Sor MARIA DO CEO, naceo em Lisboa a 11 de Setembro de 1658, com outra irmaa taõ semelhantes na figura, e juizo, que sómente as vozes, e os nomes desenganaõ a equivocaçaõ dos olhos. Teve por Progenitores a Antonio Deça, e D. Catherina de Tavora illustres igualmente pelo sangue, como pela piedade. Quando contava 18 annos de idade sacrificou a sua liberdade nas aras da obediencia professando o instituto Serafico em o Convento patrio da Esperança a 27 de Junho de 1676. A prudencia unida com a affabilidade lhe conciliaraõ tal affecto em todas as Religiosas que por uniforme aclamaçaõ foy duas vezes Abbadessa, huma Porteira, e outra Mestra das Noviças. Todo aquelle tempo que lhe restava das ocupaçoens monasticas o consumia na liçaõ dos livros, em que se fez summamente erudita. Na metrificaçaõ Portugueza, e Castelhana brilhou com excesso o seu enthusiasmo produzindo diversas Poezias a assumptos sagrados, em que se admiraõ venturosamente unidas suavidade de vozes, e delicadeza de pensamentos. Naõ he menos estimavel o seu talento na Prosa, em que os seus discursos se ornaõ de expressoens eloquentes, frazes elegantes, e sentenças agudas. Para evitar o aplauso que merecem as suas obras as publicou com modesta dissimulaçaõ em nome de Sor Marina Clemencia Religiosa Franciscana no Convento da Ilha de S. Miguel, das quaes he o Cathalogo seguinte.
A Feniz aparecida na vida, morte, sepultura, e milagres da gloriosa S. Catherina Rainha de Alexandria, Virgem, e Martyr com sua Novena, e perigrinaçaõ ao Sinay. Lisboa na Officina Real Deslandesiana. 1715. 8.
A esta obra, como a sua Authora celebra o P. Antonio dos Reys Euthus. Poet. n. 281.
Sedula Musarum viridanti fronde Marinam
Turba coronabat, Phario que è sanguine Cretae
Virginis eximias celebrantem carmine laudes
Audire ut possit reliquis non adjicit aures.
A Preciosa. Allegorica Moral. Part. 1. Lisboa na Officina da Musica 1731. 8.
A Preciosa: obras de Misericordia em primorosos, e mysticos Dialogos expostas. Elogios dos Santos em varios Cantos poeticos, e historicos. Lisboa na mesma Officina 1733. 8.
Obras varias, e admiraveis. Lisboa por Manoel Fernandes da Costa 1735.
Aves illustradas, e avisos para as Religiosas servirem os officios de seus
Mosteiros. Lisboa por Miguel Rodrigues 1738. 8.
Triunfo do Rosario repartido em sinco Autos do mesmo, muito devotos, e divertidos pelas singulares idéas. Lisboa por Miguel Manescal da Costa 1740. 8.
Enganos do bosque, desenganos do rio. Lisboa, por Antonio Isidoro da Fonseca. 1741. 8.
Relaçaõ da vida, e morte da Serva de Deos a V. Madre Helena da Cruz Religiosa do Convento da Esperança desta Cidade de Lisboa no anno de 1721. M. S. Conserva-se huma copia (como vimos) na Livraria dos Padres Teatinos
desta Corte. Começa. Misturando as lagrimas com a tinta pela saudade. Acaba.
Deste pouco, que aqui vay escrito para a noticia se póde conhecer o muito que ella foy para a realidade, e melhor a ponderará a fé piedosa, que a penna rude
Tres Autos a S. Aleixo, cujos titulos saõ
Mayor fineza de Amor.
Amor, e Fé.
As Lagrimas de Roma.
En la Cura vá la flecha. Comedia.
Preguntarlo a las Estrellas. Comedia.
En la mas escura noche. Comedia.
Dos tres Autos, como destas tres Comedias M. S. faz mençaõ o Theatr. Heroin. Tom. 2. p. 243. fallando da sua Authora, da qual tambem se lembra com louvor o P. D. Antonio Caetano de Sousa Hist. Gen. da Cas. Real Portug. Tom. 10. p. 636.
[Bibliotheca Lusitana, vol. III]