o lugar de Val de Figueira legoa, e meya distante da Villa de Santarem para Religiosos Arrabidos. Falleceo em Lisboa em idade muito provecta a 26 de Fevereiro de 1606. Cazou duas vezes. A primeira com Dona Maria de Menezes irmaã de D. Joaõ Tello de Menezes Senhor de Aveiras, hum dos sinco Governadores do Reyno, filha de D. Henrique de Menezes Comendador de Idanha a velha na Ordem de Christo, Governador da Casa do Civil, e Embaxador a Roma, e de Dona Joanna de Vilhena filha de Fernaõ Tellez de Menezes senhor de Unhaõ de quem teve D. Francisco de Portugal, que morreo moço: D. Henrique de Portugal, que sucedeo na Casa, Commendador de Santa Maria de Pernes, Embaxador delRey D. Sebastiaõ ao Emperador Rodolfo o qual acõpanhando a este Principe na infeliz jornada de Africa ficou cativo, e cazou com Dona Anna de Attaide sua sobrinha filha de D. Antonio de Attayde segundo Conde da Castanheira: D. Joaõ de Portugal, que se desposou com Dona Magdalena de Vilhena filha herdeira de Francisco de Sousa Tavares Capitaõ mór do mar da India, e das Fortalezas de Cananor, e Dio, e de Dona Maria da Sylva: D. Affonso de Portugal que falleceo na idade da adolescencia. Passou D. Manoel de Portugal a segundas vodas com Dona Margarida de Mendoça Cortereal Senhora do Morgado de Val de Palma na Ilha Terceira, filha de Manoel de Cortereal Senhor da Capitania de Angra, e de S. Jorge, do Conselho delRey D. Manoel, e de Dona Brites de Mendoça Dama da Rainha Dona Catherina, filha de Inigo Lopes de Mendoça Senhor de Rabacilho, e Dona Maria Çapata, e deste Consorcio teve unica a D. Joanna de Mendoça Corte-Real Senhora do Morgado de Val de Palma, que cazou com seu Primo com irmaõ Nuno Alvares de Portugal filho dos Condes de Vimioso D. Affonso de Portugal, e Dona Luiza de Gusmaõ. Celebraõ o seu nome os mayores Cisnes do Parnaso Portuguez como saõ o Principe de todos o divino Camoens Ode 7. da 1. Part. das suas Rimas, que lhe dedica.

A quem foraõ os Hymnos, Odes Cantos

Em Tebas Amfion

Em Lesbos Arion,

Senaõ a vòs por quem restituido

Se vè da Poezia já perdida

A honra ,e gloria igual

Senhor Dom Manoel de Portugal.

Pois logo em quanto a Cythara sonora

Se estimar por o mundo

Com som docto, e jucundo,

E em quanto produzir o Tejo, e o Douro

Peitos de Marte, e Febo crespo, e

louro, Tereis gloria immortal

Senhor Dom Manoel de Portugal.

 Francisco de Sá, e Miranda Eglog. 4.

Filho daquelle nobre, e valeroso

Conde mais junto á Casa Real,

E bastarà dizer de Vimioso

Senhor Dom Manoel de Portugal,

Lume do Paço, das Musas mimoso,

Que certo vos daraõ fama immortal.

Aquella Egloga vossa me foy dada

Encostado jazendo á minha fonte

De versos estrangeiros variada

Parecia que andava a colher flores

Com as Musas, cõ as Graças, cos Amores.

A estes encomios metricos correspondem outros historicos, como saõ Manoel de Faria e Sousa Comment. das Rim. de Cam. na Cent. 3. dos Sonet. Soneto 25. p. 333. col. 2. Fuè ingenioso, y escribio muchos versos no sin erudicion, y affectos, e no Comment. das Odas. Ode 7. pag. 167. Fue Cavallero de luzidas partes, y erudito, que escrivio versos afectuosos, y el primero de Portugal, que despues del largo olvido de los Endecasylabos en España los restituyo con luz digna de alumbrar a otros. Sousa Hist. Gen. da Cas. Real Portug. Tom. 10. p. 793. Foy bom Filosofo, cortezaõ, entendido, e excellente Poeta. Joan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter. lit. E. n. 66. Fonseca Evor. Glor. p. 413. Publicou

Obras Poeticas. Lisboa, por Pedro Crasbeeck 1606. 8. Consta de 17 livros que comprehendem diversos generos de Versos como saõ Cançoens, Endechas, Odes, Outavas, Romances, Sextinas, Sonetos, Sparsas, e Tercetos. No fim tem hum Tratado breve de Oraçaõ em Prosa.

Obras Lyricas em Castelhano. Estavaõ na Livraria de D. Antonio Alvares da Cunha.

Varias Obras Poeticas. Conservavaõ-se na Livraria do Illustrissimo Arcebispo de Lisboa, D. Rodrigo da Cunha como consta do Index da dita Livraria impresso no Porto 1627. 4.

Tres Sonetos, e huma Elegia, e huma Cançaõ, e huma Ode. No Cancioneiro de Pedro Ribeiro escrito no anno de 1577 que está M. S. na Livraria do Excellentissimo Duque de Lafoens, que foy do Emminentissimo Cardeal de Sousa.

Diana dos Ermitães. M. S.

Deserto do seu Entendimento. M. S.

Destas duas obras faz mençaõ o P. Sousa Hist. Gen. da Cas. Real. Tom. 10. p. 794.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]