AFFONSO DE TORRES, naceo em a Cidade de Lisboa de ilustres Progenitores, quaes foraõ Joaõ Ruiz de Torres Commendador de Monte Mór o novo da Ordem de Christo do Concelho delRey Fillipe II e D. Guiomar de Vilhena filha de Ruy Telles de Menezes Alcaide mór da Covilhaã, e de D. Leonor Manrique. Logo desde a puerícia foy instruído naquelas artes dignas do seu nacimento. Chegando à idade adulta começou a aborrecer o ócio da Patria, e aspirar à gloria imortal, que se alcança pelas armas, para cujo nobre intento concorreo seu Pay mandando-o para Flandes, que naquele tempo era o mais famoso teatro de Marte, onde já como Soldado, já como Capitaõ executou singulares proezas. Restituido ao Reyno, casou com D. Catherina Mondragon, de quem como da segunda mulher D. Magdalena Henriquez filha de D. Gonçalo da Costa Armeiro mór naõ teve successaõ. Passando a terceiras vodas se despozou com D. Violante Manrique sua sobrinha filha de Ayres de Sousa de Castro Commendador da Alcaçova em Santarem, da qual teve a D. Leonor Manrique, que casou com seu Tio Francisco de Melo e Torres, Marquez de Sande, varaõ de suuma prudencia, e profunda politica. A mayor parte da vida passou em Lisboa taõ inimigo de occupaçoens publicas, como amande da liçaõ dos livros. Foy versado na Historia, e principalmente em huma das mais nobres partes della, qual he a Genealogia escrevendo Genealogias das Familias de Portugal, 8 Tom, folh. Estes livros se acabaraõ no anno de 1630 cujos Originaes se conservaõ na Livraria do Excelentissimo Marquez de Abrantes dos quaes mandou extrahir huma copia excelentemente escrita Garcia de Mello, e Torres segundo Conde da Ponte neto do Author, que se guarda na sua Casa. Nesta grande obra se admira a vasta noticia da Historia, em que era profundamente douto Affonso de Torres, pois todas as famílias, de que escreve, estaõ ilustradas com noticias das nossas Chronicas, e varos documentos extrrahidos do Archivo Real fazendo-se mais estimável pella recta intensaõ, co que as escreveo sem a menor preoccupaçaõ de alguma paixaõ dominante, que o impellise a descobrir o mais leve defeito no esplendor de tantas famílias. De outra obra diversa da precedente se lembra Manoel de Galhegos na Prefaçaõ do Templo da Memoria, onde falando do quanto trabalhou para este Livro affirma saõ tiradas estas noticias, humas dos Nobiliarios, e dos Annaes de Espanha, outras de papeis authenticos, e Chronicas deste Reyno, em particular de huma, que está para dar à estampa Affonso de Torres, donde se inclue tudo o que he histórico de Portugal. Delle fazem memoria D. Franc. Manoel na Carta Escrita a Manoel Themudo da Fonseca, que he a primeira da 4 Cent. Das suas Cart. D. Luiz Salaz. e Castr. Hist. Gen. da Casa de Sylv., part. 2, liv. 9, cap. 26 n 18. Joan. Soar. de Brit. in Theatr. Lusit. Litter. letr. A n 17 e o Padre D. Ant. Caet. de Sous. no Appar. à Hist. da Casa Real de Portug., pag. 71 & 54.
[Bibliotheca Lusitana, Historica, Critica e Chronologica, vol. 1]