D. Adelia Josephina de Castro Fonseca É natural da capital da provincia da Bahia, filha de Justiniano de Castro Rebello e de dona Adriana de Castro Rebello, e casada com o chefe de divisão Ignacio Joaquim da Fonseca.

De uma educação primorada, cultora mimosa da poesia desde seus mais verdes annos, qualquer de suas composições denuncia um dos bellos dotes de seu espirito, como por exemplo a que tem por titulo Ao meu coração, dirigida ao espozo, em cuja imagem, na auzencia, se espelha sua mente. Eis a poesia :

“Porque estás tão apressado,

Coração, a palpitar

Queres, deixando meu peito,

Por esses ares vôar

Queres de meu pensamento

A carreira acompanhar?

 

Queres, misero insensato,

Este desejo cumprir

Intentas da fantazia

Os amplos vôos seguir

Buscas, vencendo a distancia,

Tua saudade extinguir?…

 

Esta saudade tão funda,

Tão viva, tão pertinaz,

Que ta faz tão desgraçado,

Que tão ditozo te faz?

Que tanto te amarga ás vezes,

Que ás vezes tanto te apraz?

 

Pretendes tu, pobre louco,

Tuas dôres augmeutal?

Desejas ao lado – d’Elle –

martyrios te fartar?

Queres nos olhos, que adoras,

Mais desenganos buscar?

 

Si ao excesso do tormento

Tivesses de succumbir,

Quem tanto havia de amal-o,

Deixando tu de existir?

Quem ousaria comtigo

Em firmeza competir?

 

E elle, onde poderia

Tão soberano reinar?

Onde iria sua imagem

Obter tão devoto altar,

E tão desvelado culto,

Tão fervoroso – encontrar?

 

Deixa ir só meu pensamento

De seus vôos na amplidão.

Quem sabe, si ao lado d’outra

O acharás coração?…

Morre embora de saudade ;

Porém de ciume… não!!”

Dona Adelia escreveu:

– Echos de minha alma. Bahia, 1865, in – 8º – É uma collecção de seus primeiros versos. Este livro foi-me levado de minha estante, mas delle ficaram-me deslocadas duas folhas, donde transcrevi a poesia acima.

Collaboradora constante do Almanah de lembranças luzo-brazileiro, seus escriptos tem ahi logar distincto. Entre taes escriptos alli se acham:

– A aurora brazileira: poesia em decimas rimadas, que vem no almanak  para o anno de 1860, pag. 379, reimpressa no do anno seguinte, pag. 342, e tambem no volume Echos de minha alma. É uma primorosa composição, a proposito de outra de um distincto poeta portuguez, cantando a aurora de seu paiz, á qual antepõe a autora as bellezas da aurora do Brazil.

 

[Augusto Victorino Alves Sacramento Blake, Diccionario Bibliografico Brazileiro, vol. 1]