NUNO DA SYLVA TELLES. Naceo em Lisboa a 3 de Fevereiro de 1666, sendo filho segundo de Manoel Telles da Sylva I. Marquez de Alegrete, II. Conde de Villar-Mayor, Gentil-homem da Camara dos Reys D. Pedro II. e D. Joaõ V., Regedor das Justiças, Védor da Fazenda, Conselheiro de Estado, e do despacho, Embaixador extraordinario ao Eleitor Palatino, e de D. Luiza Coutinho, filha de Nuno Mascarenhas Senhor de Palma. Nos primeiros annos mostrou tal viveza de juizo, que foy infallivel vaticinio do sublime progresso, que havia de fazer em letras amenas, e severas. Instruido nas lingoas, Latina, Castelhana, e Franceza passou á Universidade de Coimbra, onde como Mestre, e Reitor se admiraraõ a agudeza do seu talento, e a direçaõ do seu governo. Recebido o grao de Doutor na Faculdade de Direito Pontificio a 19 de Janeiro de 1687, e de Conductario com privilegio de Lente a 27 de Junho do mesmo anno, foy Conego Doutoral na Primacial de Braga a 9 de Dezembro de 1689. Renunciando o Deado de Lamego em Luiz Guedes da Cunha, Chantre de Evora com pensaõ de trezentos mil reis, lhe conferio seu Tio o Illustrissimo Arcebispo de Evora D. Fr. Luiz da Sylva o Canonicato na mesma Cathedral que vagara por morte de Agostinho Caldeira Pimentel, do qual tomou posse a 22 de Setembro de 1695. De Deputado da Inquisiçaõ de Coimbra passou a ser de Lisboa, em 5 de Março de 1619, e a Deputado da Mesa da Conciencia, donde subio a Reitor da Universidade de Coimbra, de que tomou posse a 16 de Novembro de 1694, em cujo lugar foy duas vezes reconduzido. Á sua grande actividade se deveo a ereçaõ das Aulas da Universidade em que se lançou a primeira pedra a 17 de Junho Domingo da SS. Trindade mandando collocar huma figura de pedra sobre a fachada de cada Aula, que representasse a Sciencia, que nella se dictava, e na parte inferior de cada huma gravou hum dystico latino composto pela sua elegante Musa, em que foy feliz o seu engenho, como tambem na Poesia vulgar. Nas Cortes celebradas em Lisboa no 1 de Dezembro de 1697 em que foy jurado Sucessor desta Coroa o Principe Dom Joaõ servio de Capellaõ mór por ser o Sumilher da Cortina daquella semana. Falleceo intempestivamente na Quinta das Lapas situada no termo da Villa de Torres-Vedras a 3 de Março de 1703 na florente idade de 37 annos. Jaz sepultado na Igreja do Espirito Santo do lugar de Monte-Redondo, junto da dita Quinta. Compoz

Ad Rubric. de alienatione judicii mutandi causa facta. fol. M. S.

Poesias varias. 4. Conservaõ-se na Livraria do Excellentissimo Marquez de Alegrete. Em obsequio da curiosidade transcrevemos os Dysticos, que compoz, e estaõ gravados no frontispicio das Aulas da Universidade de Coimbra em que se admiraõ felizmente tinidas a elegancia do metro, e agudeza do conceito. No portico do Claustro das Aulas está a imagem da Sabedoria com o seguinte dysticho.

Ecce sibi qualem posuit Sapientia sedem

Quà non in toto clarior orbe micat.

Na Aula da Theologia

Sacrorum secreta Patrum, secreta verenda

Metis, & haec ipsum personat aula Deum.

Na Aula dos Sagrados Canones

Quae potis est Caeli postes reserare micantes

Clavis, & ipsa tibi jus aperire potest.

Na Aula das Leys

Caesareas reges, & claros juris honores

Dum doces ipsa tibi quod doces aula dabit.

Na Aula da Instituta

Hic poterit Tyro stipendia prima mereri

Quisquis est auditor perge Magister eris.

Na Aula da Medicina

Artis Apollineae normas audire salubres

Vivere siquis amor, discere si quis honor.

Na Aula da Mathematica

Quidquid in immenso pinxit natura theatro

His brevibus Zonis picta tabella dabit.

Na Sala dos Exames privados

Discutit hic doctos supremum examen alumnos.

Ut capiant studiis praemia digna suis.

 

 [Bibliotheca Lusitana, vol. III]