MANOEL DO VALLE DE MOURA, naceo em a Villa de Arrayolos da Provincia Transtagana, sendo filho de Francisco do Valle Escrivaõ da Camera da dita Villa, e Victoria Caldeira Matrona insigne, assim na intelligencia das divinas letras, como no exercicio de virtudes, da qual faz honorifica mençaõ Fr. Luiz dos Anjos Jard. de Portug. pag. 607. Instruido nas humanidades, e lingoa Latina aprendeo as sciencias severas na Universidade de Evora, onde recebeo o grao de Doutor em Theologia, e querendo dilatar a esfera do seu grande engenho por outras Faculdades passou a Academia Conimbricense, e aplicado á Jurisprudencia Pontificia se graduou nella com aplauso de todos os Cathedraticos. A madureza do juizo unida com a profundidade da litteratura o habilitaraõ, para que o nomeasse o Duque de Bragança D. Theodosio II. Abbade da Igreja de Santa Christina de Barroso, e depois de Mestre do Senhor D. Alexandre, filho dos Serenissimos Duques de Bragança D. Joaõ, e Dona Catherina, devendo ao seu magisterio as prudentes acçoens que praticou nos supremos lugares de Inquisidor Geral, e Arcebispo de Evora. Sendo Eleito Deputado da Inquisiçaõ de Evora a 15 de Setembro de 1603, desempenhou a eleiçaõ no ardente zelo com que servio este Tribunal. Nos ultimos annos tolerou com heroica constancia a falta de vista, que lhe era mais molesta por naõ poder usar dos livros em que sempre achou a sua mayor deleitaçaõ, mas como conservava a memoria do que tinha lido compoz varias obras depois de cego ornadas de doutrinas Theologicas, e de textos de hum, e outro Direito nomeando o numero das paginas dos livros, que allegava para authorizar as suas opinioens, podendo com grande propriedade aplicarselhe o que de Eusebio tambem cego escreveo Cassiodoro Lect. Divin. cap. 5. Hic tantos Authores, tantos libros in memoriae suae Bibliotheca condiderat, ut legentes probabiliter admoneret in qua parte Codicis quod praedixerat, invenirent… Disciplinas omnes, & animo retinebat, & expositione planissima lucidabat. Falleceo em Evora a 18 de Mayo de 1650, quando contava 86 annos de idade. O Padre Francisco da Fonseca Evor. Glor. pag. 305. depois de intitular a Manoel do Valle de Moura insigne Varaõ Douto, e Sabio, escreve que sua Mãy morrera no anno de 1624, e pouco depois fallecera elle, cuja asseveraçaõ he certamente falsa pois, dizendo o Padre Fonseca que o Doutor Valle servira ao Santo Officio mais de 40 annos, e entrando elle no serviço do Tribunal, em o anno de 1603, morrendo em 1624 sómente tinha exercitado o lugar de Deputado 21 annos, e naõ 40, como certamente exercitou. Fagundes Tract. Apolog. pro esu ovor. temp. Quad. cap. 8. n. 58. lhe chama sapientissimus Doctor, e cap. 6. n. 46.  Virum doctissimum Joan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter. lit. E. num. 84. Quamquam caecum, oculatissimum semper. Theoph. Raynaud. Tom. 9. Agiol. Exot. p. 269. col. 1. Erit quod gratulemur Lusitaniae quod adeo bene oculatos caecos ediderit. Rodrigues Leitaõ Tract. Analyt. Apolog. n. 400. Vir summae eruditionis, & fidei vere integrae. Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. I. p. 274. col. Vir admodum eruditus. Sousa Hist. Gen. da Cas. Real Portug. Tom. 6. p. 292. Homem Letrado, e de vida exemplar.

Compoz

De Encantationibus, et Ensalmis. Eborae Typis Laurentii Crasbeeck 1620. Fol. Erudita, chama a esta obra D. Franc. Manoel de Mello na Cart. I. da Cent. 4. Das suas Cartas.

De Stigmatibus Sancto Francisco impressis ab Angelo, non ab ipso Jesu Domino nostro Crucifixo. M. S. Desta obra faz mençaõ Martin. Lipen. Bib. Real Theolog. p. 707.

Linguagem Litteral do Psalmo Miserere mei Deus. Offerecida ao Senhor Dom Alexandre seu discipulo, que determinava imprimir. Qui habitat in adjutorio Altissimi. Traduçaõ em Portuguez.

Apologia acerca do Touro chamado de S. Marcos. Offerecida ao Illustrissimo e Reverendissimo D. Miguel de Portugal Bispo de Lamego. Consta de quarenta folhas, cujo Original, com as licenças do Santo Officio, Ordinario, e Dezembargo do Paço se conserva na Livraria dos Padres Theatinos desta Corte.

Tractatus de filiatione dubia.

…… de irregularitate ex aborsu contracta.

…… de Parocho residere omittenti.

…… de Clerico Villico.

Dous Tratados sobre a expulsaõ dos Judeos.

Tratado sobre a successaõ da Casa de Bragança na Coroa de Portugal. Conserva-se esta obra na Livraria do Convento de S. Domingos de Evora, e a allega o insigne Manoel Rodrigues Leitaõ Trat. Analytic. p. 185. dizendo de seu Author, cuja virtude, verdade, e authoridade naõ permite duvida.

Illustraçaõ á primeira Ode de Camoens, com hum discurso excellente sobre o Poema Heroico. Conserva-se na Livraria do Excellentissimo Conde de Vimieiro.

Discurso Academico sobre o terceiro Capitulo dos Proverbios recitado em Agosto de 1622.

 

 [Bibliotheca Lusitana, vol. III]