LAYMUNDO ORTEGA natural da Cidade de Beja da Provincia Transtagana Capellaõ, e Confessor del Rey D. Rodrigo em cuja pessoa com eterno escandalo da sua memoria se extinguio a Monarchia Gothica, escreveo no anno de Christo de 878. a obra seguinte:

De Antiquitatibus Lusitaniae.

Principia Lusitaniae initium; e acaba. Lusitaniae gentes sub Mauris annis plurimis quievere. Passada a larga diuturnidade de outo seculos em que se diz fora escrita esta obra, a descubrio o eruditissimo Fr. Bernardo de Brito, Chronista mor do Reyno em o Archivo do Real Convento de Alcobaça do qual era benemerito filho, como ingenuamente confessa no Prologo da 1. Part. da Monarch. Lusit. por estas palavras. Descubri huma notavel antigualha entre outras, que minha deligencia, e trabalho tiraraõ das maõs do esquecimento, que foy hum livro antiquissimo escrito de letra Gothica em pergaminho grosso, e mal pullido composto por hum Portuguez chamado Laymundo Ortega; o instituto do qual he descobrir antiguidades da Lusitania, e trazer com muita chaneza a verdade das cousas, que pode alcançar no tempo em que vivia. Para estabelecer a verdade da existencia desta obra, e constar, que a invençaõ della naõ fora seu invento a corroborou com duas publicas atestaçoens impressas ao principio do 1. Tom. da Mon. Lusit. sendo a primeira do Licenciado Jeronymo do Souto Ouvidor da Comarca, e Correiçaõ dos Coutos de Alcobaça feita a 10. de Setembro de 1595. e a segunda do Reverendissimo P. Fr. Francisco de S. Clara Abbade Geral do Real Convento de Alcobaça em 13. de Julho de 1596. e de ambas consta, que a obra de Laymundo existia no Archivo do Convento de Alcobaça escrita em pergaminho com caracteres Gothicos, encadernada em taboas cubertas de pelle branca de vaca, e chapeadas de lataõ. Com estas duas atestaçoens concordaõ o Illustrissimo Bispo de Portalegre D. Fr. Amador Arraes Dialog. 4. fol. 115. e o insigne Fr. Francisco de Santo Agostinho Macedo Respons. ad Not. in Apolog. P. Mazae pro Joan. Annio Viterb. pag. 41. testemunhando que examinara com seus olhos a Obra de Laymundo em o Real Convento de Alcobaça donde se convencia a indiscreta temeridade, e cega petulancia de alguns emulos de Fr. Bernardo de Brito querendo que elle fosse o inventor desta obra. In Lusitania nostra nobilis quidam fuit Regum Chronologus monachus Cisterciensis dictus Bernardus Brito. Hic multa in suis libris retulit cuiusdam Scriptoris antiquissimi (Laymundum apellabant) quae quia inaudita antea fuerunt, & auctor ignotus, putabantur vulgo commenta, idaque multi Brito cum sanna exprobabant, quasi ille auctorem illum confinxisset. Quin etiam contra scripserunt nonnulli eruditi (destes foy hum Diogo de Payua de Andrade Exame de Antiguidades. Part. 1. Trat. 2.) Pupugit hoc dictum quemdam ejusdem instituti monachum (Fr. Bernardino da Silva Defensa da Monarchia Lusitana. Part. I. cap. 2.) qui honorem, & fidem Briti scripta quadam apologia vindicavit, probavitque Laymundum inveniri manuscriptum in Regia Bibliotheca insignis Conventus Alcobaciae, ubi ego eum ipsemet vidi quem etiam reddiderant ambiguum illae cavillationes Criticorum, ac exinde didici minus temere de Scriptoribus judicare. Nicolao Antonio Bib. Vet. Hispan. lib. 6. c. 4. posto que naõ duvide da existencia da obra de Laymundo em o Archivo do Real Convento de Alcobaça fundado na atestaçaõ de Fr. Antonio Brandaõ Monge Cisterciense, e Chronista mor do Reyno se empenha a arguilla no severo Tribunal da sua critica com diversos fundamentos expendidos em os §. 78. 80. 81. 83. e 84. dos quaes se mostra naõ ser escrita no reynado dos Godos mas por Author muito posterior a este tempo afectando ser coevo do Imperio Gothico para conciliar mayor authoridade á sua narraçaõ. Reconheço a eficacia dos argumentos cõ que Niculao Antonio critica a Laymundo, mas como confessa que existia no Archivo de Alcobaça, sempre permanece illesa a fé com que se valeo desta obra Fr. Bernardo de Brito ainda que conheça varias implicancias que a fazem menos verdadeira. Além dos Authores que fallaraõ de Laymundo se lembraõ delle Joan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter. Lit. L. n. 7. Rodrig. Mend. Silv. Poblac. Gen. de Esp. fol. 25. e Cathalog. Real de Esp. p. 36. Diogo de Gouvea Barradas Antig. de Beja liv. 2. cap. 23. e Fr. Ant. da Purif. De Vir. illustr. Ord. D. Aug. lib. 3. cap. 8. e Chron. da Prov. de Santo Agost. de Port. Part. 1. liv. 3. Tit. 4. §. 8. o qual lhe vestio o seu habito Erimitico em o Convento Cauleniano celebre archivo de fabulas monasticas de que era fecundissima a sua idea.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]