D. PEDRO DA CUNHA, Senhor de Taboa Commendador de S. Martinho de Dormes, em a Ordem de Christo, General das Galés do Reyno, e das Costas do Algarve, Conselheiro de Estado, filho de D. Ayres da Cunha Senhor de Taboa, e D. Mayor de Bulhaõ, filha de Affonso Lopez de Bulhaõ illustrou a nobreza do seu nacimento com as heroicas proezas, que em Africa, e Asia obrou em obzequio da patria. A Praça de Tangere, da qual era Capitaõ mór seu Primo D. Alvaro de Abranches foy o primeiro theatro do seu valor derrotando por varias vezes aos inimigos, que podiaõ resistir á sua espada. Avizado D. Joaõ o III, de que a Praça de Azamor era invadida pelo Xarife no anno de 1534 o mandou assistir naquella Fortaleza, donde passou á de Mazagaõ bastando sómente a sua prezença para firme segurança contra toda a invasaõ inimiga. De Africa foy mandado a Asia partindo no anno de 1538 em companhia do Vice-Rey D. Garcia de Noronha, para se opor á Armada que contra a India preparava Baxa Solimaõ, e logo que chegou a Goa, para que naõ estivesse ocioso o seu valor se achou no cerco de Dio, e em todas as mais celebres emprezas do tempo dos Governadores D. Garcia de Noronha, e D. Estevaõ da Gama, no fim das quaes se restituio a Portugal mais abundante de gloria, que de fazenda. Ainda naõ tinha descançado de taõ larga jornada, quando emprendeo outra por ordem do seu Soberano acudindo a Alcacer, que se receava ser invadida por Barba roxa. Nomeado no anno de 1550 Capitaõ mór das Galés, e Armada da Costa do Algarve foraõ multiplicadas as vistorias que alcançou dos Turcos cativando em huma ocaziaõ outo Galés, e prizionando em outra a Xamarate Armiz Capitaõ mór de outo Galés, que parte dellas foy aprezada, e outra comida pelas ondas. Sendo eleito no anno de 1557 Capitaõ mór de huma Armada expedida a Flandes lhe significou ElRey por hûa carta, que sómente fiava da sua Pessoa aquella empreza quando em outra podia correr grande perigo. O conceito que do seu valor, e capacidade tinha formado este Principe se augmentou em seu Neto D. Sebastiaõ nomeando-o Capitaõ de Ceuta, onde triunfou varias vezes das astucias do Alcaide de Tetuaõ. Voltando para a patria servio de Capitaõ mór da gente da governança de Lisboa, e de Vereador do Senado em que mostrou vigilante providencia igual ao seu ardor militar. Naõ foy inferior o zelo que practicou, quando eleito por ElRey D. Sebastiaõ no anno de 1570 Prezidente da Alçada para as Comarcas da Beira, e Entre Douro e Minho reprimio o orgulho dos poderosos, e libertou os pobres de opressoens. O mesmo Monarcha intentou que o acompanha-se na jornada de Africa executada no anno de 1578 para que fosse directcor das suas açoens, mas antevendo o tragico fim daquella expediçaõ se escuzou com o numero dos annos que contava. Por ser fidelissimo parcial do direito que o Senhor D. Antonio Prior do Crato tinha á Coroa Portugueza finalizou a vida recluzo na Torre de Belem. Foy casado com D. Maria da Sylva, filha de Ruy Pereira da Sylva Guarda mór do Principe D. Joaõ, Pay do Serenissimo Rey D. Sebastiaõ Senhor do Morgado de Monchique, e Alcaide mór de Sylves, e D. Izabel da Sylva de quem teve a D. Lourenço da Cunha Governador da India, e ao Illustrissimo Arcebispo de Braga, e Lisboa o insigne D. Rodrigo da Cunha, bastando este filho para credito de tal Pay. Foy muito inclinado ao estudo da Genealogia escrevendo.
Nobiliario das Familias de Portugal. fol. M. S. Delle como de seu Author faz mençaõ D. Thomaz Tamayo de Vargas Geneal. dos Sousas de Miranda.
[Bibliotheca Lusitana, vol. III]