RODRIGO ANNES DE SÁ ALMEIDA E MENEZES, Terceiro Marquez de Fontes, e primeiro de Abrantes, setimo Conde de Penaguiaõ, Alcaide mór, e Governador das Armas da Cidade do Porto, e das Fortalezas de S. Joaõ da Foz do Douro, e de Nossa Senhora das Neves em Lessa de Matozinhos, Alcaide mór de Abrantes, Commendador das Commendas de Saõ-Tiago de Cacem, e de S. Pedro de Faro da Ordem de Saõ-Tiago, Gentilhomem da Camara delRey D. Joaõ V, e seu Embaxador Extraordinario ás Cortes de Roma, e Madrid, Vedor da Fazenda, e Cavalleiro da Ordem do Tusaõ de Ouro, naceo em Lisboa a 19 de Outubro de 1676. Foraõ seus claros Progenitores Francisco de Sá e Menezes primeiro Marquez de Fontes, e quarto Conde de Penaguiaõ, Deputado da Junta dos Tres Estados, e D. Joanna de Lencastre, filha de D. Rodrigo de Lencastre Commendador de Coruche da Ordem militar de Aviz, e Alferes mór desta milicia, Capitaõ General de Tangere, e de D. Ignez de Noronha, filha de Joaõ da Sylva Tello, e Menezes primeiro Conde de Aveiras. Pela morte de dous Irmaõs que lhe precederaõ na ordem do nacimento o destinou a providencia para unico Sucessor da sua grande Caza, sendo educado com as maximas catholicas, e politicas de sua sabia Mãy por lhe faltar na infancia o Marquez seu Pay. A perspicacia do juizo, e a madureza do talento de que beneficamente o dotou a natureza se admiraraõ nos estupendos progressos que fez nas Artes dignas do seu nacimento. Declarada a guerra entre esta Coroa, e a de Castella no anno de 1704 levantou á sua custa hum Terço de que foy Mestre de Campo com o qual obrou açoens merecedoras de eterna memoria, naõ alcançando menor gloria o seu valor, e sciencia militar nas expugnaçoens de Valença de Alcantara, e Albuquerque ganhadas no anno de 1705. Querendo a Magestade delRey D. Joaõ V. mandar a Roma hum Embaxador, que dignamente reprezentasse a sua pessoa o nomeou para taõ augusta incumbencia em que dezempenhou o conceito, que se formava da sua capacidade manejando os negocios mais importantes com igual satisfaçaõ do seu Soberano, como da Santidade de Clemente XI. que neste tempo ocupava o solio do Vaticano; devendo-se á sua grande actividade que as Armas Portuguezas em duas expediçoens navaes libertassem Italia da opressaõ a que a tinha reduzida a potencia Ottomana. Restituido a Portugal em 9 de Abril de 1718, ocupou o lugar de Vedor da Fazenda, em cujo ministerio se viraõ expedidos poderosos socorros para Asia, e America, defendidas as costas de Portugal dos insultos dos barbaros, e o Erario acrecentado com a moeda gravada nella a augusta Imagem do nosso Monarca. Na instituiçaõ da Academia Real da Historia Portugueza, foy hum dos seus primeiros Censores, onde arrebatou a attençaõ dos seus Collegas nas Oraçoens eloquentes, Dissertaçoens eruditas, e investigaçoens laboriosas, onde a pureza do estylo competia com a profundidade do discurso. Para nunca estar ocioso o seu grande talento em obsequio da Monarchia passou o anno de 1729 a Madrid com o caracter de Embaixador Extraordinario a tratar as recipracas allianças dos dous Monarcas, que entre si repartem o dominio da vasta peninsula de Hespanha, e concluida esta negociaçaõ com igual gloria de ambas as Monarchias lhe ornou o peito a Magestade Catholica de Filippe V. com o habito do Tusaõ de ouro, que fora instituido em Borgonha por outro Filippe em os desposorios de outra Infanta Portugueza. Teve grande intelligencia das lingoas Franceza, e Italiana, como da Historia Grega, Romana, e moderna, das Colonias, Familias, e Municipios Romanos com todas as mudanças que fez a Geografia. Decifrava nas inscripçoes, e Medalhas os Jeroglyficos, os symbolos, as figuras, e letras iniciaes com que se faz menos perceptivel a sua intelligencia. Naõ ignorou as subtilezas da Filosofia antiga, e as experiencias da moderna. Soube profundamente a Geometria, principalmente naquella parte que pertence á Architectura civil, e militar sendo as plantas que desenhava perfeitas, e as Praças que delineava regulares. Conhecia como professor da Arte da Pintura as escolas de Italia, e Flandes distinguindo com perspicacia as Copias dos Originaes. Ornado de taõ excellentes dotes lhe suspendeo a morte com repentino golpe em a Villa de Abrantes o progresso da vida digna de mais larga duraçaõ a 30 de Abril de 1733, quando contava 56 annos 7 mezes, e 10 dias de idade. Casou em 4 de Outubro de 1690 com D. Isabel de Lorena, filha do Duque do Cadaval D. Nuno Alvares Pereira de Mello, e de sua segunda mulher D. Maria Angelica Henriqueta Catherina de Lorena, filha de Francisco de Lorena Conde de Harcourt, de quem  teve a D. Anna de Lorena Camereira mór da Princeza do Brasil, que casou com seu Tio D. Rodrigo de Mello, filho terceiro do Duque do Cadaval: D. Joaquim Francisco de Sá Almeida e Menezes, IV. Marquez de Fontes, II. de Abrantes, e VIII. Conde de Penaguiaõ Gentil-homem da Camera delRey D. Joaõ V. Deputado da Junta dos Tres Estados, e Védor da Fazenda da repartiçaõ da Marinha, o qual casando em o 1 de Dezembro de 1711 com sua Tia materna D. Filippa de Lorena por morrer a 29 de Outubro de 1713 sem sucessaõ passou a segundas vodas a 22 de Dezembro de 1726 com sua sobrinha D. Maria Margarida de Lorena, filha de D. Rodrigo de Mello, e D. Anna de Lorena sua irmãa, de quem até o tempo presente naõ tem descendencia: D. Maria Sofia de Lencastre, que se desposou com D. Pedro de Lencastre V. Conde de Villa-Nova, Deputado da Junta dos Tres Estados, e Védor da Fazenda: D. Luiza Maria de Faro, que morreo de tenra idade a 16 de Dezembro de 1697. Na Academia Real lhe recitou o Panegyrico funebre o Illustrissimo e Excellentissimo Conde da Ericeira D. Francisco Xavier de Menezes, com aquella elegancia propria do seu sublime talento. Faz honorifica memoria do seu Nome o Padre D. Antonio Caetano de Sousa Aparat. á Hist. Gen. da Cas. Real Portug. p. 163. §. 200. e no Tom. 10. desta Hist. p. 386. e nas Mem. Hist. e Gen. dos Grand. de Portug. p. 45. Compoz

Discurso na presença de Suas Magestades e Altezas hindo a Academia ao Paço em 22 de Outubro de 1721 dia em que se celebraõ os annos delRey N. S. Sahio impresso no 1. Tom. da Collec. dos Docum. da Academ. Real. Lisboa por Pascoal da Sylva. 1721. fol. No mesmo dia fez segundo Discurso, em que dava conta do progresso dos seus estudos sahindo com a primeira Medalha que a Academia offerecia ao seu Real Protector em que estava gravado o rosto delRey com esta letra pela circunferencia Joannes V. Lusitanorum Rex, e no reverso a figura de Sua Magestade vestida da opa Real dando a maõ á Historia postrada a seus pés com esta letra Historia resurges, e na parte inferior. Regia Academia Historiae Lusitanae instituta vi. Idus Decembris ci k i k ccxx.

Declaraçaõ que fez sendo Director da Academia Real da Historia Portugueza na Conferencia de 18 de Março de 1721 de estar eleito com aprovaçaõ de Sua Magestade o Conde de Assumar D. Joaõ de Almeida no lugar que vagou, por morte de Julio de Mello de Castro. Sahio no dito Tom. 1. da Collec. dos Docum.

Declaraçaõ na Conferencia de 7 de Janeiro de 1723 de estar eleito Academico com aprovaçaõ de S. Magestade o Marquez, de Valença no lugar que vagou por morte do Conde de Monsanto. Sahio no Tom. 3. da Collec. dos Docum. Lisboa por Pascoal da Sylva 1723. fol.

Oraçaõ sendo Director da Academia Real na 1. Conferencia do seu quarto anno em 23 de Dezembro de 1723. Sahio no Tom. 4. da Collec. Ibi pelo dito Impressor 1724. fol.

Declaraçaõ na Conferencia de 25 de Janeiro de 1725 de estar eleito Academico Nuno da Sylva Telles. Sahio no Tom. 5. da Collec. ibi pelo dito Impressor 1725. fol.

Declaraçaõ feita á Academia em 2 de Mayo de 1726 da resoluçaõ que se tomara do modo como se havia escrever a prégaçaõ de Saõ-Tiago a Hespanha. No Tom. 6. da Collec. ibi por Jozé Antonio da Sylva 1726 fol.

Conta dos seus estudos Academicos recitada na Academia a 23 de Mayo de 1731. No Tom. 11. da Collec. ibi pelo dito Impressor 1731. fol.

Oraçaõ recitada no Paço a 29 de Outubro de 1731 celebrando-se os annos de S. Magestade. Ibi no dito Tom. 11. da Collec.

Oraçaõ na ultima Conferencia do decimo segundo anno da instituiçaõ da Academia Real em 9 de Dezembro de 1732. No Tom. 11. da Collec. Oraçaõ na primeira Conferencia da Academia Real do seu decimo terceiro anno em 8 de Janeiro de 1733. No Tom. 12. da Collec. ibi pelo dito Impressor 1733. fol.

Manifesto offerecido ao Santissimo Padre Clemente XI, sendo Embaixador em Roma acerca do Padroado da China. Escrito na lingoa Italiana em folha Naõ tem anno, nem lugar da ediçaõ sendo certamente em Roma. Consta de 75 paginas onde se admira a vasta noticia da Historia Ecclesiastica da China, e Japaõ em que era eminente seu Excellentissimo Author.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]