PEDRO DE ALCAÇOVA CARNEIRO, Conde das Idanhas, e Comendador das Olalhas, e Carracheira naceo em Lisboa nas Casas da porta de Alfofa, que eraõ de seu Tio materno Pedro de Alcaçova, e recebeo a graça bautismal na Parochia de S. Bartholomeu a 29 de Junho de 15… Foraõ seus Progenitores Antonio Carneiro Secretario dos Serenissimos Monarchas D. Manoel, e D. Joaõ III., e Beatriz de Alcaçova de igual nobreza á de seu Consorte. De desasseis irmaõs de hum, e outro sexo foy elle o penultimo, e como ficasse orfão de sua Mãy na tenra idade de anno e meyo o mandou seu Pay aprender os rudimentos da lingoa materna, e latina. Taõ anticipada comprehensaõ mostrou o seu talento, que quando contava 14 annos servindo de lançar area nos papeis que assinava ElRey D. Joaõ III., e lhe offerecia seu Pay como Secretario, mandou este Principe que servisse em seus impedimentos, e assistisse aos Conselhos de Estado, pois a madureza do juizo supria a verdura da idade. Teve por Meste da Politica ao grande Conde de Vimioso D. Francisco de Portugal, que lhe dictava as cartas de mayor importancia, e as escreveo até a idade de 22 annos, de cuja escola sahio consumado Ministro, naõ havendo negocio em que fosse interessada a Monarchia que ElRey naõ consultasse com elle, principalmente quando o elegeo seu Escrivaõ da Puridade conformando-se sempre com o seu voto, como nacido de animo fiel, e desenteressado. Assim o cantou em seu aplauso o insigne Jurisconsulto, e elegante Poeta Manoel da Costa de Nupt. Ser. Eduard. Portug. Inf. & Isab.

Qui Regis secreta tibi comissa fideli

Omnia conservas animo cui sufficis omnes

Unus in Europae,Lybiaeque Asiaequae libellos.

O mesmo Elogio lhe fez em differente lingoa o Doutor Antonio Ferreira liv. I. das Cartas 2. Cart. 2.

Dos segredos reaes segura guarda

A cujos olhos se abre o real peito

Em cujo peito seus intentos guarda.

Naõ foy menos estimada a sua capacidade por ElRey D. Sebastiaõ nomeandoo Védor da sua Fazenda, Conselheiro de Estado, e Embaixador á Magestade de Filippe Prudente no anno de 1576, cuja Embaixada como seu companheiro

descreve o grande Poeta Diogo Bernardes Lima Cart. 32. a Joaõ Rodrigues de Sá e Menezes.

Este chamado Pedro, em cujo nome

Taõ firme vejo os seus dous apellidos

Que por mais que passe hum tempo,outro assome

Sempre seraõ por elle esclarecidos.

Este de quem o aviso exemplo tome

A quem reaes favores saõ devidos

Mandou porque mais delle participe

ElRey Sebastiaõ a ElRey Filippe.

Restituido brevemente a Portugal acompanhou a ElRey D. Sebastiaõ na jornada que fez ao Sanctuario de Guadalupe, e voltando este Principe para a Corte, como conhecesse o talento deste vassallo o nomeou na ocasiaõ em que partio para a Africa no anno de 1578 Governador do Reino, juntamente com o Arcebispo de Lisboa D. Jorge de Almeida, Francisco de Sá, que depois foy Conde de Matozinhos, e Dom Joaõ Mascarenhas, que heroicamente defendera a Praça de Dio contra a formidavel Potencia delRey de Cambaya. Sucedendo nesta Coroa o Cardeal D. Henrique pela lamentavel tragedia dos Campos de Alcacer se valeo da sua prudente actividade em beneficio do Reino, como tambem Filipe Prudente, quando mais por violencia, que justiça empunhou o Scetro Portuguez confiando da sua capacidade os mais graves negocios. Sendo respeitado de tantos Principes naõ deixou de experimentar alguns infortunios maquinados pela inveja de seus emulos, que soffreo constante, e dissimulou prudente. Nunca se contaminou com a vil paixaõ do interesse, e muito menos com o veneno da lisonja mostrando em todos os votos que dava aos seus Soberanos, que naciaõ do amor da verdade, e odio da cubiça. Do seu religioso animo será eterno monumento o Convento de N. Senhora do Amparo chamado vulgarmente Casa nova situada quatro legoas distante de Lisboa para a parte do Nordeste, que sendo fundado por seu Tio Fernaõ de Alcaçova para religiosos de S. Jeronymo, e naõ podendo continuar o edificio impedido pela morte deixou recomendado a seu sobrinho que lhe desse a ultima perfeiçaõ, o que promptamente executou ornandoo de estimaveis reliquias, e preciosos ornamentos, o qual he habitado no tempo presente por Religiosos Capuchos da Serafica Provincia de S. Antonio. Falleceo em Lisboa a 12 de Mayo de 1593, e foy seu Testamenteiro Miguel de Moura Secretario de Estado, de quem se fez mençaõ em seu lugar. Foy casado com Dona Catherina de Sousa, filha de D. Diogo de Sousa, Alcaide mór de Thomar, e de sua mulher D. Isabel da Cunha, de quem teve a D. Antonio de Alcaçova Carneiro, que casou com D. Maria de Noronha e Sylva, Senhora das Alcaidarias de Campo-Maior, e Ouguella: Luiz de Alcaçova, Senhor das Villas de Figueiró, e Pedrogaõ, e Alcaide mór de Penella de juro, e herdade por merce delRey D. Joaõ III. por casar com D. Joanna de Vasconcellos sobrinha de seu Pay: D. Beatriz de Alcaçova, que se desposou com D. Francisco de Lima herdeiro da Casa do Bisconde de Villa-Nova de Cerveira D. Joaõ de Lima: D. Maria de Alcaçova casada com D. Alvaro de Mello, filho de D. Alvaro de Mello, e Neto do Marquez de Ferreira. As outras filhas, foy huma Dama da Rainha Dona Catherina, e duas religiosas, huma de Saõ Francisco, e outra de Saõ Bernardo. Fazem honorifica memoria da sua pessoa Luiz de Torres Suces. de Portug. cap. 31. Manoel de Faria e Sousa Europ. Portug. Tom. 3. Part. 2. cap. 1. n. 20. Illustris. Cunha Hist. Eccles. de Brag. Part. 2. cap. 79. Fr. Fernando da Soled. Hist. Seraf. da Prov. de Portug. Part. 4. liv. cap. 15. §. 1129. Fr. Martinho do Amor de Deos Chron. da Prov. de S. Anton. Tom. 1. liv. 1. cap. 23. §. 369. Bayaõ Hist. Chronol. delRey D. Sebastiaõ liv. 2. cap. 7. e liv. 3. cap. 21. e liv. 4. cap. 2. e 23. Sousa Hist. Gen. da Cas. Real Portug. Tom. 1. pag. 515. e 614Fr. Anton. da Pied. Chron. da Prov. da Arrab. Part. I. liv. 2. cap. 8. §. 241. e 242. Compoz

Carta escrita de Lisboa a 12 de Setembro de 1574 a ElRey D. Sebastiaõ para que volte de Ceuta. Sahio impressa na Histor. Chronol. deste Principe escrita por Jozé Pereira Bayaõ liv. 3. cap. 7.

Memoriaes da Embaixada a ElRey de Castella. Impressos na dita Historia liv. 3. cap. 22. e 23. e nas minhas Memor. Polit. e Milit. delRey D. Sebastiaõ Part. 4. liv. 1. cap. 2.

Conselho offerecido a ElRey D. Sebastiaõ acerca da jornada de Africa no anno de 1578. Sahio na dita Historia. liv. 4. cap. 14. e nas Mem. Polit. e Milit. delRey D. Sebastiaõ Part. 4. liv. 1 . cap. 18.

Parecer que deu acerca da nomeaçaõ do Governador do Reino na ausencia delRey D. Sebastiaõ no anno de 1578. Sahio nas Mem. Polit. e Milit. delRey D. Sebastiaõ. Part. 4. liv. 1. cap. 23.

Tratado da sua vida. M. S. Começa Divida, e necessaria cousa he, &c. Acaba. Possa alcançar della a vida eterna. He escrita com elegancia, e discriçaõ, da qual faz mençaõ como de seu Author, D. Agostinho Manoel no juizo, que fez da

Historia Ecclesiastica de Braga, escrita pelo Illustrissimo D. Rodrigo da Cunha.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]