Sor. VIOLANTE DO CEO. Naceo em Lisboa a 30 de Mayo de 1601, onde teve por Pays a Manoel da Sylveira Montezino, e Helena Franca. Os singulares dotes de que prodiga a natureza, e liberal a graça a ornaraõ, foraõ suaves atractivos para que diversas pessoas distinctas humas pela qualidade do nascimento, e outras pela profundidade da sciencia a pertendessem para esposa, porém desprezando as delicias humanas, e anhelando sómente as divinas, celebrou os seus desposorios com o Cordeiro immaculado em o Convento de N. Senhora da Rosa da Ordem do grande Patriarca S. Domingos, professando o seu sagrado instituto a 29 de Agosto de 1630, quando contava a idade de 29 annos. Desde a adolescencia cultivou com tanta discripçaõ, e elegancia a Poezia, que certamente foy nella mais natureza do que arte o enthusiasmo da sua metrificaçaõ. Deste antecipado furor deu hum irrefragavel testemunho na Comedia de S. Engracia, que compoz na tenra idade de 18 annos, da qual teve por expectador a Filippe III. quando veyo a Portugal no anno de 1619. Nunca contaminou a sua idéa com assumpto, que naõ fosse decente ao estado que professava elegendo os sagrados, e heroicos, onde o seu agudo engenho sempre sahio victorioso em diversos Certames, confessandolhe a primazia os mais celebres Corifeos de Arte Poetica, ou fosse pela elegancia das vozes, ou pela ternura dos affectos de que se ornavaõ as suas metrificaçoens. Naõ teve menor felicidade em tanger harpa, acompanhando a melodia da voz com a destreza do toque com que suavemente arrebatava pelos ouvidos as attençoens de todos. Entre o exercicio destes excellentes dotes naõ deixava instante vago que naõ ocupasse na observancia do seu instituto em que servia de exemplar estimulo ás suas companheiras, até que chegando o dia 28 de Janeiro de 1693 á huma hora depois da meya noite expirou quasi repentinamente, mas sempre preparada para taõ formidavel instante, quando contava a provecta idade de 92 annos, e 63 de religiosa. Os elogios com que celebraõ o seu nome os mais celebres Escritores sendo grandes saõ inferiores ao seu merecimento. Ant. de Sousa de Maced. Eva e Ave Part. 1. cap. 26. n. 10. Insigne no poetizar nas linguas Portugueza, e Castelhana que com admiravel espirito illustrou sua Patria, e o engenho das mulheres, e n. 13. excellente Poeta. E nas Flor. de Esp. Excel. 18. Con el grande ingenio con que haze Comedias, y otras obras admirables en verso va dando a Portugal nuevas alabanças. D. Leonard. de S. Jozé Aguia de Portugal, e Decima Musa de Espanha. Antonio Henriques Gomes Alma de las Musas. Froes Perim Theatr. Heroin. Tom. 2. p. 449. Sor Violante do Ceo mais por engenho, que por sobre nome, porque dos primeiros annos se admirou prodigio da elegancia, milagre da discriçaõ, e Poezia. Joan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter. lit. V. n. 13. magna comendatione, & aestimatione digna, falla das suas obras. Monteiro Claust. Dom. Tom. 3. pag. 326. Foy religiosa muy observante, de grande engenho, e na Poezia singular. Fr. Lucas de S. Cather. Hist. de S. Dom. da Prov. de Portug. Part. 4. lib. 2. cap. 29. e a p. 944. versada singularmente na Arte da Poezia. Fr. Francisco da Natividade Lenit. da dor. p. 310. n. 308. Foy celebre pelas admiraveis obras que compoz. D. Francisco Manoel Cart. 1. da Cent. 4. das suas Cartas. Sor Violante do Ceo, muito em tudo do seu apelido, por juizo, e virtudes. Franco Bib. Portug. M. S. hum dos mais admiraveis sujeitos que viraõ estes seculos, e admiraraõ os antigos. A estes elogios historicos correspondem os metricos. Manoel de Faria e Sousa Fuent. de Aganip. Part. 1. Cent. 4. Sonet. 41.

 

Viendo Apollo una estancia bien copiosa

De puras flores de tu propria suerte,

Yo bien quiziera (dixo al verte)

Viola antes que lirio, antes que Rosa.

 

Y enti de la elecion mas cuidadosa

A la Rosa gustoso se convierte

Queriendo antes quererla, que quererte

Por màs, que de tu nombre flor hermosa.

 

Tu diste al Cielo intacta Violeta,

Y el Author de la gracia màs difusa

Un Cielo de Rosa igual te aceta:

 

Bien pues por ti rozados cielos usa,

Porque por fruto proprio el gran Planeta

Puso en la mejor flor la mejor Musa.

 

Antonio Figueira Duraõ. Laur. Parnas. Ram. 2.

Tu ne es, quae suaves violas Violantis anhelat !

Quam dicunt decimam Castalii esse chori.

Phaebus te decimã apellari non feret usquã,

Nam nona ut fieres deperit Uranie.

 

Jacinto Cordeiro Elog. dos Poet. Lusit.

Aqui Feniz reservo una Sirena

Cuya voz celestial, cuya armonia

Muchos laureles a su plama ordena

Devidos por razon, nò en cortesia:

Que es Violante Deidad, cuya Camena

A valientes ingenios desafia,

Con tanta admiracion que alçando el buelo

Las letras hurta del insigne abuelo.

 

Compoz

Rimas varias. Ruan por Maurry 1646. 8. Sahiraõ por diligencia de Miguel  Botelho de Carvalho assistente em Casa do Marquez de Niza Embaixador de França, e a elle as dedicou.

Dous Sonetos, e sinco Decimas Castelhanas á morte da Senhora D. Maria de Attaide. Sahiraõ nas Mem. Funeb. desta Senhora. Lisboa na Officina Crasbeeckiana . 1650. 4.

Romance a Christo Crucificado. Sahio em o livro intitulado, Avisos para la muerte. ibi por Domingos Carneiro 1659. 12. e nas Medit. de S. Brigid. ibi por Joaõ da Costa. 1668. 12. & ibi por Diogo Soares de Bulhaõ 1670. 12. & ibi por Antonio Rodrigues de Abreu. 1674. 12. & ibi por Domingos Carneiro 1683. 16. & ibi por Bernardo da Costa 1691. 12.

Soliloquio ao SS. Sacramento. Romance. Sahio no Rosario do SS. Sacramento , composto por Fr. Francisco Falconi. Lisboa por Domingos Carneiro 1662. 12.

Soliloquios para antes, e depois da Comunhaõ. Constaõ de cinco Romances. Lisboa por Joaõ da Costa 1668. 24. & ibi por Antonio Rodrigues de Abreu 1674. 12. Esta obra (diz Fr. Jozé da Natividade Agiolog. Domin. Tom. p. 285.) com mais espirito que corpo, e com mais sustancia, que vulto, sendo ainda hoje o melhor thelogo da elegancia, e espirito se lhe deve mais duravel pagina para descrevello, que a que a antiguidade consagrou ás suas historias.

Glosa ao quarteto Magdalena a quem a morte feito ao Certame que se celebrou á Canonizaçaõ de S. Maria Magdalena de Pazi, e levou premio. Sahio no Forast. Admirado Part. 3. p. 62. Lisboa por Antonio Rodrigues de Abreu 1674. fol.

Meditaçoens da Missa, e preparaçoens affectuosas de huma alma devota, e agradecida á vista das finezas do Amor Divino contempladas no Sacro-santo sacrificio da Missa, e memoria da sagrada Paixaõ de Christo Senhor nosso, com estimulos para o Amor Divino. Lisboa 1689. 16. Naõ tem nome do Impressor, & ibi por Bernardo da Costa. 1728. 16.

As Meditaçoens saõ compostas em 8. rima, e os Soliloquios saõ Romances.

Parnaso Lusitano de divinos, e humanos versos. Tom. 1. Lisboa por Miguel Rodrigues Impressor do Senhor Patriarca 1733. 8.

Tom. 2. ibi pelo dito Impressor. 1733. 8. He huma Colleçaõ de diversos metros divinos, e alguns humanos a differentes assumptos, onde se admira a suavidade, e discripçaõ da Authora com que poetizava.

 

 [Bibliotheca Lusitana, vol. III]