P. AFFONSO DE CASTRO, naceo em Lisboa, e logo na primeira idade deo sinaes evidentes das virtudes, que havia de exercitar na adulta, sendo todo o seu desvelo a contemplação das delicias celestiais, e o desprezo das glorias mundanas. Dezejoso de derramar o sangue em obsequio de Christo intentou professar na Companhia de JESUS, e para que alcançasse a sua pertenção se embarcou para a India com o Padre Frãcisco Vieyra seu Confessor, sem que participasse a seus Pays esta heroica resolução. Chegando a Goa, depois de examinado o seu espirito pelo Apostolico Magisterio de S. Francisco Xavier o julgou digno de que entrasse na Companhia de Jesus, e he destinou para teatro dos seus apostólicos trabalhos as Ilhas Molucas. Nellas brilhou a sua ardente Charidade empenhando-se com a voz, e com o exemplo radicar nos coraçoens daqueles bárbaros a Fé Catholica, dos quaes conduzio huma inumerável multidão ao rebanho de Christo. Envejozo o demónio do fruto espiritual que este Sagrado Varão colhera pelo espaço de nove annos na cultura desta vinha instigou a ElRey de Ternate para que o privasse da vida. Foy executor desta barbara ordem o Principe Babú, o qual acompanhado de alguns bárbaros aleivosamente o prenderaõ na Ilhota de Irez, que defronta com Ternate, e despindo-o com grande violência lhe puseram ao pescoço hum tronco de desmarcada grandeza, e neste estado o deixaraõ exposto sobre a terra trinta dias aos ardores do sol, e às inclemências do tempo. Ultimamente foy levado por dous rebustos negros ao lugar do supplicio onde prostrado de joelhos inclinando a cabeça sobre hum tronco recebeo com placido animo três feridas, que foraõ as portas por onde sahio o seu espirito a coroar-se na eternidade em o primei8ro de Janeiro de 1558. O Ceo se empenhou a testemunhar com admiráveis demonstraçoens a santidade deste Varaõ Apostolico; pois sendo lançado o seu venerável corpo em hum canal de corrente taõ arrebatada, que no espaço de hum dia o podia levar distante mais de vinte, e cinco legoas, passados três foy achado boyando sobre as aguas com as feridas frescas, e resplandecentes, e nesta prodigiosa forma se conservou por muitos dias. As acloens deste Evangelico Operario com mayor individuação escritas se podem ler em Orland. Hist. Societ., part. 1, lib. 8 n 128, lib. 9 n 166, liv. 12 n 132, liv. 13 n 82; Sachin. Hist. Societ., part. 2, lib. 1 n 19 e 156, lib. 2 n 175; Ribad. Vida del P. Layn., liv. 2, cap. 1; Jarric. Thezaur. rer. Indic., tom. 1, lib. 2, cap. 28; Vasconc. in Discript. Regn. Port., pag. 498; Gusman Hist. delas Mission. dela Compan., part. 1, liv. 2, cap. 50; Alegamb. in mortib. Illust. ad an. 1558; Nadasi in Ann. Dier. Mem. S. J., pag. 12; Tanner Soc. Jes. usque ad sang. & vit. profusion. milit., pag. 227, 228 e 229; Bartol. Hist. del’Asia, liv. 6, pag. 385; Bonart. in Amphit. hon., cap. 4; Benson. de Iubil, lib. 1, cap. 9; Bonsius de Sign. Eccl., lib. 5, sign 21; Elias à D. Teresa Leg. Ecclaes. Triumf., lib. 2, cap. 31 n 56; Cardos. Agiol. Lusit., tom. 1, pag. 2 e 8; Sousa Orient. Conq., tom. 1, conq. 3, divis. 3 & 18. Carta escrita a Santo Ignacio e ao Padre Simão Rodrigues das Molucas em 7 de Fevereiro de 1553. Carta escrita em Ternate a 18 de Janeiro de 1554 ao Reytor do Collegio de Goa. Carta escrita de Amboino em 13 de Mayo de 1555 ao mesmo Reytor. Estas três Cartas se conservaõ no Archivo da Casa Professa de S. Roque de Lisboa, e as duas ultimas sahiraõ traduzidas em Italiano, Veneza por Miguel Tramezzino, 1559, 8, tendo já sahido a segunda abbreviada. Roma por Antonio Bladio, 1556, 8.

 

[Bibliotheca Lusitana, Historica, Critica e Chronologica, vol. 1]